UMA DISCUSSÃO CRÍTICA SOBRE A MÚSICA “COMIDA” ARNALDO ANTUNES/MARCELO FROMER E SÉRGIO BRITTO (TITÃS) I
Ao discutir esta música é importante que o aluno saiba o contexto histórico, político e social em que o mundo estava vivendo à época da composição da mesma por parte dos Titãs. É interessante que a letra não só faz crítica ao regime capitalista de produção, mas deixa escapar algumas críticas ao modelo socialista de produção existente na extinta URSS. Enfim, toda e qualquer produção intelectual deve ser discutida e analisada para além de sua aparência inofensiva ou ofensiva. Afirmo inofensiva, referindo à letra que não analisa e nem discute quase nada da realidade. Ela também tem um papel importante na formação do cidadão, pois a mesma pode estar ajudando a aliená-lo a aceitar as coisas como estão sem questioná-las. Portanto a aparente “inofensividade” é, na verdade uma ofensa muito grande para com os interesses da maioria da população que quase nada tem, além de não ter nem uma visão global e inteligível do mundo que o cerca.
Quando afirmamos da produção intelectual ofensiva, posso referir-me às “músicas” que se espalham pelos quatro cantos do país e fazem sucessos no meio de nossa juventude, principalmente e não ajudam em nada, na discussão acerca de nossa própria realidade cotidiana. E, posso também, referir-me a uma segunda forma de produção intelectual, qual seja a de denúncia, a que desmascara a realidade vivida por todos nós. Esta segunda é ofensiva contra a ideologia dominante. Ela é ofensiva no sentido de não aceitar como certo o que está posto para toda a sociedade dominante e dominada.
É justamente este tipo de produção intelectual a que me refiro neste simples trabalho que ora se encontra em suas mãos. Ou seja, todos os poemas/poesias/músicas que estou trabalhando aqui nesta interdisciplinaridade poética, tem, diante do que penso uma importância muito grande no processo ensino-aprendizagem que eu acredito ser o melhor.
Ainda discutindo um pouco a música acima referida, pode-se perguntar sobre a nossa liberdade capitalista de viajar para onde quisermos. Essa liberdade existe de fato ou só existe no papel? Quantas pessoas morrem sem conhecer o mar! Quantas pessoas não conhecem além de seu próprio município onde moram? Será que estas pessoas não gostariam de ter lazer ou suas “liberdades” foram ceifadas pela falta de dinheiro para tal evento? Quantas pessoas têm direito de ter arte em sua casa? Quando me refiro à arte estou dizendo da Arte erudita que só quem tem muito dinheiro e intelectualidade pode ter acesso. A maior parte da população nem sequer consegue entender as letras de músicas mais críticas, agora imaginem ter acesso (econômico e intelectual) a Arte erudita.
São análises e discussões pertinentes à sala de aula que ultrapassam uma disciplina. Nossos professores estão preparados para isto? Se não estão, terão que estar em breve ou serão excluídos do processo educacional. O processo educacional exige que seus Educadores tenham mais que fórmulas prontas e acabadas para “ensinar” aos seus alunos. Os Educadores que não se abrirem para o entendimento mais global e interdisciplinar da realidade vivida pelo aluno, com certeza serão descartados pelos próprios alunos.
*Aires José Pereira é graduado e especialista em Geografia pela UFMT, mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Dr. em Geografia pela UFU. É escritor com 18 livros publicados. É professor Associado I no curso de Geografia na UFR. É coautor do Hino Oficial de Rondonópolis. É membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense.