Idosos na universidade
Os dados mais recentes do Censo de Educação Superior apontam um crescimento cada vez maior de pessoas com mais de 60 anos ingressando em novos cursos superiores, ou fazendo a primeira experiência universitária. O último censo mostra mais um recorde.
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Ao mesmo tempo percebe-se o declínio no nascimento de filhos e o aumento do número de idosos no mundo todo, especialmente no ocidente. A indústria farmacêutica vende cada vez mais produtos antidepressivos para amenizar a vida dessas pessoas que lutaram a vida toda e agora, muitas, sentem-se descartadas pela sociedade, ou simplesmente um peso nas famílias.
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O mercado de trabalho afunda ainda mais essa parcela da população, numa espécie de descarte. Quem passou por essa experiência sabe o quão é pesado o sentimento de desnecessário, ou sem utilidade nenhuma. Sua experiência e conhecimento de nada parecem valer para o mercado de trabalho. Esse só tem olhos e interesses para carinhas bonitinhas, sedutoras, que podem ser usadas a seu bel prazer, pois dependem do empregador interesseiro.
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Dessa forma, nem sempre o ingresso em curso superior deveria visar o mercado de trabalho em vista de encontrar ocupação. Ao contrário, depois de terminar o curso escolhido poderá afundar ainda mais na amargura da vida, pois não há nenhuma garantia que o mercado de trabalho irá absorver essa mão de obra qualificada, mas envelhecida.
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Até nas organizações religiosas o descarte parece ser uma tônica, mesmo não se configurando mercado de trabalho. Tantas vezes o envelhecimento de uma pessoa numa comunidade é fator para logo ser deixada de lado. Nunca esqueço o testemunho de meu pai, já falecido, que cuidava do dízimo numa comunidade e da noite para o dia os dirigentes chegaram para ele dizendo que ele estaria dispensado daquele trabalho; agora ele poderia descansar; já tinha trabalhado tanto! Agora a comunidade estava implantando um sistema informatizado e assim aquilo que ele fazia nos cadernos, registrando tudo, seria feito pela máquina. Muito triste, meu pai me falou e eu infelizmente não consegui reverter.
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Parece que grande parte das organizações sociais irá manter a rotina do descarte dos idosos em quase todas as atividades. Eles serão importantes para as clínicas de repouso, de fisioterapia, de pilates. Que realidade triste! Teremos cada vez mais um problema social em que nossas organizações não possuem o mínimo para enfrenta-lo.
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Então essa notícia do Censo da Educação Superior se apresenta como uma coisa muito importante para a vida das pessoas que chegam aos cinquenta, sessenta, setenta anos ou mais. As instituições de ensino têm absorvido essas pessoas de maneira muito acolhedora. Gostaria de ver também absorver professores/as que se aposentaram, pois eles também são descartados do mercado de trabalho educacional. Seria tão importante ter professores idosos dando aulas para outros idosos, misturando-se com a turma nova.
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Enfim, idoso não é para cuidar de criança, de neto, de cachorrinho de neto, etc. A casa do idoso não é lugar para ser ocupado com funções que só trazem peso. Como me doía sentir uma vizinha sendo responsável pelo pet que a netinha tinha deixado para ela cuidar enquanto frequentava as aulas! Quanta pena eu senti também daquele pet que batia na porta querendo dar um passeio na rua enquanto a vovó estava descansando à tarde!
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O ingresso de idosos em cursos superiores com certeza lhes dará um novo projeto de vida, um novo horizonte, novos direitos. A sua casa deverá estar preparada para ter um novo estudante. Alguém deverá ajudar o vovô ou vovó a lidar com as novas ferramentas tecnológicas, especialmente aquelas relativas ao ensino EaD.
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Ao mesmo tempo nossa luta para que a sociedade e suas organizações se transformem humanamente, estacando o processo de descarte da pessoa idosa. O processo de inclusão social hoje tem nesse segmento uma alta demanda. Os idosos são literalmente excluídos.
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Bons estudos galera dos cinquenta em diante. Olhem para frente, para o alto, para o horizonte. O conhecimento será a sua cura.
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