A Cultura do Fracasso Escolar e o Racismo que Reprova.

A escola é um dos caminhos para a educação no Brasil, é o lócus de aprendizagens diversas, iniciando com o pré escolar onde a criança começa um processo de sociabilidade, descoberta do novo, disciplina de horários, viver com diferentes coleguinhas de cores, gênero, religião, tipos de famílias, em fim.

Talvez seja nesse período que a criança começa a imaginar o que é estudar numa escola, e é a partir dessa pequena infância que a criança desenvolve o processo de aprender o que é ético, moral, belo, correto, aprendendo com sua professora ou professor, (muitas vezes ou na maioria delas tratando como “A TIA” o “TIO”), ouvindo falas e discursos na sala de aula que irá fazer diferença para o resto da vida daquele estudante mirim.

É o início da vida escolar do futuro cidadão da futura cidadã.

Após essa fase a pessoa estudante progride para uma outra em que se inicia o processo de ser aprovada ou reprovada na escola, daí dependendo de como deu-se o passo inicial dessa pessoa introduzida na educação formal o fracasso ou o sucesso será o diploma final da pessoa.

Vários fatores, práticas pedagógicas e concepções de mundo, linguagem, educação serão determinantes no fracasso ou sucesso daquela pessoa estudante, dentre eles posso citar visões de mundo a partir do eurocentrismo e de como se deu a construção do Brasil privilegiando brancos e renegando negros, ( não se pode esquecer que os negros no Brasil não tinham direito à educação formal e que essa inclusão só chega muito tempo depois da abolição, embora tenham-se registros de negros que estudaram antes, mas algo muito reduzido).

O Brasil é formado em sua maioria por seres humanos negros que correspondem aos pretos e pardos, no entanto a educação continua branca com visão de mundo branca, onde tudo o que é bom, sadio, limpo, aprovável precisa ser de origem europeia branca.

A partir dessa ideia inicia-se o fracasso escolar das pessoas negras e a reprovação no boletim é o diploma determinante para que elas ocupem o "lugar menor" na sociedade, consolidando o racismo que até hoje impera na estrutura da sociedade.

A UNICEF, em parceria com o Instituto Claro e CENPEC Educação, publicou um material no site Trajetórias de Sucesso Escolar (trajetoriaescolar.org.br) um material que trata do fracasso escolar aprofundado pela Pandemia da Covid 19 e revela dentre outros, quais estudantes sofreram mais com o fracasso escolar, dentre esses estão negros e indígenas, esse estudo serve para reforçar o que nós pessoas negras militantes, ativistas e pesquisadores sempre afirmamos: O fracasso escolar no Brasil também tem cor, tem raça. E como fazer para mudar essa História?

É fato comprobatório que estudantes negros concentrados na maioria em escola pública estadual ou municipal, que vivem as culturas de seus ancestrais africanos trazidos ao Brasil como escravos, ou possuam a cor de pele mais preta, cabelos crespos e biotipo negroide sejam os mais afetados com essa cultura do fracasso escolar.

O racismo estrutural presente nas práticas pedagógicas, em concepções de mundo de viés exclusivo branco europeu, nos discursos de professores e gestores de escolas, nas indicações de livros e leituras de literatura, no processo de elaboração de planos de aulas e ou projetos escolares entre outros fortalece o racismo, ainda que ingenuamente.

Uma escola que prioriza tudo que é culturalmente de origem branca europeia vendo como belo o cabelo espichado, a missa e o culto evangélico como únicos sagrados; a mitologia grega como conteúdo de filosofia, excluindo ou deixando em último plano a História dos povos negros africanos, a mitologia dos Orixás, a valorização do cabelo crespo, a literatura negra, o batuque do tambor, em detrimento à uma única cultura branca, corrobora para esse fracasso.

O Brasil tem travado uma luta diuturnamente pelo enfrentamento ao racismo na educação, inclusive com a obrigatoriedade do cumprimento da Lei 10639/2003 e 11645/2008 que tratam do ensino e cultura africana, afro-brasileira e indígena na educação básica, lei esta que já tem 19 anos e ainda não se conseguiu efetivá-la com sucesso.

Compreender teorias racistas como eugenia, História do negro no Brasil e assumir que a escola é racista é um primeiro passo para irmos tratando esse fracasso escolar de recorte racial.

Tudo isso diz muito de como é nossa educação e nossas escolas brasileiras, pois um aluno negro, uma aluna negra que vê como feio, estranho, demoníaco tudo que está ligado à sua condição racial negra, vai abandonar a escola, ou terá como prêmio o fracasso escolar com as inúmeras notas baixas produzidas por conflitos que levam a brigas dentro e fora da sala de aula das escolas.

Processos avaliativos que não compreendem essas questões raciais, punições ancoradas em pedagogia racista, que não consegue incluir com respeito essas pessoas, mas está constantemente tentando consertar o “erro” que foi nascer negro num país de negros, mas de imposição da cultura do dominador branco sempre será nocivo à evolução da sociedade brasileira e a erradicação do racismo na escola.

Prof. Carlos Tomaz é professor da rede estadual de ensino de Pernambuco atuando em sala de aula dentro da FUNASE/CENIP STA LUZIA. É ativista dos movimentos negro e LGBT MNU e Rede Afro LGBT, foi presidente do Conselho LGBT de Jaboatão.