Educação em casa

Há educadores, políticos e, enfim, pessoas, assim direi, comuns, que defendem uma idéia, para eles muito cara, e para seus opositores uma rematada tolice: a educação em casa. Como sói acontecer em casos tais, tal assunto produz celeuma que, digamos a verdade, tem sua origem mais no campo dos interesses ameaçados daqueles que são contra a proposta, pessoas que caem na sem-razão, na incoerência, na incosistência de seus argumentos, na postura intolerante, do que no dos direitos esposados pelas pessoas que a defendem. Desde que tomei conhecimento da proposta da educação em casa, ou, dito no idioma de Shakespeare, o homescholling, ouvi e li de pessoas que a defendem argumentos razoáveis, consistentes, justos, corretos, alegando, e com justeza e razão dada a realidade do sistema educacional moderno, agir em prol da liberdade, tendo-se em vista que, além de uma qualidade de baixíssimo nível do sistema educacional, está-se a se fazer das escolas um mecanismo de destruição da inteligência, de manipulação psicológica, de subversão social, de instrumentalização de pessoas para um fim que atende aos interesses dos donos do poder, e não das pessoas que as frequentam, pessoas que durante os anos de frequência escolar são desumanizadas, têm seus dons arruinados, sua vida destruída, o ser do seu ser humano seviciado. Não ouviu, tampouco li, dos defensores da educação em casa argumentos inválidos; pode-se a eles apresentar-se algumas ressalvas, apontar-se esta e aquela dificuldade à implementação de tal proposta. O mesmo não digo da atitude dos seus mais fervorosos opositores. Estes pecam pela má-fé e pela estupidez.

Dos opositores à proposta da educação em casa, proposta, esta, que admite a liberdade, e não a obrigatoriedade, de os pais optarem por educar seus filhos em casa, os pais a fazerem o papel de professores, ou eles a contratar professores, ouvi e li, até o momento, falácias, desarrazoados sem tamanho, zombarias, chacotas, deboches. Não me surpreenderam. E há um detalhe que, chamando-me a atenção, também não me surpreendeu: os professores que vi a se oporem a proposta do ensino em casa militam no espectro político de esquerda. Percebo que eles agem com certa virulência, que eles esforçam-se, em vão, para ocultarem, sob uma camada de erudição, a mentalidade autoritária, e revelam-se, ao contrário do que desejam, estúpidos, ignorantes, e não conseguem evitar que lhes transpareça a má-vontade, o constrangimento em tocar em tal assunto, em simplesmente aventar a possibilidade de se pôr na mesa, para discussão - e discussão pública, principalmente - tal idéia, para eles, de antemão, e sem qualquer avaliação a respeito, inadmissível. Compreensível, afinal, se implementada a educação em casa, tais professores - e outros profissionais -, muitos pais optando por educar seus filhos à margem do sistema educacional oficial, perdem o monopólio da narrativa, o poder de esculpir a mente das pessoas com os instrumentos do movimento revolucionário.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 17/08/2022
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