O ENIGMA DE KASPAR HAUSER SOB UMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA

O ENIGMA DE KASPAR HAUSER SOB UMA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA¹

Antonio Carlos Valentini².

¹ Texto elaborado na disciplina de Linguagem E Ensino, Profa. Dra. Maria Ieda Almeida Muniz.

² Acadêmico do 4º período do curso de Licenciatura Em Letras Português-Inglês da UTFPR/Campus Pato Branco - 2/2020.

Resumo: Kaspar Hauser, um menino que passara a sua infância sem nenhum contato verbal ou social, em encarceramento, foi levado a uma comunidade alemã onde passou a ser objeto de curiosidade e estudo por não conseguir expressar-se, conceituar, raciocinar e, até mesmo, discernir sonho de realidade. Durante a sua convivência nesta comunidade, pôde ser observada a sua aquisição de linguagem, desenvolvimento linguístico e socialização em meio ao enigma que envolve a sua vida. À vista disso, o presente trabalho tem por objetivo – partindo do método de pesquisa bibliográfica – refletir sobre o processo de aquisição pelo viés sociointeracionista de Lev Vygotsky (1989). Dessa forma, ao analisar-se o processo de desenvolvimento e aquisição de Kaspar Hauser (1974), atesta-se que as influências de um grupo social são mais importantes para o desenvolvimento humano do que as questões biológicas. Nesse ínterim, observa-se a complexidade do enigma presente na vida de Kaspar, fruto de abalos causados por sua inserção em uma sociedade não preparada para encarar sua singularidade.

Palavras-chave: Socio-interacionismo. Lev Vygotsky. Kaspar Hauser.

The enigma of Kaspar Hauser from a vigotskian perspective

Abstract: Kaspar Huaser, a boy who had spent his childhood without any verbal or social contact, in incarceration, was taken to a German community where he became an object of curiosity and study because he was unable to express himself, conceptualize, reason and even discern dreams from reality. During his coexistence in this community, his language acquisition, linguistic development and socialization could be observed in the midst of the enigma that involves his life. In view of this, the present work aims – starting from the bibliographic research method – to reflect this acquisition process from Lev Vygotsky's socio-interactionist bias. Thus, when analyzing the process of development and acquisition of Kaspar Hauser, it is attested that the influences of a social group are more important for human development than biological issues. In the meantime, it is observed the complexity of the enigma present in Kaspar’s life, the result of concussions caused by his insertion in a society not prepared to face his uniqueness.

Keywords: Socio-interactionism. Lev Vygotsky. Kaspar Hauser.

1. Introdução

Histórias sobre crianças que foram abandonadas ou deixadas em contato apenas com animais fazem parte do imaginário dos povos. Esse imaginário está vinculado à mitologia romana, com a história dos gêmeos que foram amamentados por uma loba, Remo e Rômulo, além do caso de Victor de Aveyron, em 1788, na França (SACHETE; BRISOLARA, 2013).

Sachete e Brisolara (2013) informam que, durante a história, vários casos de crianças selvagens – privadas do convívio com a sociedade, não falando e adquirindo mobilidade singular – foram apresentados. Um desses casos consiste na história de Kaspar Hauser que, aos 16 anos, foi encontrado na comunidade de Nuremberg, Alemanha. Manuscritos alemães de 1812 sobre esse fato originaram filmes, como O Enigma de Kaspar Hauser (HERZOG, 1974), e livros, como The lost prince: The unsolved mystery of Kaspar Hauser (MASSON, 1997).

Diante disso, este artigo tem como objetivo analisar o percurso de desenvolvimento da linguagem de Kaspar Hauser, em uma revisão bibliográfica, tendo como base a teoria interacionista de Lev Vygotsky, dado que, Kaspar,

como não tinha contato com a sociedade até sua adolescência, foi privado da faculdade da fala, além de uma série de conceitos lógicos de raciocínio, que, por exemplo, não lhe permitiam diferenciar realidade de sonhos. Com o desenrolar da história, existe um aprendizado paulatino de Kaspar, devido a várias influências externas, que antes não eram possíveis. Dessa maneira, podemos relacionar os escritos de Vygotsky sobre a influência das interações sociais e condições de vida (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 115).

Para tanto, partindo de uma abordagem bibliográfica, mencionando artigos que já versaram sobre o tema em questão, apresentar-se-á a teoria sociointeracionista de Vygotsky, o enigma por trás da vida de Kaspar Hauser e fatos relevantes sobre o seu desenvolvimento com base nessa teoria.

2. Teoria sociointeracionista de Lev Vygotsky

A teoria sociointeracionista de Vygotsky tem como pressuposto que o conhecimento cognitivo de uma pessoa acontece através da interação social entre duas pessoas ou mais, as quais trocam experiências e informações, criando novos conhecimentos (SACHETE; BRISOLARA, 2013).

Isso acontece porque existem situações pelas quais a criança não consegue solucionar sozinha, precisando da ajuda de outrem, pois algumas de suas funções mentais ainda não estão desenvolvidas. Sendo assim, “as relações do homem com o mundo não são diretas, mas mediadas pela utilização de signos e instrumentos e de fora para dentro” (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 115). Para Vygotsky (1989), os signos são símbolos que têm algum significado – como o pensamento verbal, a linguagem escrita, a língua falada – e formam um sistema simbólico básico encontrado em todos os grupos sociais (Ibidem, 2013). Assim,

na ausência de um sistema de signos, linguísticos ou não, somente o tipo de comunicação mais primitivo e limitado torna-se possível. A comunicação por meio de movimentos mais expressivos, observada principalmente entre animais, é mais uma efusão efetiva do que comunicação (VYGOTSKY, 1989, p. 5).

Para Sachete e Brisolara (2013), os instrumentos consistem nas ferramentas usadas para transformar a natureza e mediar a relação do homem com o mundo. Dessarte, a

invenção e o uso dos signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, escolher) é análoga à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento de trabalho (VYGOTSKY, 1999, p. 52).

Por fim, cabe ressaltar que, na concepção da teoria sociointeracionista, através das mediações da relação do homem com o mundo feitas pelos instrumentos, os signos são internalizados, permitindo a interpretação de novos signos e novas assimilações (SACHETE; BRISOLARA, 2013).

3. O enigma de Kaspar Hauser

Kaspar Hauser apareceu pela primeira vez, em maio de 1828, em uma praça de Nuremberg, na Alemanha. Ninguém sabia de quem se tratava ou de onde vinha. Segurava uma carta de apresentação anônima, em sua mão, destinada ao capitão da cavalaria local, a qual dizia que fora criado sem nenhum contato humano, em um porão, desde o nascimento até os seus 15 ou 16 anos, e pedia que fizesse dele um cavaleiro como fora o seu pai (SABOYA, 2001).

Nessa praça, Kaspar não entendia nada do que lhe diziam. Não conseguia andar direito e sabia falar apenas uma frase: “Quero ser cavalheiro”. Ficou-se sabendo, posteriormente, quando K. Hauser aprendeu a falar, que uma pessoa, a qual ele não conhecera, cuidara dele enquanto estivera isolado, deixando-lhe alimentos enquanto dormia (Ibidem, 2001).

Conseguia enxergar muito longe, no escuro; sabia tratar os animais, principalmente os pássaros; tinha medo de galinhas. Era visto como um “garoto selvagem”, apesar de demonstrar ser dócil, simples e gentil, e causava às pessoas um misto de espanto e interesse devido ao seu comportamento estranho aos padrões socioculturais estabelecidos. Graças a sua curiosidade infantil e memória admirável, aprendeu várias coisas muito depressa, como, por exemplo, a tocar piano (Ibidem, 2001).

Kaspar Hauser tornou-se uma espécie de atração por sua história de vida diferente. Todas as pessoas da cidade queriam vê-lo. O filme de Herzog mostra, em uma das cenas, K. Hauser junto com outros indivíduos, tidos como anormais (um anão, um índio e uma criança autista), em exposição num circo (SABOYA, 2001, p. 107).

Um ano depois de ter chegado a Nuremberg, acolhido na casa de um professor que se ocupou de iniciar sua socialização, foi ferido e recebeu um grande corte no rosto. Em dezembro de 1833, recebeu outro ferimento, o qual foi fatal (Ibidem, 2001).

Saboya (2001) alude que Herzog (1974) sugere, em seu filme, que os dois ferimentos sofridos K. Hauser foram tentativas de assassiná-lo cometidas pelo próprio pai. Todavia, existem muitas outras hipóteses levantadas para explicar a sua morte, como as propostas pelo livro de Masson (1997). Esta variabilidade de hipóteses é o que caracteriza o enigma que existe por trás da vida de Kaspar Hauser.

Saboya (2001) aponta duas hipóteses:

A primeira diz que Kaspar Hauser seria um mendigo espertalhão que fingia ser pobre de espírito para atrair a simpatia alheia. Dentro dessa visão, ele próprio teria se ferido para atrair mais atenção, ao perceber que o interesse dos outros por sua figura estava diminuindo. A segunda explicação trabalha com a hipótese de que Kaspar Hauser seria neto de Napoleão Bonaparte (SABOYA, 2001, p. 108).

Nessa perspectiva, Saboya (2001) revela que o livro de Masson (1997) oferece documentação variada sobre a segunda hipótese e que, segundo este, teria sido o Conde de Stanhope, contratado para aproximar-se do garoto, fingindo ser um amigo que queria protegê-lo, o responsável pelas duas tentativas de assassiná-lo. Porém, esta tese foi refutada por um exame de DNA – comparando restos de sangue encontrados na roupa de Kaspar Hauser com o sangue de duas mulheres ainda vivas da dinastia de Baden –, cujo resultado, revelado em abril de 1997, mostrou que Kaspar não era herdeiro do trono.

Vale ressaltar que, uma vez atingido mortalmente, no momento da autópsia, é verificada uma “anomalia” no cérebro de Kaspar e o cerebelo muito desenvolvido. Isto é explicado no filme como uma descoberta capaz de desvendar o porquê de seu comportamento diferente e questionador; mas torna-se, contudo, mais uma parte do enigma presente em sua história (CLETO; ALMEIDA, 2016).

4. Análise do percurso de desenvolvimento de Kaspar Hauser de acordo com a concepção sociointeracionista

Kaspar Hauser, mesmo antes de nascer, já tinha seu futuro inserido no meio cultural dos homens, pois, de acordo com a teoria sociointeracionista (SACHETE; BRISOLA, 2013),

o ato biológico do nascer tem, no mundo humano, o caráter de um evento cultural […]. Antes mesmo de ser concebido, o futuro ser já faz parte do universo cultural dos homens, seja como objeto do desejo de quem aguarda ansiosamente sua chegada seja como objeto do medo ou da recusa de quem considera sua chegada uma eventualidade indesejada. De qualquer forma, é um fato inegável que a simples expectativa do nascimento de uma criança sacode profundamente o mundo das relações sociais no âmbito do grupo familiar, o que permite afirmar que no imaginário social, antes mesmo do nascer, aquela ocupa já um lugar na sociedade humana, estando sua existência atrelada às condições reais de existência que lhe oferecerá seu meio cultural (PINO, 2005, p. 151).

Criado dentro de um espaço pequeno e escuro, Kaspar não tivera contato com nenhum ser humano, apenas com um cavalinho de madeira, visto que quem cuidara dele apenas lhe deixava água e comida. Porém, por volta de seus 16 anos de idade, o senhor que lhe cuidara o tirou de seu enclausuramento e o ensinou a andar e falar uma única frase: “Quero ser cavaleiro, igual ao meu pai”. E foi assim que ele foi deixado na praça de Nuremberg: pronunciando uma única frase e andando mal (Ibidem, 2013).

Não fazendo parte do padrão que a sociedade via como correto e, por isso, chamando a atenção de todos, Kaspar foi ajudado e avaliado pelas autoridades locais:

Kaspar não soube responder corretamente o que estava fazendo ali, então o morador viu que a carta que Kaspar segurava era endereçada ao Capitão da Cavalaria, e o levou até a casa do capitão. Quando o capitão o recebeu, Kaspar só repetia a única frase que sabia (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 117).

Assim, sem ainda conseguir compreender o mundo e sentindo-se confuso, Kaspar foi aprendendo a falar. Pois, para compreender o mundo, é necessária uma mediação humana que auxilie a criança na transformação de ser biológico para ser cultural. Ou seja, “para que a criança chegue a um ser cultural, ela deve ter acesso aos bens culturais, materiais e espirituais, necessários para a existência humana” (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 117).

Então, o professor Daumer conheceu Kaspar e o levou para casa a fim de ensinar-lhe os ritos de convivência social como linguagem, música e costumes e também estudar como acontecia esse processo de aprendizagem em um adolescente (Ibidem, 2013). Nesse contexto,

a constituição da criança como um ser humano é, portanto, algo que depende duplamente do Outro: primeiro, porque a herança genética da espécie lhe vem por meio dele; segundo, porque a internalização das características culturais da espécie passa, necessariamente, por ele, como o deixa claro a análise de Vygotsky (PINO, 2005, p. 154).

Diversos momentos do desenvolvimento cultural de Kaspar merecem ser mencionados: bem no início de sua interação, quando descobriu, ao tocar a chama de uma vela, que ela queima; quando foi questionado perante a existência de Deus, sem ao menos ter ouvido falar sobre; quando mostraram-no a diferença entre as maçãs verdes e vermelhas, e seu período de maturação. Kaspar não conseguia distinguir ações características de cada objeto ou pessoa, “associando características humanas a objetos inanimados e vice-versa” (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 120).

Dessa forma, sem ter nunca interagido com pessoas e com a natureza antes de seus 16 anos, começou o seu processo de aquisição da linguagem e a inserção social somente na adolescência. Embora tivesse que aprender tudo como se fosse uma criança, a sua visão e audição muito aguçadas, desenvolvidas na vida de aprisionamento, ajudaram-no nesse processo. Passados dois anos, Kaspar adquiriu a capacidade de comunicação e mostrou interesse pela música e pelo piano (Ibidem, 2013).

Para essa socialização, o professor Daumer levou Kaspar para diversos locais, por exemplo, a torre na qual ficou detido enquanto o capitão da cavalaria decidia o que fazer perante Kaspar. Nesse momento, Kaspar demonstrou uma falta de noção sobre a distância, o tamanho e a proporcionalidade. Falou que apenas um homem muito grande poderia ter construído uma torre tão enorme (Ibidem, 2013). Isso realça que

o desenvolvimento cultural da criança é o processo pelo qual ela deverá apropriar-se, pouco a pouco, nos limites de suas possibilidades reais, das significações atribuídas pelos homens às coisas (PINO, 2005, p. 152).

Em um dado momento posterior, Kaspar falou para o professor que tivera um sonho. Daumer ficou feliz, pois antes Kaspar não conseguia diferenciar sonho de realidade. Durante todo o tempo em cativeiro, Kaspar nunca sonhara, só começando tal ação como resultado de novas associações com a experiência (Ibidem, 2013):

Ele já está na idade adulta, mas a aprendizagem não se deu quando era criança, fazendo com que não adquirisse a experiência necessária para o amadurecimento de sua imaginação (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 120).

Em seguida, Kaspar começou a desenvolver algumas escolhas individuais, como na passagem em que saiu da igreja por achar que os cantos dos fiéis pareciam gritos. Também, ficou deprimido com a sua condição, pois passou a reconhecer as suas próprias limitações e a questionar o seu lugar no mundo (Ibidem, 2013).

Por conseguinte, Kaspar sofreu dois atentados, sendo o segundo fatal. Em seu leito de morte, conseguiu contar a história do sonho que tivera: uma caravana a atravessar o deserto do Saara liderada por um cego. Por um tempo, a caravana sentiu-se perdida, garantindo que havia montanhas no caminho, até que o cego provou um punhado de areia e disse que não, ou seja, sendo apenas a imaginação. Então, a caravana seguiu para o norte, encontrando uma cidade. Kaspar não lembrou o que se sucedeu na cidade (Ibidem, 2013). Nesse contexto,

uma possível interpretação desse sonho seria uma alusão à cegueira imposta pela manipulação da sociedade sobre as pessoas, sem questionamento, apenas aceitação (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 122).

Após a sua morte, o seu corpo foi estudado e foram notadas algumas características biológicas relevantes, tais como:

fígado aumentado, cerebelo muito desenvolvido e o hemisfério esquerdo do cérebro menos desenvolvido. Estas características biológicas do cérebro eram as que lhe davam habilidades para a música, embora apresentasse outras limitações (SACHETE; BRISOLARA, 2013, p. 122).

Assim sendo, a tendência era colocar a culpa da falta de sociabilização de Kaspar Hauser em alguma causa biológica, a fim de tentar isentar a sociedade da época com as suas regras sociais que determinavam um padrão a ser seguido (Ibidem, 2013):

O século XIX, época em que Kaspar Hauser viveu, foi um período marcado pela perspectiva positivista, evolucionista e desenvolvimentista. A visão de que havia um modelo de civilização e de desenvolvimento a ser alcançado, tanto pelos homens, como pelas sociedades, estava em seu auge (SABOYA, 2001, p. 109).

5. Conclusão

Kaspar Hauser fora mantido em cativeiro, sem nenhum contato com a sociedade e com o mundo exterior, até os seus 16 anos. Ao ser deixado em uma comunidade alemã, passou a ser visto como díspar, ao não saber falar nem se comportar de acordo com os costumes culturais da época. Isto evidencia a dificuldade e a falta de preparação das pessoas para lidar com o diferente, preferindo permanecer na conformidade.

Kaspar foi abrigado e ajudado pelo professor Daumer, o qual o ensinou a linguagem, os costumes e ritos da sociedade, proporcionando-lhe acesso aos bens culturais, materiais e espirituais na tentativa de incluí-lo na convivência social. Mesmo aprendendo aos poucos a falar, escrever e conviver, era rejeitado pela sociedade, devido ao seu passado, o que culminou no assassinato. Essa rejeição explica o fato de não se sentir parte da sociedade, chegando até a falar que estivera melhor dentro do cativeiro do que fora dele (Ibidem, 2013).

Nesse sentido, este artigo procurou relacionar seu processo de desenvolvimento e aquisição, após sair do cativeiro até sua morte misteriosa, pela ótica interacionista de Vygotsky. Isto posto, a história de vida de Kaspar Hauser comprova que as influências de um grupo social são mais importantes para o desenvolvimento humano, a “humanização” e a aquisição de linguagem do que as questões biológicas.

Outrossim, este artigo apontou a complexidade do enigma presente na vida de Kaspar. Este enigma sendo fruto dos abalos causados pela inserção do menino em uma sociedade “civilizada”, a qual não soube encarar o diferente e valorizar a capacidade que Kaspar tinha, mesmo com seu processo de aquisição de linguagem não sendo na idade ideal, mas tardio.

Referências

CLETO, E. A. T.; ALMEIDA, C. R. de. O Enigma de Kaspar Hauser e a importância da linguagem no processo socializador. Revista Café com Sociologia. Vol. 5, no. 2, p. 166-178, mai./ago. 2016. Disponível em: <https://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/article/view/601>. Acesso em: 15 abr. 2021.

HERZOG, W. (1974). Jeder für sich und Gott gegen alle. Alemanha: ZDF Produções (Original: Cada um por si e Deus contra todos. Traduzido como: O Enigma de Kaspar Hauser).

MASSON, J. M. (1997). The lost prince: The unsolved mystery of Kaspar Hauser. New York: Free House.

PINO, Angel. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da criança na perspectiva de L. S. Vygotsky. São Paulo: Cortez, 2005.

SABOYA, M. C. L. O enigma de Kaspar Hauser (1812?-1833): uma abordagem psicossocial. Psicologia USP. Vol. 12, no. 2, p. 105-116, 2001. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/63375/66118>. Acesso em: 07 abr. 2021.

SACHETE; BRISOLARA. Análise Vigoskyana do filme O Enigma de Kaspar Hauser. Signo. Santa Cruz do Sul. Vol. 38, no. 65, p. 114-124, jul./dez. 2013. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/4180/3212>. Acesso em: 15 abr. 2021.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.