EDUCAÇÃO NO BRASIL (dia do professor)
(TEXT0 PUBLICADO NO JC EM 15.10.2002 – PERGUNTO: MUDOU ALGUMA COISA?)
Estou em dúvidas. 15 de outubro, feriado escolar, dia do professor. Ótimo para a meninada, que não tem que ir na escola e aproveita esta primavera escaldante para poder desfilar com pouca roupa ou cair nas piscinas. Mas será que a data merece ser comemorada em nosso país, onde o ensino é um dos mais atrasados do planeta? Desafio que me desmintam! Alguém conhece algum aluno, seja da rede pública, seja da privada, que, a despeito de ter assistido por vários anos aulas de inglês, consiga uma conversação nesse idioma? E as apostilas fornecidas (e vendidas) pelos colégios, que são meras reproduções de trechos de livros adotados em cursos superiores, incompreensíveis até mesmo para o mestre que as adota?
Pior: e as fábricas de diplomados em cursos superiores, que despejam anualmente milhares de analfabetos no mercado de trabalho, em prejuízo da população que acredita no “doutor”, e em benefício dos “donos” da educação em série, cada vez mais enriquecidos?
Alguém ousa responder a estas indagações?
Será que um dos candidatos ao mais alto cargo da nação está pensando em resolver esta questão? Só vejo falarem em desenvolvimento econômico, geração de empregos, remédios (e não saúde), combate à violência e tantas outras baboseiras que não são causas, mas conseqüências de nosso subdesenvolvimento. Na verdade, observamos a luta pelo poder e para o poder, sem nenhum idealismo ou proposta séria para extirpar de vez as causas. Pouco importam as alianças espúrias, desde que o objetivo seja alcançado.
O povo?
Quanto mais ignorante, melhor.
Professores capacitados?
Para que?
O que se ganha com a educação?
Melhor ser analfabeto e ser dono de uma grande empresa, ou ser político populista, iludir o eleitor com demagogia e falsas promessas, e vencer as eleições.
Ah! Que maravilha é o poder! Cultura?
Não rende dinheiro. A própria A.B.L. relega bons escritores. Agora importa apenas o que vende. É isso aí, gente! Vamos dar bastante remédio para o povo (poderíamos dar também a doença), vamos construir bastante cadeias, distribuir livros de esoterismo, misticismo e outros cabalísticos através do Ministério da Educação e Cultura. Escolas sérias não são necessárias, são coisas de um passado distante. Em compensação, vamos lotear o ensino superior, distribuindo aos privilegiados donos das fundações o direito de fabricarem doutores a peso de ouro. Professor?
Apenas mais um operário desqualificado.
Por que, então, comemorar o seu dia?
(a.l.fontela)