O que está acontecendo com a Inteligência?
No livro “A Evolução Criadora” o filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) afirma: “Há coisas que apenas a inteligência é capaz de procurar, mas que, por si mesma, não encontrará nunca. Essas coisas, apenas o instinto as encontraria; mas não as procurará nunca”. Refletindo sobre o cenário político, social, sanitário, ambiental, econômico, educacional e religioso do Brasil, vê-se a confirmação dessa sentença, pois percebe-se na ação e na fala das pessoas decisões descabidas de qualquer censo, demonstrando práticas pautadas apenas pelo instinto – ou seja, limitadas –, sem levar os indivíduos a olharem para além de seus próprios interesses mesquinhos, desconsiderando o conhecimento cientificamente estruturado. Diante disso, questiona-se: Quais seriam as razões justificadoras dessa inversão em que vemos uma exaltação da tolice em detrimento da inteligência?
Em outubro de 2018, a edição 394 da Revista Super Interessante trouxe ao público uma capa sugestiva com a imagem de um busto vestido de terno, mas, em vez do pescoço com a cabeça, há um balão amarelo preso por um fio (possível referência ao desespero?) o qual usa um pequeno chapéu preto, tendo ao fundo o céu com nuvens, destacando a seguinte frase: “A era da Burrice”. Para além do impacto causado pela referida capa, há um texto de Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni que elenca índices de diversos países os quais demonstram quedas significativas na pontuação do QI de suas populações. Este não apresenta dados específico em relação ao Brasil, porém destaca que, segundo o IBOPE, na época, 29% da população adulta – em um total de 2 mil pessoas analisadas – era analfabeta funcional.
Nesse sentido, é visível uma piora nos índices do país após a pandemia de Covid-19. As informações facilmente acessíveis e desconexas presentes nas mídias virtuais, somadas à falta de senso crítico de boa parte da população aparentemente têm piorado esse problema. Nas redes sociais em geral, os conteúdos buscados e publicados pela maioria das pessoas não condizem com o devido aproveitamento de seu tempo disponível para interagirem com informações capazes de as levarem a sair de sua zona de conforto e questionarem a realidade para além do senso comum. Na verdade, ficou bem complicado fazer uma seleção adequada dos materiais disponíveis, talvez seja preciso rever o modo como se dá o funcionamento dos veículos desse tipo de material. As pessoas refletem aquilo que consomem, logo ao se exporem a tantos materiais de baixa qualidade não se pode esperar outro resultado.
Além disso, pode ser citado ainda a questão da educação pública brasileira a qual precisa ser urgentemente revisada se de fato se almeja uma mudança geral nos índices de inteligência e aprendizado no país. Ações paliativas como a implantação da Nova BNCC, do Novo Ensino Médio e formações online para profissionais da educação sem o devido amparo necessário, de pouco ou nada resolvem. Não se trata apenas de elevar os números nos exames avaliativos, é preciso executar práticas educativas eficientes as quais visem formar os indivíduos de maneira integral, em todos as dimensões de suas vidas e, para tanto, se faz necessário formar educadores seguindo essa linha.