Alfabetização e Letramento
Alfabetização e letramento
Com a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, com o ingresso do aluno a partir dos seis anos de idade, o Parecer CNE/CEB no 6/05 aponta que escolas e educadores assumam o compromisso de redimensionar a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, pois o antigo terceiro período da pré-escola não pode ser confundido com o atual primeiro ano. Embora este assuma as especificidades inerentes ao contexto educacional da criança/estudante neste ano de escolaridade e ainda as remanescentes da Educação Infantil, tem um caráter eminentemente alfabetizador. Nos dois anos iniciais do Ensino Fundamental, as redes de ensino devem assegurar a complexidade do processo de alfabetização, o letramento e o desenvolvimento de diferentes formas de expressão, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, da Literatura, da Música, da Arte, da Educação Física, assim como o aprendizado da Matemática, de Ciências, de História e de Geografia, e ainda dar conta dos desafios para que a passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade aconteça sem defasagens de aprendizagem.
Tanto as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN, 2013) como a BNCC apontam que: respeitadas as marcas singulares antropoculturais que as crianças de diferentes contextos adquirem, os objetivos da formação básica, definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamental, de tal modo que os aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social sejam priorizados na sua formação, complementando a ação da família e da comunidade e, ao mesmo tempo, ampliando e intensificando, gradativamente, o processo educativo com qualidade social. Nesta concepção, é preciso ainda garantir que a passagem da pré-escola para o Ensino Fundamental respeite os conhecimentos que a criança adquiriu em sala de aula ou no ambiente familiar e social no qual está inserida. Do mesmo modo, é preciso que o processo de alfabetização e letramento, com o qual a criança/estudante passa a estar mais sistematicamente envolvida, não sofra interrupção ao final dos dois anos iniciais do Ensino Fundamental.
Cada criança tem seu tempo de desenvolvimento, algumas em pouco tempo de estimulação e mediação estão alfabetizadas, mas outras necessitam de um tempo maior. O professor alfabetizador como mediador no processo de apreensão da leitura e da escrita deve estar atento e deve buscar estratégias para que a consolidação das aprendizagens seja alcançada. Além do tempo necessário para se desenvolver, próprio de cada criança, o convívio desta em ambientes, seja na escola ou na família, onde o uso social da leitura e da escrita acontece em maior ou menor proporção, e a forma como esta criança interage neste uso, possibilitarão uma melhor e mais rápida aprendizagem destas habilidades.
É oportuno observar que até mesmo entre crianças inseridas em ambientes onde o uso social da leitura e escrita é intenso, estas podem levar um tempo maior para consolidar suas aprendizagens. Cabe, nestes casos, o acompanhamento das equipes especializadas em busca da superação das dificuldades para que o processo ocorra, pois nestes dois primeiros anos a ação pedagógica tem enfoque na alfabetização, oportunizando que a criança/estudante se aproprie do sistema de escrita para que de modo articulado desenvolva as habilidades de leitura e escrita e faça uso destas com propriedade em práticas diversificadas de letramento. Gontijo (2002) aponta a alfabetização como um processo sócio-histórico e cultural que se dá conta das necessidades de a criança/estudante inserir-se na relação entre apropriação e objetivação. Segundo a autora, a alfabetização é um processo voltado para a introdução de indivíduos na continuidade da história.
Soares (2001) reforça tal perspectiva ao afirmar que para formar indivíduos letrados é preciso alfabetizar, mas que não basta apenas ler e escrever; é necessário que façam uso da leitura e da escrita dentro de uma função social, atendendo o que é indicado pela sociedade. Cabe assim às instituições escolares desenvolver o processo de letramento, desde a Educação Infantil e ao longo de todos os anos de escolarização, para que os indivíduos desenvolvam a capacidade e a habilidade de utilizar a leitura e a escrita durante sua vida escolar e futuramente na vida profissional e social.
