O DIA NACIONAL DO FUTEBOL: ENTRE O ESPETÁCULO E O CAOS

No Brasil, qual terá sido o jovem que nunca sonhou ou sonha em ser jogador de futebol? O sonho é íntimo e representa o fundo de nossas vontades, as vezes distraídas, as vezes inquietas. Até que se acorde e se depare com a realidade que os cerca, continuar-se-á almejando o sonho enraizado na mente, na estética e na ética.

O Brasil que fora palco de espetáculos futebolísticos que movem massas, casa de nomes eternos como Edson Arantes, o Pelé, O galinho Zico e também Garrincha, hoje encara uma crise. Enxergue-a como quiser, é uma crise que engloba todos os setores de nossa sociedade, nada escapa da foice do tempo e do castigo do passado, somos os filhos da outra geração, e os pais da próxima. As massas que invadem os estádios semanalmente em diversas regiões espalhadas por essa nação compõem um espectro curioso da sociedade brasileira, elencando personagens característicos nas mais diversas torcidas movidas pela paixão. Aqui, se vê, se sente e se solta o grito das entranhas, com toda a força, em nome de seu clube, em nome do futebol, cada qual no seu espaço, as vezes em choque.

Trazido diretamente da Inglaterra pelos ingleses, e aqui praticado pela primeira vez por eles no ano de 1895, em São Paulo, o futebol começava sua trajetória de alegrias, marcas, sofrimento e endeusamento, chegando a integrar o sobrenome do país, o “país do futebol”. O futebol no Brasil sempre esteve caminhando lado a lado com a paixão do brasileiro em ser brasileiro, pois aqui, obviamente, encontram-se ídolos dentro da sua história, mas em que isso torna melhores ou mais capazes em desenvolvimentos fora destas quatro linhas do gramado? Fato dizer que o Brasil proporciona ao mundo seu espaço geográfico à observação e a apreciação de seu espetáculo esportivo, trazendo a alegria, o fomento ao turismo e o carisma das camadas mundiais. Mas o futebol, como qualquer outro aspecto da sociedade brasileira transformou-se com o tempo. Fomentado pelo dinheiro, pelas grandes empresas e seus investimentos, deixou de ser espetáculo do povo para ser negócio dos ricos, e a cada geração o sonho se torna parte da vida de mais jovens, onde não basta ser jogador de futebol, o reconhecimento e o fruto financeiro deve agora vir em primeiro lugar.

Um estudo elaborado pelo IMD World Competitiveness Center realizou um comparativo acerca da prosperidade e a competitividade de 64 nações, analisando como está o ambiente econômico e social de diversos países para gerar inovação e se destacar no cenário global. Em visualização geral, o Brasil caiu uma posição em relação a 2019, após quatro anos seguidos de avanços – de acordo com a entidade, isso aconteceu por conta da entrada de um país a mais na lista deste ano, Botsuana que ocupa a sexagésima primeira posição do ranking. No eixo referente à educação, o Brasil elenca a pior avaliação entre as nações, alcançando a 64ª posição. Explicado por diversos fatores, esse resultado se deve pelo mau desempenho do país no que diz respeito aos gastos público totais em educação. Segundo a pesquisa, quando avaliado em termos per capita, o mundo investe em média US$ 6.873 (cerca de R$ 34,5 mil) por estudante anualmente, enquanto o Brasil aplica apenas US$ 2.110 (R$ 10,6 aproximadamente).*

Hoje, se evidencia um cenário onde a educação não está em primeiro plano, e por muito tempo também não esteve. O negócio do futebol não está ligado diretamente ao investimento do Estado em educação, mas está sim ligado àquilo que a sociedade depreende do desenvolvimento que a mesma precisa. Ou seja, temos no novo mercado do futebol, que envolve as mais variadas mídias e contextos, uma máscara que encobre os enredos caóticos de uma sociedade que não se mantém de pé. Raro aquele jovem que hoje diz que sonha em ser um educador, tanto é que quando se encontra um caso dessa envergadura, trata-se a criança como tal, com raridade. Isso evidencia um clamor pela reconstrução daquilo que se constrói no espírito dos jovens, os seus desejos e vontades estão desvirtuados, distante da realidade concreta em que vivem, imersos em bolhas distintas, como se vizinhos de parede não vivessem na mesma cidade.

O esporte liberta, tem virtude, tem ética e integra o adorno das artes que elencam a cultura de um povo. Mas como tudo na sociedade do espetáculo, foi condenado ao consumismo e a uma verticalização dos sonhos e metas de uma sociedade recém chegada ao mundo que nos cerca. Há o que se aprender com isso.

Almejamos sim, sonhamos sim, com o dia em que veremos um estádio de futebol aplaudindo de pé os educadores do Brasil. Por respeito, por amor, por paixão, assim como o próprio futebol deveria ser.

*https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/06/17/educacao-brasileira-esta-em-ultimo-lugar-em-ranking-de-competitividade