EDUCAR É PERSEVERAR

Educar é perseverar

Um bom professor não deve alimentar em seus alunos um espírito de competição pautado apenas no argumento de que precisamos passar no vestibular. Em tempos de tantas distrações, em que o trabalho intelectual tem menos valor que entretenimento sem nenhum refinamento, creio que um dos maiores, senão o maior papel do professor, é combater a mediocridade. Mediocridade como sinônimo daquilo que se nivela apenas pela média. Por que sermos “mais do mesmo” se podemos ir além? Educar é desenvolver potencialidades. Para isso devemos ser exigentes para evitar que esse vírus da pequenez se propague por toda a sociedade.

Exercer autoridade diante da falta de perspectivas não é sintoma de autoritarismo. Educador é aquele que estabelece limites sem que isso implique cerceamento ou limitação. Cada aluno tem de ser desafiado a se superar. Não para ser o maioral, mas para oferecer o melhor de si. É preciso recordar ao aluno que, embora pareça evidente, ele não estuda para os pais, para o vizinho, ou para ostentar conhecimentos tal como um presunçoso. É preciso estudar para alcançar crescimento pessoal e intelectual e não somente para obter um diploma.

Muitos alunos permanecem nas escolas com olhares tristes e desesperançosos. Cabe ao professor adotar uma postura de otimismo, acreditando na sua competência para ensinar e na capacidade dos alunos em aprender. Não seja aquele tipo de professor que anuncia fracassos. Não demonstre frustração para que sua escolha não pareça um fardo, pois assim poderá destruir sonhos. Recordo-me quando eu cursava um período numa turma de inglês em uma escola de idiomas. Uma aluna expressou sua vontade de ser professora. A docente, que ministrava a aula, retrucou: “não, não queira, porque você vai sofrer!”. Lamentável. Se estava inconformada com seu ofício, por que não o abandonou?

Um professor competente não espera as condições ideais para se empenhar, pois encara os obstáculos como desafios. O entusiasmo faz toda a diferença. Certa feita, uma aluna me chamou de louco pela tamanha empolgação que eu expressava numa aula sobre orações subordinadas substantivas reduzidas. Disse-lhe que se eu não demonstrasse alegria tornaria a aula mais enfadonha. Transmitindo a alegria em ensinar, o aprendizado torna-se menos penoso. Mas, infelizmente, há ainda quem aconselhe o professor a não sorrir para os seus alunos...

Outro desafio enorme na carreira docente é a indisciplina, a desmotivação dos alunos. A maioria ainda não percebeu, ou melhor, sentiu a importância de estudar. E, como disse o professor António Estanqueiro: “ensinar a quem não quer aprender é como lançar sementes em um terreno pedregoso. Não dá frutos”. Como dar de beber a quem não tem sede?

O professor precisa sempre reforçar o seu valor como agente de transformação. Mesmo que as informações sejam hoje tão fáceis de serem obtidas, cabe ao professor o papel de ordenar o conhecimento, selecionar aquilo que há de mais importante e, sobretudo, formar seres críticos, formuladores de opiniões, mas sem achismo – com respaldo – embasamento que será adquirido por meio de muito estudo. Ser professor é guiar pela mão, olhar nos olhos de seus discípulos e recordá-los e também relembrar-se de que a perseverança é um valor que devemos construir todos os dias.

Leo Barbosa é professor, escritor e poeta.

Texto publicado em A União em 02/12/2022