EDUCAÇÃO INTEGRAL OU REFINADA?
Educação integral ou refinada?
Pergunta-se se a escola de tempo integral no Brasil cumpre com a promoção educacional. Porém, antes disso, deve-se indagar se a escola de meio período já respondia de fato à demanda a ela atribuída. A julgarmos pelo modelo que se assemelha ao século XVI (Ratio Studiorum), é de se pensar que não, visto que ainda há um número considerável de estudantes que anualmente evadem as instituições de ensino. Não obstante refletirmos acerca disso, ainda convém ponderarmos sobre como são conduzidos aqueles que permanecem nas escolas. Eles realmente saem preparados para o mercado de trabalho? Tornam-se cidadãos críticos? Não é uma resposta fácil de ser dada, tampouco se resume aos monossílabos “sim” ou “não”.
Devemos considerar as diversas realidades sociais, a dimensão continental que o Brasil possui e o modo como os projetos político-pedagógicos são organizados. Ademais, é visível que o governo não tem um plano educacional que seja efetivamente capaz de reduzir as desigualdades sociais. Infelizmente, a mobilidade social ocorrida pela educação não traz tantos resultados quanto gostaríamos. Todavia, nos parece que não há forma mais sólida para que isso ocorra. Percebe-se uma diferença abissal entre a escola pública e a privada, fato que ficou ainda mais explícito com a pandemia do coronavírus, em que, mesmo após mais de um ano do seu início, as escolas públicas permaneciam fechadas enquanto as particulares estavam em funcionamento há um considerável tempo.
Assim, é compreensível que a escola de tempo integral pode funcionar para aqueles que têm uma estrutura familiar e econômica que os permitam passar o período na instituição, mas grande parte não adere ao modelo por ter que auxiliar em atividades domésticas e/ou na fonte de renda de sua família.
No entanto, ao se pensar na escola integral, é preciso destacar que o adjetivo atrelado não indica apenas o caráter do tempo, mas também o fato de que o pretendido é dar maior carga de responsabilidade à instituição, o que implica abarcar, além da instrução escolar, a educação física e moral, reforçando o caráter cidadão, a difusão cultural e a sociabilidade.
Para tanto, é preciso que seja considerada a heterogeneidade de cada turma, pois cada qual dispõe de níveis de aprendizagem distintos, sobretudo em escolas públicas. Por esse prisma, vê-se que as práticas escolares devem fomentar a diversidade, mas de modo que não seja instrumento de diferenciação que alcance a exclusão. O que se propõe é democratizar o acesso à escola.
Reforça-se a reflexão acerca do cenário da escola pública para a necessidade de enxergarmos essa realidade na qual encontramos crianças e adultos assustados diante de um projeto pouco claro de educação popular, com diferenças constituintes, evidenciando uma desordem que almejam negar, haja vista a situação de abandono que está a Educação de Jovens e Adultos (EJA), em vários estados brasileiros, em que a evasão escolar se tornou regra e, mesmo para aqueles que permanecem, há poucas perspectivas. O que na maior parte das vezes é observado é apenas a espera pelo diploma, sem se importar com o mérito de tê-lo, visto que a ausência é muito maior que a presença e o desinteresse predomina sobre a real vontade de saber-conhecer.
Sei que a realidade é bem mais complexa e não cabe nesse texto.
E sei também que cabe à escola, aos pais, à gestão e ao Estado criar condições de permanência dos alunos na escola, de modo que o cotidiano escolar seja marcado por inclusão, inibindo a pedagogia do silenciamento, na qual realidades são mascaradas, e o direito de fala do aluno é desconsiderado.
Isso só será possível através da promoção da alteridade, quando considerarmos os alunos como sujeitos-agentes do processo educativo, como bem sabemos que assim deve ser. Essa é a forma como acredito que a mobilidade, a melhoria social será feita: pela educação. Desse modo, contribuindo para edificar uma nação mais emancipada e emancipadora, eis uma pedagogia para a autonomia.
• Leo Barbosa é professor, escritor, poeta e revisor de textos.
(Texto publicado em A União em 30/06/2023)