A POESIA COMO INSTRUMENTO DO ENSINO APRENDIZAGEM
A poesia poderia ser um instrumento usado contra todas essas mazelas que aí estão, no entanto, ela parece não ter sentido diante desse mundo cada vez mais matematizado pelo ganho do tempo em coisas “úteis” e poesia para eles são inúteis.
O que mais me impressiona não é o matemático, o administrador, o contador, o engenheiro, o médico, o físico não gostar e não entender nada de poesia. Mesmo porque, ninguém gosta do que não entende. Só passamos a gostar de algo a partir do momento que conhecemos e o entendemos. Mas, o que mais nos entristecem é que o próprio professor das áreas de Ciências Humanas e Sociais é capaz de até menosprezar a poesia enquanto instrumento de trabalho em sala da aula. Alguns chegam até a afirmar que sou um maluco que não percebe que poesia não dá dinheiro.
De fato, poesia, conhecimento, de uma forma geral não dá dinheiro ao seu detentor, ao contrário; geralmente, nos tempos atuais, o poeta vive à margem da sociedade. É tido apenas como um sonhador, como um utópico. Agora pergunto: o que seria do mundo se não fosse os sonhadores? O que seria do mundo se não houvesse os utópicos? Vocês conseguiriam sobreviver sem esperança? Sem sonhos? Acho que não. Então, a poesia tem sentido, sim.
Os cânticos, os hinos de louvores das igrejas são poesias! Pastor nenhum ou Padre nenhum consegue ficar duas horas ou mais fazendo sermão sem uma pequena pausa para a poesia fazer fluir o sonho, imaginações, miragens, etc., nas cabeças de seus fiéis. É interessante fazer esta observação acerca das Ciências Humanas e Sociais:
Em tempos de pós-modernismo, de mudanças aceleradas em que ‘tudo que é sólido desmancha no ar’, é necessário se repensar o papel do ensino, balizar prioridades, especialmente na área de Ciências Sociais e suas tecnologias que envolvem diretamente o cotidiano dos alunos e dos professores. Em meio a tantas mudanças não é mais possível se conceber a escola apenas como transmissora de conhecimentos, mas sim como um espaço de construção coletiva do saber elaborado, no qual alunos e professores, a partir de suas experiências, possam tecer sua parte na trama social, possam deixar marcas de sua passagem. Enfim, deve ser um espaço onde possam criar ousar, buscar alternativas para as suas próprias práticas; ir além do que está proposto, inovar, fazer com que o ensino seja efetivamente um ‘lócus’ de aprendizagem.
Esta passagem me faz lembrar-se de uma propaganda de botinas que dizia: “Não basta passar pelo mundo, o importante é deixar suas marcas”. Dessa forma, o fazer pedagógico se torna muito mais interessante quando o aluno e o professor constroem o conhecimento juntos, portanto, a poesia é o caminho mais fácil para se construir este conhecimento.
Ainda discutindo as Ciências Humanas e Sociais é interessante lembrar outra passagem dos parâmetros curriculares que afirma: “no conhecimento dos processos sociais, importa compreender o humano em uma perspectiva intersubjetiva: como sujeito que realiza e se inscreve nos processos sócio-históricos de forma autônoma, mas também como sujeito envolto por uma trama social formada por outras subjetividades. Nesse sentido, os fatos econômicos, jurídicos e políticos devem ser entendidos sob a mesma lógica que põe o humano no centro dos processos sociais e não como fenômenos naturalizados e alheios à ação humana. Isso implica dizer que uma lei ou uma decisão política não são abstrações produzidas por algum ente metafísico, mas produtos concretos de agentes sociais”.
E os Parâmetros Curriculares Nacionais continuam afirmando que: “a compreensão dos processos de constituição e transformação das sociedades implica a relativização do tempo presente, evitando que caia na “presentificação” absoluta, que gera tanto o descompromisso com os processos sociais, quanto a desesperança diante do que nos foge do controle. Há cerca de cento e cinquenta anos, no Manifesto Comunista, Marx e Engels já se referiam ao impacto causado pela rapidez e inexorabilidade das transformações na sociedade capitalista, na qual “tudo que é sólido desmancha no ar”, gerando desconforto, insegurança e apreensão”.
Pensando neste raciocínio acima referido, com certeza, a poesia pode vir a ser um instrumento muito importante no processo ensino-aprendizagem, uma vez que a mesma aguça e muito a inteligência das pessoas além de possibilitar uma discussão coletiva envolvendo alunos e professores. A poesia, de acordo com o tema tratado pode estar sendo discutida na Geografia, na História, na Sociologia, na Filosofia, enfim, em muitas disciplinas. Então, dá-se para trabalhar a mesma poesia com enfoques diferentes, em quase todas as áreas do conhecimento, basta que o professor também tenha um mínimo de discernimento acerca da importância da poesia.
*Aires José Pereira é graduado e especialista em Geografia pela UFMT, mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Dr. em Geografia pela UFU. É escritor com 18 livros publicados. É professor Associado I no curso de Geografia na UFR. É coautor do Hino Oficial de Rondonópolis. É membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense.