METRÓPOLE: Música de Legião Urbana, uma leitura crítica possível II
*Aires José Pereira
Continuando a discussão pode-se dizer que os ricos têm Planos de Saúde que cobrem quase todo e qualquer tipo de doenças. E o pobre? Muitos morrem em filas de postos de saúde e hospitais.
“Ordens são ordens”. Aí está uma frase bem característica de alguns setores de atendimento público nesse país. Não sei a razão, mas os cargos públicos que mais exigem humanização são ocupados por pessoas que são verdadeiras máquinas disfarçadas de seres humanos. É muito comum vermos pessoas reclamando de mau atendimento porque os que iriam lhes atender não quiseram burlar a ordem vigente. Burlar que estamos dizendo aqui, não é mexer com toda a burocracia existente neste local, mas sim, de repente, a pessoa perder um minuto a mais para atender melhor o seu cliente.
O rico consegue qualquer coisa nesse país e fica por isso mesmo. É totalmente impune pela burocracia. As ordens são ordens apenas para atrapalhar a vida do pobre. Mas essas mesmas ordens ajudam a esconder verdadeiros ladrões disfarçados de executivos espalhados de norte a sul e leste a oeste de nosso Brasil verde amarelo azul e branco também.
Nesse país o bom atendimento público depende da cor, do sexo, da altura, da cor dos olhos, do sobrenome que a pessoa a ser atendida carrega consigo, depende da profissão, do tipo de transporte que a pessoa usa, da vestimenta da pessoa, do falar a língua portuguesa adequadamente dentro dos padrões da norma culta, etc.
Então, o ser humano deixa de ser o ser humano e passa a ter ser humano. Ou seja, de acordo com o ter ele é o ser humano, de acordo com o não - ter ele não é ser humano. Quando não tem posses o ser humano passa a ser apenas uma coisa. Está tudo errado! Não dá para aceitar uma sociedade que classifica as pessoas pelo ter e não ser que são de fato. Aqui já não cabe a discussão do ser ou não-ser. Cabe, infelizmente, a discussão do ter ou não - ter bens materiais para se tornar seres humanos e serem tratados como tais.
A riqueza ou pobreza são as únicas formas de classificação que existem em nosso país para designar o que as pessoas são. O bairro que a pessoa mora já indica se ela é o não é um ser humano respeitado. Não importa se essa pessoa é um grande traficante de drogas. Se essa pessoa é um grande corrupto ou corruptor, o que importa é o que ela tem de bens para ser bem ou malvista na sociedade a qual pertence. Os valores se inverteram. Nós temos um papel muito importante a desempenhar para minorar esse disparate que aí está. Não podemos aceitar as coisas como estão. Isto é um absurdo. Isto é faltar com a ética. É faltar com a moral e os bons costumes. Não dá para cruzar os braços diante de tantas injustiças.
*Aires José Pereira é graduado e especialista em Geografia pela UFMT, mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Dr. em Geografia pela UFU. É escritor com 18 livros publicados. É professor Associado I no curso de Geografia na UFR. É coautor do Hino Oficial de Rondonópolis. É membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense.