Disortografia - Evitando o transtorno

1 INTRODUÇÃO

O trabalho tem por objetivo, principalmente, abordar uma solução metodológica comprovadamente eficaz capaz de evitar a disortografia em crianças do Ensino Fundamental I e, consequentemente, dos anos seguintes. Esta solução é apresentada pelo neurocientista e Professor Stanislas Dehaene em sua obra intitulada Os neurônios da leitura – Como a ciência explica a nossa capacidade de ler, nela o autor fornece-nos um valioso estudo sobre as etapas fundamentais da aquisição da linguagem por meio das habilidades cognitivas das quais apresentarei logo abaixo.

Explicarei brevemente o que é a Disortografia; em seguida, apresentarei resumidamente atividades relevantes defendidas e aplicadas pelo Professor Carlos Nadalim em seu E-book intitulado As 5 etapas para alfabetizar seus filhos em casa – o guia definitivo, servindo-se de alternativa para livrar as crianças do transtorno da Disortografia por meio da consciência fonológica; também, para contrapor o assunto central, descreverei o que dizem os defensores do método global e silábico e, finalmente, concluirei sobre a importância e a atenção que deveríamos dar aos exercícios caligráficos. Ademais, este artigo serve de crítica aos atuais métodos de alfabetização ofertados pelo Estado para as escolas públicas brasileiras, sendo eles, comprovadamente ineficazes por países como a Itália, a Espanha, a Alemanha.

2 CONSCIÊNCIA FONÊMICA NA ALFABETIZAÇÃO

Segundo Dehaene (2012), a aprendizagem da leitura passa por três etapas, são elas: a etapa pictórica, quando a criança “fotografa” as palavras as quais ela deve explorar os traços visuais, a forma, a orientação das letras, a leitura e seu próprio nome; a etapa fonológica quando as crianças decodificam os grafemas em classes de sons; e a etapa ortográfica quando é fundamental a automatização do reconhecimento das palavras. Daí a importância de aplicar de perto as etapas citadas a fim de que a aprendizagem seja plenamente desenvolvida eficazmente para toda a vida.

A região cerebral temporal superior esquerda responsável pela fala e a análise da gramática em bebês está vinculado a uma análise dos fonemas, das palavras e das frases e, conforme o autor, a conexão dessa região está relacionado a um viés genético o qual deve facilitar a aprendizagem da língua materna, assim, quando uma criança de 5 ou 6 anos começa a ler, ela já possui uma representação fonológica, um vocabulário de milhares de palavras e um domínio das principais estruturas gramaticas e significado implícitos. Por conseguinte, com 5 ou 6 anos de idade, a vida da criança é um período intenso de plasticidade neuronal, um momento propício para aprender objetos visuais como as letras e as palavras escritas.

Dehaene (2012) enfatiza a apresentação da etapa fonológica para a criança de 6 e 7 anos de idade, com a qual devem adquirir a consciência fonológica, ou seja, ela deve – por meio de auxílio – prestar atenção aos pequenos constituintes das palavras, por exemplo: combinar os fonemas /b/ e /a/ os quais segue a combinação /ba/. Portanto, é fundamental que nos primeiros anos de leitura da criança ela descubra que a fala é composta de fonemas, os quais combinados, formam novas palavras – de sorte que - quanto mais a criança manipular conscientemente os fonemas, mais depressa aprenderá a ler. Além disso, os exercícios que treinam as crianças em jogar com os sons melhoram a consciência fonêmica e, consequentemente, as conexões neuronais da leitura.

Dessa forma, deve-se ensinar grafemas e fonemas juntos, todavia, é necessária atenção às palavras irregulares na etapa fonológica, por exemplo: a criança iniciante na leitura sabe ler algumas letras e transformá-las em sons, porém fracassa diante das palavras irregulares “fixo”, ela lê “ficho”, ao invés de /’fikisu/. Logo, é certo saber que a aprendizagem da leitura consiste do mais simples ao mais complexo, com as palavras cujas sílabas são consideradas complexas, por exemplo: “vro”, “bra”, “fl” etc., para posteriormente, memorizar terminações de morfemas da Língua Portuguesa, como: “ês” (inglês) para formar os adjetivos pátrios e “ez” para formar substantivos abstratos (viuvez, rapidez) até conhecer uma quantidade de prefixos, sufixos e radicais, associados sem esforço pela criança.

