Paulo Freire, o pedagogo da esperança

O educador Paulo Freire (1921 - 1997) é um dos intelectuais brasileiros mais respeitados e influentes no Brasil e no mundo, leitura obrigatória para quem é professor. Domingo, dia 19, comemoraremos 100 anos do seu nascimento.

Quando digo "leitura obrigatória", destacaria, pelo menos, seus livros Pedagogia do oprimido (1967), sua obra mais conhecida e influente, e Pedagogia da autonomia (1996), o último texto que publicou em vida, sua despedida ou, nas palavras de sua viúva Ana Maria Araújo Freire, "o livro-testamento de sua presença no mundo". Na verdade, creio que todos que possuem uma visão transformadora do mundo da perspectiva dos excluídos, deveriam lê-los. Não escreverei aqui sobre o conteúdo dos mesmos, apenas fica a dica.

Por que "pedagogo da esperança"? Freire também escreveu um livro chamado Pedagogia da esperança, em 1992. Nele. o frei Leonardo Boff explica o título no prefácio, o que serve para responder à pergunta acima: "Por que o título Pedagogia da esperança? A esperança nasce do coração mesmo da pedagogia que tem o oprimido como sujeito. Pois ela implica uma denúncia das injustiças sociais e das opressões que se perpetuam ao longo da história. E ao mesmo tempo anuncia a capacidade humana de desfatalizar esta situação perversa e construir um futuro eticamente mais justo, politicamente mais democrático, esteticamente mais radiante e espiritualmente mais humanizador" (Freire, 2011, p. 11).

Assim, creio que essa esperança, que significa ação ativa para tal e não apenas espera passiva, dá algo essencial do pensamento de Freire, que permeia toda sua construção prática e teórica: ele nos ensina o verbo esperançar, com bases sólidas. Com a palavra, no mesmo livro, o educador: "Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas prescindir da esperança na luta por mudar o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, à pura cientificidade, é frívola ilusão. (...) Enquanto necessidade ontológica, a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã" (Freire, 2011, p.15).

Logo, nos tempos sombrios em que vivemos, uma "situação-limite" (1) de desesperança em relação a vida humana, a democracia e a economia de viés humanizador, o "pedagogo da esperança" ainda se faz atual, referencial e essencial. "Nas situações-limite, mais além das quais se acha o "inédito viável" (2), às vezes perceptível, às vezes não, se encontram razões de ser para ambas as posições: a esperançosa e a desesperançosa. Uma das tarefas do educador ou da educadora, através da análise política, séria e correta, é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos, para a esperança, sem a qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos, e quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma luta suicida, é um corpo a corpo puramente vingativo" (Freire, 2011, p. 15-16).

Creio que esse recado vale hoje não apenas para profissionais da educação, mas para todas as pessoas que acreditam que, "aqui, um outro mundo é possível, se a gente quiser", como dizia a letra do jingle do Fórum Social Mundial de 2002, em Porto Alegre.


Notas
(1) - Situação-limite: conceito originalmente elaborado pelo filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers (1883 - 1969). Freire o utiliza, basicamente, no sentido de "obstáculos, barreiras que precisam ser vencidas" pelas pessoas "em suas vidas pessoal e social" (Freire, 2011, p. 277).
(2) - Inédito viável: "essa categoria encerra nela toda uma crença no sonho possível e na utopia que virá" (Freire, 2011, p. 277), a ser construída pelas pessoas após a superação das situações-limite.

Referência
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 17ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.