Portanto, ambos os processos são essenciais para a aprendizagem. Sem saber decodificar os textos, a criança não consegue lê-los. Sem saber dos seus sentidos e usos, a leitura é vazia, pois não garante a compreensão – cultural, social, histórica, científica, intencional – da escrita. Logo, o ideal é alfabetizar e letrar ao mesmo tempo. Quando chegam à escola, as crianças são detentoras de muitos conhecimentos, tanto por já fazerem uso da linguagem oral como por já terem contato com a língua escrita além do conhecimento adquirido em decorrência de suas vivências e experiências. Ao chegarem nos anos iniciais do Ensino Fundamental, trazem ainda uma gama de conhecimentos adquiridos no seu percurso na Educação Infantil. Por esta razão, o professor alfabetizador, além de compreender e dominar o processo de aprendizagem da língua escrita, necessita também compreender como a criança/estudante se apropria do conhecimento para aprender a ler e a escrever e assim mediar a construção do conhecimento conceitual: escrita como código de transcrição e como representação gráfica da linguagem e a leitura como agrupamento de letras do alfabeto que formam palavras e também como interpretação e compreensão do que foi lido, sejam textos ou gravuras. A criança/estudante para se alfabetizar necessita interagir com outras pessoas, ter contato com diferentes textos de diferentes gêneros, experienciar a escrita em diferentes contextos, inclusive produzindo os próprios textos, mesmo que ainda não domine a grafia. Portanto, a leitura e a escrita devem ser compreendidas e aprendidas nos anos iniciais e continuada nos diferentes graus e modalidades do ensino.
Ferreiro e Taberosky (1999:71-72) reforçam este entendimento quando diz que: as situações didáticas propostas em sala de aula devem estar voltadas para que o aprendiz reflita sobre o sistema alfabético de escrita e a correspondência fonográfica. Essas situações devem proporcionar ao aluno a leitura e a escrita, mesmo que a criança ainda desconheça a maneira convencional.
Assim, as instituições de ensino necessitam focar no processo de alfabetização, estimular a criança/ estudante a fazer a relação entre o que escreve e o que lê para que desenvolva estas habilidades e chegue ao terceiro ano do Ensino Fundamental com condições de apreender os conhecimentos inerentes à sua faixa etária.
Para melhor assimilação, a prática da leitura na sala de aula deve ser cotidiana e deve priorizar situações em que a criança/estudante tenha acesso a diferentes modalidades textuais e seja estimulada a compreender a função destes textos e o que os constitui. Além disso, deve ocorrer a estimulação para que aconteça a interação entre as informações trazidas pelo texto com as informações que o leitor já tem, a partir das experiências e leituras feitas anteriormente.
Pois, segundo Moreira (1994:15), nos atos de leitura estão sempre presentes dois elementos observáveis: a pessoa que lê e o objeto lido. A presença dos dois, entretanto, não basta para assegurar que um ato de leitura esteja sendo efetivado. É necessário que a pessoa atue de determinada maneira sobre o objeto para que sinais externos de realização do ato sejam captados como intensificadores do processo de leitura. (...) é também necessário que o objeto com o qual o leitor interage seja intensificado como algo que pode ser lido ou algo que serve para ler.
A prática da leitura necessita ser enfocada com prazer e alegria, não apenas como via para obtenção de conteúdo, mas como fonte de lazer e entretenimento para que o hábito de ler esteja presente na vida cotidiana do indivíduo. Se a formação do leitor se inicia desde que começa a fazer uso da linguagem, ela se intensifica no período em que a leitura e escrita são objetos centrais da prática educativa e se estende por toda a sua existência. O ato de ler deve ser um ato de busca por mais conhecimento, mas também um ato de deleite.
Alfabetização e letramento, segundo Carvalho (2009), são movimentos distintos, porém, interligados; um acontece no momento em que a criança/estudante descobre a leitura e a escrita e o outro quando esta aprende com e sobre a língua. Tal processo acontece, acompanha e ultrapassa o movimento da alfabetização.
Coadunando com esta concepção de Carvalho, Soares (2003) afirma que é possível alfabetizar letrando. Ensinar a criança/estudante a ler, conhecer os sons que as letras representam e, ao mesmo tempo, familiarizar esta criança/estudante com os diversos usos sociais da leitura e escrita. Para ambas, o que deve estar claro é que alfabetizar e letrar são processos distintos.
O currículo do território maranhense aponta para a necessidade de que as práticas de alfabetização aconteçam em conjunto com a perspectiva do letramento e, para isso, apoiem-se na concepção de Soares (2001), que afirma que alfabetizar e letrar, concomitantemente, implica atingir diferentes objetivos e ampliar conhecimentos de forma que possa imergir no imaginário, no estético, divertindo-se e orientando-se, como também tendo atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita. Nesta perspectiva, busca-se formar indivíduos que se apropriem da leitura e da escrita e a utilizem com desenvoltura, fazendo uso da aprendizagem de conhecimentos socialmente necessários.