O autor defende que a chave para ensinar a leitura às crianças - em direção a fase adulta - ao modo mais suave e mais eficaz possível é a decodificação fonológica: disseca-se a palavra para, posteriormente, recompô-la em sílabas. Ainda salienta que o reconhecimento global das palavras é enganosa e não funciona, pois tal método conduziu uma geração de crianças ao fracasso, como segue:

Começamos por sublinhar o que a leitura não é. Leitores proficientes e hiper-treinados, nós temos a impressão de um reconhecimento imediato e global das palavras. É uma intuição enganosa. Nosso cérebro não passa diretamente da imagem das palavras ao significado. Inconscientemente, toda uma série de operações cerebrais e mentais se encadeia antes de uma palavra ser decodificada. Ela é dissecada, depois recomposta em letras, bigramas, sílabas, morfemas. (DEHAENE, 2012, p. 236).

Ele ressalta a importância de a criança hierarquizar no cérebro o ensino de leitura para o reconhecimento das letras e grafemas transformando-os em fonemas, ou seja, em imagens acústicas, visto que, a aprendizagem da ortografia, do vocabulário, do sentido, e o estilo adquiridos dependem de todo o processo fonêmico de alfabetização:

O alvo do ensino da leitura é, pois, claro: é preciso colocar essa hierarquia no cérebro, a fim de que a criança possa reconhecer as letras e os grafemas e os transformar facilmente em imagens acústicas de sua língua. Todos os outros aspectos essenciais do sistema escrito – a aprendizagem da ortografia, o reconhecimento do vocabulário, as nuances do sentido, o prazer do estilo – dependem disso diretamente. (DEHAENE, 2012, p. 236).

Ora, se queremos que a criança adquira prazer pela leitura devemos, pois, dar-lhe as chaves da aprendizagem as quais são a decodificação fonológica das palavras e, de acordo com as pesquisas, as crianças e os analfabetos testemunham que a conversão grafema-fonema transforma cabalmente o cérebro da criança e sua capacidade de escutar os sons da fala.

Contrapartida, os métodos global e silábico de alfabetização os quais Dehaene (2012) critica não funcionam e, para muitos como pesquisadores, professores e ministros estão de acordo, visto que, o Ministro da Educação e filósofo francês Luc Ferry em discurso proferido na Assembleia Nacional, em 2003: “O método global é, com efeito, calamitoso. Posto isto, ele quase não é utilizado há bastante tempo e, desde o ano passado, por recomendação oficial, é fortemente desaconselhado” (DEHAENE, 2012, p. 238). Dessa forma, o método global encerra muitos inconvenientes, uma vez que, foram os pedagogos e psicólogos que preconizaram a leitura global. Além do mais, quando observado, o hemisfério direito do cérebro é ativado para a leitura global, sendo esta ativação inapropriada, porém, a área clássica da leitura, a área temporal esquerda chamava a atenção às letras, como segue:

Mas é a imagem cerebral que põe em evidência o efeito mais espetacular: o hemisfério direito se ativava para a leitura global, enquanto a atenção voltada às letras o que ativava era a região clássica da leitura, a área occipital-temporal ventral esquerda. Dito de outro modo, a aprendizagem pelo método global mobilizava um circuito inapropriado, diametralmente oposto ao da leitura esperta. (DEHAENE, 2012, p. 244).

Portanto, Dehaene (2012) conclui ressaltando um ponto crucial o qual, apesar das afirmações dos defensores do método global, os alunos que aprenderam a ler pelo mesmo método no final da escolaridade obtiveram um desempenho pior na leitura de novas palavras, apresentando um resultado lento e ineficaz na compreensão textual, resultado este que dá a impressão ser uma avaliação de laboratório ou sobre argumentos teóricos, porém, sua experimentação repousa em escala natural, refutada até mesmo pela psicologia cognitiva.

3 AFINAL, O QUE É O MÉTODO GLOBAL E O QUE DIZEM SEUS DEFENSORES

O método global surgiu para desconstruir o modelo tradicionalista de alfabetização: o sintético, que, segundo os defensores desse método, é superficial e que não atende as reais dificuldades da criança.

