As possibilidades de ensino aprendizagem da Paideia nas aulas de Filosofia
PAIDEIA GREGA: TÓPICOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Na formação cultural do povo grego, a educação estava totalmente focada em formar cidadãos aptos a exercer cidadania. Essa formação estava alicerçada em valores cujo objetivo era estabelecer a vinculação necessária entre os saberes filosóficos e os ideais de uma construção virtuosa do indivíduo, inseridas em um grande projeto/processo educativo.
Tais projetos, podemos resumir como o Período Homérico: através de poesia épica (HOMERO, HESIODO), os quais formaram a Paideia grega, como o cumprimento de um ideal, a kalokagathia (Areté: Orgulho, Moralidade, Valor); no período Clássico, com Sofistas, habilidade argumentativa; Sócrates Platão- Aristóteles, cujo maior projeto de valor é a Sabedoria como fim.
Como podemos perceber, a Paideia grega tem fortes ligações entre educação e valores, ou seja, a formação o homem grego estava sempre vinculado à caracterização geral de formação cultural da civilização grega.
Ao falar de Paideia grega, a formação política do homem grego sempre mereceu destaque entre diversos filósofos, principalmente em Sócrates, Aristóteles e diversos Sofistas, cujo maior expressão foi Protágoras. Sócrates é considerado o educador por excelência, uma vez que seus ensinamentos através dos diálogos estavam seriamente comprometidos e
se desdobravam em direção à estrutura do Estado e da sociedade. Contrariando interesses políticos já período clássico, Sócrates foi acusado de “mau democrata”, pois defendia que não deveria haver interferência políticas nas assembleias, pois para ele, o que era importante neste espaço seria o fiel conhecimento das coisas. Certamente tal posicionamento socrático tenha levado o ateniense ao tribunal da morte.
Em Aristóteles, há uma profunda vinculação da Excelência humana e com a formação da pólis, pois a construção de um ethos (caráter) passa necessariamente pela participação política que busque a realização de um bem comum para todos, pois:
Considerado sob o ângulo da autossuficiência, o raciocínio parece chegar ao mesmo resultado, porque o bem absoluto é considerado como autossuficiente. Ora, por autossuficiente não entendemos aquilo que é suficiente para um homem só, para aquele que leve uma vida solitária, mas também para os pais, os filhos, a esposa,
e em geral para os amigos e concidadãos, visto que o homem nasceu para a cidadania. Mas é necessário traçar aqui um limite, porque, se estendermos os nossos requisitos aos antepassados, aos descendentes e aos amigos dos amigos, teremos uma série infinita (ARISTÓTELES, 1991, p. 15).
Mais ainda, Aristóteles defendia que a única forma de o homem realmente encontrar o belo e bom, ou belo e virtuoso seria realizada na pólis, somente ali o homem pode encontrar o que chamamos de kalokagathia, de Kalós e Agathós aristotélico. Segundo Coad (2006, p. 80):
Aristóteles ensinou que se a pessoa não adquire os princípios do
comportamento ético na família, ele deverá encontrá-los na comunidade. Assim, é a comunidade que educa e para a comunidade
que uma pessoa deve continuamente contribuir. O ideal de Kalós
Kagathós pode somente estar presente no indivíduo completo que são senhores de todas as virtudes e um respeitável membro
da comunidade.
Os sofistas são considerados os primeiros profissionais da Educação, os primeiros professores pagos, que se organizaram como classe. Eram, antes de qualquer coisa, educadores e mesmo professores itinerantes, indo de uma cidade a outra para lecionar. Protágoras (480 a.C-410 a.C.), reputado como o maior representante entre os sofistas, tinha duas classes de alunos: os provindos de classes nobres e que desejavam entrar na política e aqueles que
estudavam para fins profissionais, ou seja, almejavam tornarem-se sofistas. Na verdade, os sofistas, mesmo com duras críticas de filósofo como Platão, acusando-os de corromper os valores morais, serem superficiais, destruidores, enganadores propositados, ainda assim contribuíram muito para a filosofia política e com a disseminação da educação grega.
Com os sofistas houve uma democratização do ensino, que até então era apenas destinado à aristocracia. A preocupação dos sofistas abarcava os problemas humanos acerca do nómos ou das convenções sociais. Houve o fim de todo tipo de manutenção
do status quo. Passou-se a considerar que tudo é fruto de significação e não de designação, e que aquilo que se sabia das coisas era fruto de crença e não de conhecimento.
Vejamos o que diz Villagra Diez (2002, p. 9, tradução nossa):
Pouco a pouco se abandona a aristocrática arete pindárica e
se substitui por uma Paidéia que aposta em um duplo objetivo: por um lado, fazer membros da sociedade a todos os homens livres e, por outro, torná-los aptos a servir ao estado. A cultura torna-se, então, político-pedagógica. Nesse contexto, surge a educação sofista, ainda que, na verdade, esta se oriente à formação daqueles capazes tanto de fazer cumprir as leis vigentes, quanto de criar leis, para o qual é necessária a intelecção dos assuntos humanos. Com efeito, um homem dedicado à política, além de possuir qualidades para governar, deve incrementar sua capacidade de pronunciar discursos oportunos e convincentes. Em um estado
democrático que se funda a assembleia pública e a liberdade da
palavra, a oratória se apresenta como uma prática indispensável.
Em uma palavra, necessita-se educar no logos.
Dito isto, na visão dos filósofos supracitados e as contribuições de cada para a civilização grega, e para melhor para melhor intercâmbio entre teorias e práticas, elegemos dentre os diversos temas da Paideia, a formação política para educação integral do homem. Para tanto, aplicamos uma entrevista composta de cinco perguntas a alunos, que seguem: Como você concebe hoje a educação brasileira? Como você vê as disciplinas de Filosofia, Sociologia nas escolas? Acha importante? Por quê? Na sua concepção, quais são os valores educacionais hoje para a sociedade? O que nos identifica como cidadãos brasileiros? Quais valores deveriam perseguir? Você acharia importante uma educação cujo maior objetivo fosse a formação cultural, e o maior projeto educacional fosse a Sabedoria para uma vida de valores em que a vida fosse uma busca constante pela Virtude (Excelência)?
Como visto, a Paideia representa o fundamento sobre o qual se assenta toda a cultura ocidental. Todas as culturas envolvem o fenômeno da Educação em suas múltiplas dimensões (social, afetiva, cognitiva, política e outras). Por isso, para compreender em que consiste nosso próprio modelo de Educação, é importante conhecermos como se estruturou esse primeiro modelo educativo, a Paideia grega. Na contramão disso, a educação brasileira está cada vez mais atrelada à finalidade do mercado financeiro, a utilidade prática. Tudo que não servir à vida trabalhista deve ser relegado ao fracasso.
Os estudantes cada vez mais desinteressados, pois o ensino se transformou de forma tão utilitarista que os estudantes estão fugindo dele, uma vez que sequer acreditam na escola como fonte de conhecimento e crescimento. Inclusive é cada vez mais recorrente a fragmentação do ensino, das disciplinas, que elas se isolam em emaranhados de informações solitárias do mundo. Tudo isso, podemos dizer que traz uma falta sentido na vida escolar, o que gera mais problema no dia a dia das escolas. Se por um lado, os alunos são cobrados socialmente pelos resultados escolares, por outro, se veem cada vez mais fora de sintonia com vida escolar.
Tal discurso também é oficial, pois nos projetos de mudanças na educação os governos buscam atender cada vez mais interesses de investidores e grupos políticos, os quais têm uma visão totalmente utilitarista na educação brasileira.
Desta forma, a sociedade precisa repensar o projeto educacional do país. Precisamos de uma formação integral do homem na qual o maior objetivo seria liame em prol da Sabedoria. A sociedade precisa reavaliar seus padrões sociais: atualmente, é cultuado o imediatismo, o utilitarismo educacional; rever valores do capitalismo e do consumo, da estética e arte. Diferente dessa abordagem educacional, para os gregos, a educação deve ser o cultivo do corpo e da alma, a qual dava unidade à concepção grega de educação. Ou seja, o corpo deve estar harmoniosamente ligado à alma, de modo que o corpo sirva a alma, à inteligência.
Ademais, o exercício do logos deve estar a serviço não só do indivíduo, mas da comunidade como um todo, pois o indivíduo está para a pólis e a pólis está para o indivíduo. Portanto, o indivíduo deve ser educado de modo que possa exercer adequadamente suas funções na sua cidade-estado.
Por Manoel Serafim
Grad. Letras, Filosofia, Especializando em Ciência Política
Academia de Ciências, Letras e Artes Capistrano de Abreu