Uma referência a inocência
Conversa de pedagogia:
Conforme as minhas observações, o que ocorre com a nova geração infanto-juvenil é que às crianças estão tendo um processo de desenvolvimento muito rápido, e não têm tempo de fazerem as suas criatividades naturais. A televisão, o computador e os gemas estão roubando esse espaço. Salvo quando na escola a professora aplica trabalhos de desenvolvimentos intelectuais, mas nem sempre o aluno faz a continuidade fora da escola. A criança até aos 8 anos têm suas criatividades espontânea, brinca só ou acompanhadas. A criança carente em que seus pais não têm recursos financeiros para comprar brinquedos vai brincar na frente de sua casa ou no fundo do quintal quando existe. Reúne com irmãos ou vizinhos e arranjam objetos naturais para fazerem as brincadeiras com; pau, pedra, galhos, folhas, panos, corda, cordão, tampa de refrigerante, lata, prego, ferro e etc. Cria assim seu mundo de fantasia, independente dos ensinos dos pais ou da escola. É nesta fase que os pais devem observar o comportamento da criança e analisar o seu grau intelectual. Como também, reparar as suas coordenações motoras, os sentidos da visão, audição e fonética. Para que no amanhã não seja uma surpresa. É a fase mais importante no desenvolvimento, é o período mais doce e lembrado do ser humano, vejamos: Em casa de um parente, na festa junina, vi duas meninas a correrem, brincando com fogos e fazendo fogueira, tudo com gritos e sorrisos. Coisa bela! Próprio da idade ( 9 a 10 anos ) e ainda brincam de bonecas. São fantasias maravilhosas, criações de todas as meninas normais. São esses momentos que nós adultos sentimos saudades da nossa infância. São fatos vividos e que muitas vezes deixaram marcas em nosso corpo e em nossa mente. Como esta narrativa que segue abaixo: BRINCADEIRAS DO MEU TEMPO.
“Montar em cabo de vassoura e andar aos pulos pela casa, como se fosse galope de cavalo. Na cabeça um chapéu feito de papel e uma vara na mão. Poderia ser também, em dias de chuvas a fazer tanques e a soltar barquinhos de papel. Vê a irmã com outras meninas a picar os retalhos de panos velhos e novos para fazerem deles feios e desengonçados bonecos e saiotes, chamando-os de filhos. Por outras vezes, elas se fingiam de dona de casa e iam “morar” nos ranchos feitos no fundo do quintal ( refugio de toda a criança, quando mora em casa) onde aprontavam “comidinhas” em miniaturas de utensílios domésticos de cerâmicas de panelas, pratos, copos, moringas e etc. ou depositavam em latas de manteiga pequenas e punham no sol em grandes tabuleiros cheios de “cocadas”... da terra.
E eu quase sempre brincava após estudos de construtor de “casas” para formigas ou empinando a minha bonita “arraia” ou pipa e que outros chamam de “papagaio” de papel de seda. Ou então, estava eu a perseguir cigarras, mimosos colibris, sapos medonhos e borboletas douradas e multicores. Jogava com vizinhos bolas de gude. Adorava fazer bolhas de sabão em canudos de mamoeiro. Em casa, fazia o meu castelo de cartas e por várias vezes relia os livros de histórias de Pedro Malazarte, era uma delícia, viajava para países das naturezas vivas. E o encantamento dos livros de Monteiro Lobato. Já eram leituras suficientes nos meus anos de sorrisos.
Ficávamos eu e minha irmã na janela da frente da casa a ver passar os transportadores em carroças ( transporte de madeira tipo caixote, com tração animal, sobre rodas de pneus) seguindo ruas em frente, e os mercadores ambulantes cada vez mais sonoros”.
A narrativa acima mostra as lembranças da infância feliz que a personagem soube tão bem descrever no âmago da saudade. A pureza do pensamento infantil, o apego real e os amores das coisas simples do seu cotidiano.
Se os pais não têm tempo para ensinar o que é de mais puro para a criança, quem poderá ensinar? O professor? Lembra-se que “ a fina linha que separa a inocência da perdição é muito tênue e curta.” Por essa razão, os pais devem observar e dar vazão a todas as brincadeiras dos filhos. O tempo se encarrega de lembrar para as crianças os fatos bons e ruins.
“ Ah! Que saudades que eu tenho
da aurora da minha vida
da minha infância querida
que os anos não voltam mais.”
( autor: Cassemiro de Abreu )
Esta muito longe do que são hoje as brincadeiras das crianças. As palavras de Jean Pierre Ménard, ainda fazem menção honrosa no pensamento moderno, sobre as crianças, ele diz: “ O mal do nosso século é que ele perdeu a candura e a sinceridade. As crianças são desfloradas prematuramente. A vida lhes aparece o mais cedo possível, cheia da amargura que lhes da o conhecimento do egoísmo e da grosseria dos homens. Por toda a parte só se respira um ar viciado de medo e maldade alheia. Desde os primeiros passos na vida, o pequeno ser sabe o que ela tem de mal e logo se torna velho. As crianças são velhas pequenas, pós sua sabedoria começa aos 5 anos de idade, espantam os sábios mais idosos. Dizem coisas que no meu tempo só adulto dizia. Revela na ingenuidade o que o adulto reprime. Aos trinta anos o homem tem uma velhice na alma.”
Basta lembrar que já temos vários meios de comunicações em avançados sistemas tecnológicos e que fazem qualquer cabeça esquecer a ingenuidade. O necessário cria-se, o indesejável esquece, é o progresso. Porém, se nós não preservarmos os nossos valores o que será do nosso futuro?
Enquanto o ser humano tem sentimentos; dor, alegria, amor, felicidade, fé e lágrimas as crianças sempre estarão presente em nossa vida com seus sorrisos, com seus gritos, choros, algazarras e com suas perguntas inocentes isso, ninguém muda.
A criança de hoje não é a mesma de ontem e nem será de amanhã.
Álvaro B. Marques
22.03.2008