UNIVERSIDADE PÚBLICA PAGA?

 

Algumas coisas são difíceis de entender. Vi que tramita no Congresso um projeto para instituir o pagamento para os mais ricos no ensino superior. O estranho é que o projeto vem do deputado Kim Kataguri, de direita, e está enfrentando forte oposição e críticas da esquerda. Um membro da elite está propondo que ricos paguem para estudar em universidades públicas e a esquerda, que teoricamente combate a desigualdade é contra.

 

Tento não expressar opiniões sem ouvir os dois lados. Descubro que Kim Kataguri quer quem quem ganhe mais de cinco salários mínimos pague e os demais não, se houvesse pessoas acima disso que comprovassem necessidade teriam bolsas. Vejo que o governador de São Paulo quer o pagamento para ajudar a arcar com custos da USP  e UNESP. Leio que a esquerda acredita tratar-se de um golpe para progressivamente cobrar de todos e que acreditam que não deveria haver diferentes ensinos, que todos deveriam ter a mesma educação e gratuita, um mundo ideal em que nosso país vira uma Suécia.

 

E percebo que novamente penso diferente dos dois lados e que nem a direita sabe fazer bons projetos, nem a esquerda é capaz de defender algo diferente de um mundo de sonhos de todos iguais que nunca existirá, principalmente no Brasil.

 

Minha opinião é que deveria sim haver cobrança de mensalidades nas universidades públicas, mas não por faixa de renda e sim por origem da formação. Quem veio de escola pública gratuita em todo ensino médio continuaria sem pagar, até o fim dos estudos. Já os que vêm de escolas particulares, continuariam pagando. Preços de custo ou subsidiados, tipo 60% do que se paga nas faculdades particulares. E que as vagas deveriam seguir o percentual dos alunos. Se 80% usam ensino público, 80% das vagas seriam reservadas a quem viesse de escolas públicas.

 

Defendo cobrar dos que podem mais como forma de preservar as vagas gratuitas para quem mais precisa delas e para incentivar que mais pessoas optem pelo ensino público desde o início. Se desde crianças as pessoas aprendessem a conviver com outras de todas classes sociais, cor da pele e origens, os preconceitos diminuiriam muito, a empatia pelos mais pobres aumentaria e o número de relacionamentos entre pessoas de diferentes níveis de renda cresceriam com contribuição direta para a diminuição da desigualdade.

 

Ninguém deve ser obrigado a estudar em escola pública se não quiser, quem puder e preferir ensino privado, que possa usá-lo. No entanto, não se deve permitir que quem pode pagar fique ainda mais rico ao não ter que gastar numa universidade pública. Quem quiser continuar tendo um ensino diferente deve poder optar por isso, agora preservar o máximo possível de vagas gratuitas para quem não pode pagar é fundamental.

 

Se fosse como minha sugestão, não resolveríamos o problema da desigualdade, porque nada vai resolvê-lo, pode-se no máximo amenizar. As pessoas têm tudo de diferente, personalidades, origem, história de vida, condições financeiras, nunca serão iguais. E isso é ótimo, a diversidade é uma riqueza do ser humano. E mesmo quem não acha bom, tem de admitir que nunca houve igualdade entre os homens e nada indica que um dia haverá, o mundo de humanos iguais é pura utopia. O que é possível e deve ser sempre perseguido é diminuir o número de pessoas na pobreza e ter um dia, como os países desenvolvidos, a maioria da população na classe média, com o mínimo para sobreviver. 

 

Se você não concorda comigo, não se preocupe, não vejo a menor chance desse Congresso que aí está decidir da forma que eu penso. Agora, você deve se preocupar com esse debate porque o estudo das crianças e jovens  vai decidir muito do futuro do país. E, no momento, as chances de termos um ensino superior público pago e por critérios difíceis de aferir e ainda mais injusto que hoje é imensa.

 

O resultado tanto pode ser excluir pobres do sonho da universidade pública gratuita, como cobrar demais dos ricos e afastá-los de vez para o ensino público. Pelo histórico do Brasil, há bons motivos para crer que vamos mudar para pior.

 

Textos inspiradores:

É razoável que alunos mais ricos paguem mensalidade em universidades públicas? SIM

Kim Kataguiri

É razoável que alunos mais ricos paguem mensalidade em universidades públicas? NÃO

Miguel Buzzar

Paulo Martins

Vladimir Safatle

Folha de SP 10/6/22

 

 

Ensino pago na USP, na Unesp e na Unicamp?

Eugênio Bucci, O Estado de S.Paulo

16 de junho de 2022 | 03h00

 

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 18/06/2022
Reeditado em 19/06/2022
Código do texto: T7540502
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