Ter um prédio escolar, não é o mesmo que ter uma escola
Quando ouvimos falar em educação em nosso país, logo muitas indagações surgem: Será se todas as crianças do Brasil estão tendo acesso à educação ou existem crianças que estão privadas de seus direitos?
A educação, conforme bem descreve nossa Constituição Federal, em seu artigo 6º, é um direito fundamental, e por sinal, não são poucos os dispositivos legais que garantem o acesso à educação. A educação deve ser verdadeiramente para todos, onde toda criança, tenha acesso a uma escola digna, e não apenas uma estrutura física, com uma placa na fachada. Dizer que as crianças estão sendo assistidas educacionalmente simplesmente pelo fato de haver na comunidade um prédio escolar é desconhecer as legislações que regem o sistema educacional e os direitos fundamentais e humanos.
Nos mais distantes rincões do nosso país existem centenas de escolas sem a mínima condição estrutural de abrigar crianças e adolescentes, escolas sem saneamento básico, sem água encanada, até mesmo sem banheiros. Escolas em situação precária, onde os prédios não passam por manutenções rotineiras, muitas delas com riscos de desabamentos e incêndios, por conta da precariedade no sistema elétrico. Essa realidade na educação do Brasil não pode ser colocada para debaixo do tapete, é preciso que seja amplamente divulgada de modo que os gestores tenham a educação como uma prioridade em seus governos.
Muitos gestores para fugirem das constantes cobranças, simplesmente constroem um prédio escolar e o entregam à comunidade, promovem festa de inauguração, com fogos e muitas fotos, mas o dia seguinte daquela comunidade será de muitas lutas para que aquele prédio seja de fato uma escola, com toda sua estrutura, não apenas física, mas que engloba toda uma questão pedagógica, administrativa e curricular.
Quem trabalha na educação básica, na rede pública, e desempenha suas atividades nestas escolas, principalmente escolas de zona rural ou escolas em comunidades periféricas, sabe muito bem como é a precariedade para o funcionamento adequado destas instituições.
É preciso haver maior compromisso por parte dos nossos gestores públicos, no que diz respeito à educação, pois se ela não for levada a sério, sérios problemas surgirão, principalmente a longo prazo.
Quando olharmos para as escolas japonesas, por exemplo, chega a causar inveja, pela estrutura que é oferecida naqueles locais. E neste caso, não são apenas as estruturas físicas daquele país oriental que chamam a nossa atenção, o resultado é visto na cultura daquele povo, um exemplo disso foi visto durante uma copa do mundo ocorrida no Brasil, onde torcedores japoneses foram filmados limpando as arquibancadas do estádio, logo após o fim de uma partida de futebol. Isso eles não aprenderam depois de adultos, é uma cultura, onde desde crianças eles aprendem a ter esse comportamento em relação às suas escolas, resultado de um processo educacional.
Sonhamos com uma nação onde nossas escolas sejam modelos para o mundo, onde nossa educação seja referência para grandes potências mundiais, onde, verdadeiramente seja uma educação totalmente de qualidade, e que tenhamos escolas em todas as cidades do país e não apenas prédios escolares.
texto publicado no jornal pensar a educação em pauta da UFMG, em 02 de junho de 2021