Será que a palmada educa
Atualmente, muitos adultos reclamam que o que falta às crianças de hoje são umas boas palmadas. Não são poucos os que dizem que antigamente as crianças eram mais educadas porque os pais sabiam como castiga-las. Alguns até dizem que o Estatuto da Criança e do Adolescente é o culpado pelo fato de vermos tantos jovens sem limites e sem educação já que, como hoje “não se pode tocar nas crianças e adolescentes”, os jovens se sentem mais livres para agir como bem entendem.
Ainda há muita discussão sobre se os castigos físicos são realmente eficientes na formação do caráter. Psicólogos e educadores que são contra as palmadas afirmam que bater nas crianças e adolescentes não educa, apenas causa traumas, enquanto os que são a favor falam que os jovens eram mais obedientes antigamente e não são poucos os que dizem: “Eu apanhei e nem por isso fiquei com traumas. Os jovens de hoje são muito cheios de mimimi têm poderes demais.” Porém, cabe aqui uma pergunta: Esses pais que falam que apanharam quando jovens gostaram da experiência? Esta é uma pergunta que devemos fazer, porque estamos abordando um tema sério e que suscita muita polêmica.
Para que se deve aplicar castigos? Entendemos que os castigos devem ser aplicados para que as crianças e adolescentes reflitam sobre o que fizeram de errado e melhorem de comportamento da mesma forma que punimos os criminosos para que eles se corrijam e se ressocializem. Então, um castigo deve ser justo, nem brando nem severo demais. Será possível aplicar um castigo físico de forma moderada? Devemos lembrar disso porque muitos pais, quando chegam a bater nos filhos, estão tomados pela raiva e a raiva pode levar alguém a se exceder.
Alguns pais vão muito além das palmadas e chegam a usar instrumentos como cinto, mangueira e escova, o que inclusive pode machucar seriamente. Como determinar um limite para que o castigo não deixe de ser castigo e se torne um espancamento? E vale lembrar que alguns pais batem pelos motivos mais tolos como molhar a cama. Parece justo bater numa criança por ela não ter ainda o controle das funções fisiológicas?
Bater numa criança, seja com as mãos ou com um cinto ou chinelo causa dor física e medo e isso nos leva a perguntar: a criança passou a obedecer porque entendeu que estava errada ou simplesmente por medo de apanhar? E se os pais costumam aplicar castigos físicos, não é incomum que a criança viva angustiada por medo de fazer algo que desagrade ou enraiveça os pais, como no caso de uma menina que uma vez, quando a mãe achou que ela estava fugindo de tomar banho, puxou-lhe o cabelo com toda a força e ficou a bater nas suas costas e cabeça na frente da prima e da avó, que estavam visitando a casa. A mãe precisava ter feito isso? Essa mesma mãe, se ela brigasse com a irmã, partia para cima dela com o chinelo, batendo-lhe na cara e na cabeça com bastante força e, na hora do dever de casa, ameaçava espanca-la se ela fosse malcriada.
Um outro problema que devemos considerar é que crianças que são espancadas podem aprender que espancar os mais fracos é uma atitude legítima para se impor sobre os outros. Estudos feitos por psicólogos e educadores constataram que muitas crianças que praticavam bullying contra colegas mais fracos eram espancadas pelos pais. Então, precisamos pensar muito sobre se castigos físicos são realmente eficientes para que uma criança se desenvolva como um indivíduo. Cabe-nos lembrar que muitos adultos que nunca apanharam dos pais se tornaram pessoas sadias e cumpridoras dos seus deveres, o que deve ser considerado quando se discute sobre se é legítimo bater ou não numa criança.
O fato de hoje vermos jovens desobedientes, desrespeitando pais e professores leva muitos a dizerem que tempos bons eram os de antigamente, quando os pais e professores puniam exemplarmente. E devemos lembrar que castigos físicos como bater com a palmatória ou mandar ajoelhar no grão de milho eram muito aplicados nas escolas. Ainda bem que isso acabou mas hoje, infelizmente, vemos alunos com muito poder, sentindo-se livres até para agredir os professores. Claro que isso não quer dizer que devemos voltar àqueles tempos. Tanto a opressão quanto a anarquia são prejudiciais. Deve-se pensar bem na frase de Aristóteles sobre a virtude estar no meio para que os jovens sejam educados adequadamente, sem excesso de severidade mas também sem liberdade demais.
Como fazer para que os jovens aprendam e sejam educados da melhor maneira? Sabemos que tanto a opressão quanto a falta de limites são erradas e é preciso que os pais lembrem que cabe a eles, em primeiro lugar, impor limites. Assim, reflitamos. Se uma criança quebra algo o que parece mais justo? Dar uma surra de cinto ou fazer com que o dinheiro da mesada seja usado para consertar ou comprar algo novo? Caso a criança seja malcomportada ou tenha cometido um erro, impor sanções como proibi-la de jogar videogame se não arrumou o quarto, obriga-la a pedir desculpas a alguém que ela desrespeitou ou não deixa-la ver um filme por não ter feito a lição de casa parecem castigos bem mais razoáveis do que dar umas chineladas. Farão com que ela entenda que tem que ser responsável e tem deveres a cumprir.
A questão dos castigos físicos realmente é complexa e ainda dividirá opiniões por um bom tempo, principalmente porque não falta quem entenda que umas palmadas podem servir para moldar o caráter de uma pessoa. Entretanto, temos de lembrar que, ao se aplicar um castigo físico, sempre existe o risco dos adultos se excederem porque quando eles fazem uso da surra costumam estar com raiva . onde há excesso, muito dificilmente há justiça.