A base que se dá ao método global está em Nicolas Adams, já em 1780. Segundo ele, o processo da alfabetização teria que se relacional com os elementos do dia a dia da criança partindo diretamente das palavras mais familiares a ela. Em sua concepção, a assimilação se daria do todo ao particular, ou seja, às unidades simples – as sílabas e as letras. Porém, esse método não teve muito destaque ou alcance justamente pela escassez de estudos mais aprofundados e eficazes. Entretanto, após 100 anos, desencadeou sua aplicação em alguns países respaldado por novos estudos e pela moderna concepção pedagógica de alfabetização confrontando novamente o modelo sintético ou fonológico de aprendizagem da linguagem.

Assim, como o modelo fônico, o método global apresenta etapas no processo de alfabetização, são elas: a gradação, a diferenciação, a assimilação e a redefinição. Basicamente, a primeira, a criança percebe a forma das palavras fora da frase; a segunda, estuda a palavra em diferentes contextos; já a assimilação e a redefinição consistem em estimular a criança apresentando, em outras situações, a função da palavra estudada, também, usando as sílabas para formar novas palavras, sempre a visar a totalidade às unidades simples.

Segundo a pedagoga Isabel Cristiana Alves da Silva Frade, em seu texto intitulado Método Global, o método global de alfabetização consiste, basicamente, que o aprendizado da leitura seja por meio da identificação visual das palavras, seria esse o mais conhecido até então. Em outras palavras, é um método econômico, pois ensina a criança diretamente ao item mais complexo de todo o processo da alfabetização, ou seja, ensina a palavra como um todo, ao contrário do que propõe o método fônico (da unidade menor, mais simples ao complexo). Ademais, o método ensina que, no momento do aprendizado da escrita, não se deve realizar a dissecação ou fragmentação da palavra, porém, anteriormente deve ser diretamente aprendido seu significado.

No século XX, em São Paulo, já se adotava o método global ou analítico o qual associava o ensino da leitura pelo método intuitivo, isto é, da observação, utilizando-se de materiais ilustrativos e, em Minas Gerais, na década de 1930, usavam-se contos infantis com as seguintes fases a serem seguidas no processo da alfabetização: a fase da história com o reconhecimento global de um texto, ou seja, as crianças simplesmente memorizavam as letras das palavras em sua formação e “liam”; a fase da sentença a qual é a identificação efêmera de frases curtas do texto explorado e, posteriormente, recortadas e remontadas para formar novas frases; a fase da porção de sentido que é justamente o reconhecimento de expressões em enunciados conhecidos e familiares às crianças; a fase da palavração que é a identificação de palavras nas frases repetidamente após muita memorização; a fase da silabação a qual consiste no reconhecimento de semelhanças e diferenças entre as palavras.

Basicamente, os exercícios mencionados concentram-se diretamente no reconhecimento de palavras memorizadas, recortadas e remontadas formando novas sentenças com a respectiva associação às imagens possivelmente apresentadas.

Segundo Andressa em seu artigo intitulado Considerações sobre o método global de alfabetização, as crianças as quais apresentassem níveis de desenvolvimento mental antecipados ou defasados deveriam ser divididos em classes. Já em relação ao conteúdo programático, isto é, ao currículo, também deveria mudar de acordo com o interesse dos alunos, das suas necessidades e do cotidiano de cada uma.

Sobre a leitura, esse processo estende-se nos seguintes níveis: nível visual, nível verbal, nível auditivo, nível motora e nível interpretativo. Portanto, o método global não trabalha em decodificação por meio de unidades menores, como os fonemas; mas, em um contexto real partindo da palavra. Tal método defende a globalização como sendo a única maneira de aprendizagem da leitura e, que a criança, não observa unidades isoladas, assim, a eficácia do aprendizagem estaria em sua totalidade.

Ainda Andressa, o método seria dividido em importantes fases, sendo o primeiro o método global de contos o qual consiste na escolha dos textos que deveriam ser familiarizados e, logo, uma frase seria retirada para, então, ser estudada a palavra selecionada para, posteriormente, ser trabalhada juntamente com seu significado e em diferentes contextos, isto é, partindo do todo à menor unidade.

A segunda fase baseia-se em uma metodologia psicolinguística a qual versa na competência linguística da criança. Aqui é sugerido uma modificação de frases atendendo possíveis dificuldades no uso das consoantes e alternando do básico ao complexo, também, consiste em atividades ortográficas e formação de novas palavras.

A terceira fase, inserido no método global, é o método natural do educador francês Célestin Freinet, este acreditava no autodidatismo, que é a aquisição do conhecimento partida da própria criança e demonstração de interesses por meio dos textos livres selecionados e que, segundo o educador, a criança aprendia leitura e escrita por meio do contato com o meio literário seja por contos de histórias, seja por escritos, por produção textual e o simples manuseio de obras literárias e outros gêneros textuais de modo gradativo.

Já a fase do método global Paulo Freire visa não somente o desenvolvimento pedagógico, mas também mantém a experiência pessoal de jovens e adultos analfabetos, além do mais, utiliza o vocabulário do quotidiano dos estudantes para obter um melhor rendimento no processo da alfabetização.

O método Paulo Freire é considerado um método Global pois trabalha com o aspecto do decodificação e codificação da língua, mas procura contextualizar com a experiência de Jovens e Adultos Analfabetos, criando assim, do vocabulário popular deles, as “palavras geradoras”. Paulo Freire também se preocupava como esse sujeito se reconhecia socialmente com seus deveres de cidadão ativo e crítico. Portanto, essas palavras estariam relacionadas com conteúdos políticos, econômicos, culturais que ele está inserido. (MOREIRA, 2013, p. 45)

Além do mais, para Paulo Freire, o papel que o educador deveria executar era de mediador do conhecimento desde o ambiente a ser trabalhado até ao tema escolhido para efetivo aprendizado da leitura.

Teoricamente, os métodos supracitados nesse capítulo dos quais estão inseridos no método Global são muito bons, entretanto, o método fônico apresenta resultados satisfatórios, duradouros e eficazes em um curto tempo de aprendizagem como exposto no capítulo 2 deste artigo: “Consciência fonêmica na alfabetização”.

4 O QUE É A DISORTOGRAFIA?

Segundo a fonoaudióloga Daniela Borges em seu artigo intitulado Disortografia – conheça esta dificuldade de escrita, a disortografia é um transtorno específico de escrita causado por uma alteração na linguagem, essa alteração reflete em dificuldades na aprendizagem da ortografia, gramática e redação, mesmo que o potencial intelectual da criança esteja adequado para a idade, sendo assim, a disortografia é o traçado incorreto da letra, lentidão, alteração no espaço da escrita, falta de clareza e inteligibilidade da escrita a qual fica prejudicada. Igualmente, a criança que sofre de disortografia, produz textos curtos com incoordenação das estruturas frasais e problemas da pontuação. Ademais, ela apresenta um padrão de escrita que foge às regras ortográficas.

Contudo, essa problemática inicia-se na alfabetização a qual já expõe dificuldades na aprendizagem da ortografia que, provavelmente, chegarão ao ensino fundamental coma as mesmas dificuldades, as quais são: a fixação das formas ortográficas das palavras, a substituição, a omissão, o acréscimo e inversão de grafemas, alteração na segmentação das palavras, persistência nas formas da oralidade na escrita e produção de textos.

É válido esclarecer que as características da disortografia fazem parte da apropriação do sistema ortográfico da língua, mas logo as dificuldades são superadas ao longo da escolarização, nesse caso o problema reside nas crianças cujos erros persistem. Essas crianças cujo transtorno é evidente possuem um sistema fonológico deficiente, ocasionando alterações na conversão letra-som, ou grafema-fonema. Desse modo, a avaliação deve ser realizada observando os tipos de erros ortográficos e a frequência com que são cometidos na escrita que estão presentes nos trabalhos: ditados, escrita de textos curtos e longos, cópias e tarefas de erros intencional. Tudo isso fornecerá ao professor informações necessárias sobre o nível de conhecimento ortográfico que as crianças possuem para, assim, poder intervir à necessidade da criança, pois a criança com disortografia necessita de tempo maior para realizar as tarefas escritas, também, deve-se explicar à criança como a escrita e a ortografia funcionam utilizando a produção textual espontânea da criança para explicar o que ocorre com a escrita para, posteriormente, promover a escrita ortográfica. Deve-se, pois valorizar sempre o empenho do aluno.

