EDUCAÇÃO E O PENSAMENTO LIBERAL
Embora o conhecimento das letras seja eminentemente necessário para um
país, é certo que não devem ser ensinadas a todos. Assim como um corpo que
tivesse olhos por todos os lados seria monstruoso, da mesma forma o seria
o Estado se todos os seus cidadãos fossem eruditos; menos obediência seria
encontrada, e orgulho e presunção seriam mais comuns. O intercâmbio de
letras humanas baniria completamente o comércio, arruinaria a agricultura, a
verdadeira mãe adotiva dos povos, e destruiria em pouco tempo a criação de
soldados que surgem mais frequentemente em meio à ignorância e rudeza que
numa atmosfera de cultura polida; finalmente, encheria a França de charlatães
mais capazes de arruinar as famílias particulares e perturbar a paz pública
do que aptos a assegurar qualquer vantagem para o país... Se as letras fossem
profanadas para todos os tipos de espírito ver-se-iam mais pessoas prontas
a levantar dúvidas do que a resolvê-las, e muitas estariam mais prontas a
opor-se à verdade do que a defendê-la. É por essa razão que a política exige
em um Estado bem regulamentado mais mestres de artes mecânicas que de
artes liberais para ensinar letras (RICHELIEU apud ARANHA, 2006, p. 112).