Exclusão na educação: mais um desgosto de agosto
Certamente você já ouviu a frase “agosto é o mês do desgosto” e fez algum comentário sobre infortúnios ocorridos no período. Em vários países o dito é repetido, cada qual com suas justificativas. Por aqui o tempo fica seco, a poeira aumenta, o calendário parece avançar mais lentamente e sempre existe alguma uma tragédia como o incêndio na fábrica de Barueri que vitimou uma mãe e seus três filhos. No cenário mundial, agosto de 2021 marcará a saída das tropas estadunidenses do Afeganistão e suas tristes consequências, entre as quais as explosões que vitimaram centenas de pessoas, sendo 72 fatais.
Existem alguns desgostos que surgem das palavras e pensamentos e cujos impactos também são devastadores. As recentes declarações do ministro da Educação podem ser incluídas nesse rol. Inicialmente disse que crianças com deficiência atrapalham, depois criticou os pobres que buscam diploma universitário. Curiosamente, além de pastor, advogado e teólogo, o ministro possui doutorado em Educação, currículo que o capacitaria para ser uma pessoa e um político mais consciente, sensível e solidário. Ocorre que essas virtudes parecem não constar dos requisitos para assumir tão importante pasta no atual governo, basta olhar seus antecessores e os colegas de outros ministérios que, em discursos e ações, insistem na sanha de desarticular conquistas sociais históricas, destilando ódio e preconceito.
A nova teoria defendida pelo governo federal retoma o modelo retrógrado e excludente que acreditava que educação superior era apenas para a elite e que as pessoas com deficiências deviam ser apartadas do convívio geral. Como o controle social e a participação popular nas políticas públicas estão sendo boicotados, restam poucas vozes para denunciar tamanho absurdo.
Analisando nossa história recente, recordamos que em 2016, quando 45 milhões de brasileiros tinham algum grau de deficiência, começou a vigorar a Lei 13.146, conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência ou Lei Brasileira de Inclusão, que busca garantir autonomia e capacidade para o exercício de atos da vida civil em condições de igualdade com as demais pessoas. Na educação uma das metas era desenvolver um projeto pedagógico que garanta atendimento educacional especializado, com fornecimento de profissionais de apoio e construindo um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades de ensino.
Quanto ao ensino superior, houve uma grande expansão no século XX, porém não garantia acesso dos mais pobres. Somente nos anos 2000, com a implantação das políticas afirmativas, a situação começou a mudar e essa parcela da população começou a ocupar os bancos universitários. Em 1995, estudantes oriundos dos 20% mais pobres da população representavam somente 1% do total de alunos; o índice chegou a 6% em 2016. A presença dos estudantes carentes, em especial dos negros sempre incomodou seja por simples preconceito ou pela preocupação da formação de uma massa pensante e, por consequência indominável.
A negação da ciência, o combate ao pensamento crítico, a disseminação do ódio e o incentivo à exclusão são alguns dos diversos paradoxos que constatamos em quem defendeu implantar uma gestão baseada nos princípios judaico-cristãos. Talvez tenham esquecido que Jesus Cristo – O Mestre dos mestres - sempre praticou o respeito e a inclusão, foi assim quando encontrou a samaritana na fonte, acolheu crianças e prostitutas, curou cegos, leprosos, paralíticos e mudos; deu atenção aos cobradores de impostos e pessoas que eram consideradas inimigas dos judeus, além de perdoar os que o crucificaram.
Diferente do que prega o ministro, nos últimos quatro anos as oportunidades de emprego só avançaram entre aqueles com ensino superior e, para escapar do desgosto de viver em um país atrasado na ciência, tecnologia e, principalmente nas relações sociais, precisamos da inclusão estruturada dos alunos com deficiência, através de equipes e meios necessários, auxiliando na formação e desenvolvimento de suas habilidades. Possibilitaremos, assim ainda, a todo o conjunto escolar experimentar a diversidade humana, formando pessoas capazes de construir uma sociedade mais justa e igualitária.