A autora conclui que os estudantes do terceiro ano do ensino fundamental confundem-se com as regras ortográficas estando ainda elas em fase de aprendizagem; o problema é quando as crianças apresentam maior dificuldade, ou ainda – enfatiza a autora - quando os erros persistem.

5 EVITANDO O TRANSTORNO

O que fazer para evitar o transtorno da disortografia? De acordo com o Professor Carlos Nadalim em seu e-book As 5 etapas para alfabetizar seus filhos em casa, deve-se, pois, evitar os métodos de alfabetização considerados ineficazes, como os métodos global e silábico. Como supracitado na introdução desse artigo, o melhor e mais eficaz método é o fônico o qual contribui diretamente e eficazmente para muitos aspectos essenciais do sistema escrito: o aprendizado da ortografia, o enriquecimento do vocabulário, as nuances do sentido e o prazer do estilo.

O método fônico apresenta o domínio do princípio alfabético o qual é relevante para a alfabetização, e, é este princípio que as crianças precisam dominar, pois consiste na conversão consciente dos grafemas em fonemas, ou seja, os sinais gráficos (letras) em seus valores fonológicos (sons).

Primeiramente, é essencial ensinar às crianças os valores fonológicos das letras, porquanto no Brasil apresenta-se ao contrário: primeiro o alfabeto, o nome das letras, a formas das letras etc. Ora, o som precede a letra que o representa, pois, a realidade sonora é anterior à sua representação gráfica, logo, devemos atentar uma ordem tanto lógica, quanto cronologicamente no processo da alfabetização.

Segundo Nadalim (2015), a ordem lógica e cronologicamente é basicamente apresentar os fonemas dramatizando-os dos mais simples aos mais complexos, a saber, as vogais e, posteriormente, as consoantes de fonemas labiodentais ‘v’ e ‘f’; o ‘l’ alveolar; o ‘m’ bilabial; o ‘n’ linguodental; o ‘j’ palatal e assim por diante. Todavia, não se deve seguir a ordem alfabética, porque o som da letra ‘b’ e ‘c’ serão difíceis de pronunciar.

O Professor começa por explicar a ineficácia dos métodos globais cuja alfabetização ocorre pela percepção da forma das palavras, ou seja, a criança olharia para o formato de uma palavra e memorizaria essa forma, logo começaria a ler. A atividade para tal memorização se dá por meio da apresentação de cartões os quais são mostrados para a criança com a imagem de uma bola, ela então sabe que é uma bola. Posteriormente, mostra-se a ela outro cartão com a palavra “bola”. Com o passar do tempo, ao olhar o cartão sem imagem, apenas com a palavra, a criança associará com a imagem.

Já o método silábico é considerado melhor que o global, todavia não é o mais eficaz. O problema é que as crianças aprendem a somar uma letra com outra letra resultando a sílaba tal, por exemplo, b (“bê”) com a (“a”) formaria “ba”, que na verdade é “bê-a”. Nesse exemplo, o método não se atenta ao valor fonológico das letras e, sim, aos nomes delas.

Portanto, o autor não recomenda os dois últimos métodos citados acima, visto que, o primeiro pauta-se pela percepção visual das formas das palavras, sendo extremamente ineficaz e, o segundo, apresenta um erro fundamental de uma falsa correspondência entre o nome da letra e o seu valor fonológico.

6 CALIGRAFIA CURSIVA: UM EXERCÍCIO INDISPENSÁVEL

De acordo com o texto intitulado “Quatro práticas que devem ser retomadas para uma plena alfabetização” contido no livro Alfabetização de crianças e Adultos – Novos Parâmetros, de João Batista Araújo e Oliveira, os instrumentos pedagógicos mais significativos como a memorização, a caligrafia, a cópia e o ditado são reconhecidas pela ciência cognitiva para melhorar o desempenho dos alunos e contribuir para o desenvolvimento do cérebro e assegurar-lhes uma plena alfabetização; e a mesma ciência mostra a necessidade de retomar a essas práticas para o aprimoramento da aprendizagem, necessidade presente em muitos livros em vários países os quais abordam assuntos como a caligrafia e memorização que são aliados para uma aprendizagem duradoura.

Todavia, a escola moderna pôs fim a “decoreba”, pois, um ensino centrado em apenas decorar textos pode ser maléfico, mas, essa prática continua em outros países, os artistas decoram seus textos, os jovens decoram inúmeras músicas e idiomas e programadores memorizam sequências de códigos etc. A ciência cognitiva também aponta que o exercício da memorização é imprescindível contra a degeneração intelectual a qual diminui as capacidades da atenção e raciocínio.

A respeito da memorização, em resumo, Cristiane Moraes Escudeiro em sua dissertação de mestrado intitulada “O desenvolvimento da memória na educação infantil: contribuição da psicologia histórico-cultural para o ensino de crianças de 4 e 5 anos”, segundo ela, a memória é uma atividade prática e complexa que registra e armazena as experiências individuais e coletivas das ações humanas. Sobre essa complexidade da memorização que é a base fisiológica da memória, o sistema neuronal tem uma importante função na evocação de lembranças. A atividade ou ligação dos neurônios ocorrem sempre que a mente recebe um impulso externo, dada a estimulação, uma porção de neurônios são acionados, conectando-se entre si na região cerebral. O resultado é a formação de uma imagem na consciência – uma memória primária.

No estudo das bases fisiológicas da memória, destacamos a importância dos 35 neurônios, do sistema nervoso e da atividade cerebral, como um todo, como aspectos relevantes para a formação da representação e evocação de lembranças. As ligações das células nervosas ou neurais acontecem sempre que o organismo recebe um estímulo externo. Com a estimulação, um conjunto de neurônios é acionado, interligando-se entre si no cérebro. O resultado é a formação de uma imagem na consciência: a produção de uma memória elementar. (ESCUDEIRO, 2014, p. 35)

Dessa forma, tudo o que é captado pelo organismo: sejam os registros visuais, as sensações corporais etc., são motivos de atenção do cérebro; assim, as imagens se caracterizam e se ampliam com novas experiências. Por exemplo, quando produzimos continuamente uma mesma atividade cotidiana, memorizamos um comportamento e um ambiente e, com isso, criamos um hábito.

A principal região no cérebro responsável pelo estabelecimento dessas memórias primárias, imagens e impressões é o hipocampo. O hipocampo é uma pequena região localizada profundamente na área central do cérebro. Basicamente, os neurônios desse região recebem informações sensoriais exterior ao organismo, desse modo, transmitem-na ao hipocampo, após o recebimento desses estímulos, a rede neuronal forma um conjunto estável para fixar experiências ou memórias para sempre. É por esse e outros motivos que a memorização é uma atividade indispensável na fase de aprendizagem da alfabetização.

Sobre a caligrafia, um exercício indispensável no processo de aprendizagem, ainda é muito ensinada nas escolas de todo o mundo, porém, cada vez menos no Brasil por motivos, como: a falta de tempo diante da sobrecarga cognitiva presente nos planos curriculares do país alegando que a prática caligráfica é algo mecânico, eliminada aos poucos de ser ensinada, até mesmo por ideologia. Infelizmente, muitos pedagogos e professores deixaram-se enganar por esse equívoco.

Ora, as evidências apontam que a escrita manuscrita cria novas conexões neuronais que trazem vantagens relevantes para a escrita e para a leitura. Além de estimular a atenção concentrada na tarefa, mesmo já automatizada a forma visual, está correlacionada com o desempenho ortográfico e, consequentemente, está associada a uma maior compreensão do que lemos.

Outro instrumento pedagógico criticado é a cópia, assim como a caligrafia e a memorização. A cópia quando usada como reforço para compreensão de padrões ortográficos e com objetivos claros, ela deve ser incentivada, uma vez que os alunos constantemente necessitam realizar cópias, por exemplo: na lousa, escrevendo trabalhos, passando texto a limpo, parafraseando, reestruturando textos etc., atividades estas corriqueiras, assim, a ciência mostra que ao fazer uma cópia, o cérebro ativa mecanismos revisores que faz com que o aluno identifique melhor os erros ortográficos na escrita e desenvolva um comportamento positivo, produtivo e contínuo na leitura.

Outra vantagem que a ciência mostra é que ao fazer uma cópia o cérebro ativa mecanismos de revisão, fazendo com que o aluno identifique melhor os erros em sua escrita. O exercício de cópia atenta ajuda não apenas na melhoria da escrita, mas também no comportamento leitor. (OLIVEIRA, 2010)

Por fim, o tradicional ditado deve ser usado como solução de problemas para evitar que a criança troque ‘ao’ por ‘au’, bolo por bolu etc., isso depende da criatividade do professor em usar na prática o ditado adequadamente.

Além disso, a prática é uma criativa e estimulante forma de alcançar objetivos, como por exemplo, reforçar o que já foi transmitido ou, ainda, uma forma de identificação para investigar o que as crianças sabem ou alguma dificuldade apresentada. Esse exercício do ditado, tradicionalmente, auxilia e estimula muitas aptidões como os mecanismos da escrita, da leitura, da concentração, da aquisição do vocabulário da língua e, sem dúvida, da ortografia.

Portanto, esses instrumentos pedagógicos rejeitados aos poucos pela escola moderna são valorizados e defendidos pela ciência cognitiva segundo a qual garante a plena alfabetização evitando, assim, os transtornos da escrita, como a disortografia – assunto central do presente artigo.

Ao contrário das práticas pedagógicas citadas como sendo abandonada aos poucos pela escola moderna, a reescrita textual é uma importante prática muito utilizada pelos professores de línguas. Ela possibilita que a criança forme desde sentenças simples às elaboradas, utilizando-se de sinônimos para melhor exercitar o vocabulário da língua adquirindo, desse modo, habilidade seletiva das palavras.

Com isso, as outras ordens das línguas estruturada acabam se relacionando: as questões ortográficas, a sintática, a semântica e o conhecimento de mundo adquirido pela criança, bem como, suas vivências e experiências. Obviamente, essa prática não deve se valer tão somente no contexto em apenas corrigir possíveis erros gramaticas, ortográficos e de linguagem, mas apropriar-se da língua.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método fônico é considerado o melhor e mais eficiente método de alfabetização que contribui cabalmente para os transtornos da escrita e revela a importância de obtermos a consciência fonêmica no processo de alfabetismo.

Em contrapartida, apresentei a ineficácia dos métodos global e silábico, o primeiro por associar a imagem à palavra sem a devida decodificação por parte da criança e o seguinte método mostra uma falsa associação do grafema ao seu valor fonológico, como bem denunciou o Professor Carlos Nadalim, métodos dos quais, infelizmente, ainda são utilizados em muitas escolas brasileiras.

Portanto, vale ressaltar uma vez mais o que Dehaene (2012) defendeu: “...a aprendizagem plena e eficiente da ortografia, o enriquecimento do vocabulário, as nuances do sentido e o prazer do estilo dependem disso diretamente”. (DEHAENE, 2012, p. 236). Ademais, este método fônico capacita o alfabetizando a converter letras em grafemas dissecando cada letra em sons e transformando-os em imagens acústicas da língua, para posteriormente, as crianças desenvolverem atenção especial a atividade da caligrafia cursiva para ordenamento preciso dos traços e formas das letras e palavras e a devida concentração que os exercícios caligráficos exigem das crianças, beneficiando-as cabalmente; também, estimula a atenção, a concentração, o desempenho ortográfico e compreensão textual, tudo para evitar a disortografia em crianças e impedir que o transtorno perpasse por todo o ensino escolar.

8 REFERÊNCIAS

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Canongia, Marly Bezerra. Manual de Terapia da Palavra. 4. ed. Rio de Janeiro: Rio Medi Livros, 1988.

Dehaene, Stanislas. Os neurônios da leitura – Como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre: Penso, 2012.

Dias e Sebra. Métodos de Alfabetização: Delimitação de procedimentos e considerações para uma prática eficaz. Psicopedagogia – Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ISS 0103-8486 (online) 2179-4057. Ed. 87 – volume 28 – São Paulo. Ano 2011

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Frade. Isabel Cristina Alves da Silva. Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para educadores. Revista Glossário ISBN 978-85-8007-079-8. FAE – Faculdade de Educação da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.

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Nadalim, Carlos. As 5 etapas para alfabetizar seus filhos em casa – O guia definitivo. Londrina: Como Educar Seus Filhos, 2015.

Oliveira, João Batista Araújo e. Alfabetização de Crianças e Adultos – Novos Parâmetros. 9 ed. Uberlândia: Instituto Alfa e Beto, 2010.

Marcela Borges SantAnna
Enviado por Marcela Borges SantAnna em 14/04/2022
Reeditado em 14/04/2022
Código do texto: T7495054
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