SEM SELO DE GARANTIA
SEM SELO DE GARANTIA
Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo.
J. Petit Senn
Uma das muitas coisas que o ofício de professor permite é o da observação. Estamos o tempo todo em contato direto com múltiplos pensamentos. É a oportunidade de nos certificarmos o quanto o mundo é plural. Tenho vivido sobretudo com jovens. Percebo que são pessoas inquietas, cheias de possibilidades, de informações, mas muito mais angustiadas. Angustiadas pelo deslocamento que a condição de jovem os reserva. Não são adultos. Não são crianças.
Há tantas formas de adquirir conhecimento, mas a sabedoria está em filtrar as informações que nos chegam. Há muito barro entre os diamantes. Quanto tempo é desperdiçado em conversas infrutíferas, em programas de TV fúteis e em troca de mensagens via Whatsapp, Instagram, Facebook, etc. Mesmo que intuitivamente saibam do desafio que é passar em uma universidade e se consolidar no mercado de trabalho, eles preferem acreditar que terão as mesmas condições financeiras dos pais sem que para isso tenham que investir em força de trabalho, na garra cotidiana.
Não raramente me deparo com um grande grupo de estudantes que, embora estejam em cursinhos preparatórios, ainda não decidiram qual profissão querem assumir. Estarão subestimando o tempo ou crendo que há sempre um plano B que os farão ter êxito?
Geralmente, são esses filhos da classe média que estudaram em bons colégios, aprenderam outros idiomas, têm celulares modernos, tablets, videogames e toda a parafernália tecnológica. Entretanto, a eles faltou o essencial: aprender a lidar com a frustração. Não raro são esses que quase nunca receberam um não. São esses que quando quebravam os brinquedos os pais imediatamente repunham (às vezes até por um melhor). Esses jovens não aprenderam a perder. Esses assimilaram que os pais são empregados prontos a servi-los.
Só que, lamentavelmente, o mercado de trabalho não será assim tão complacente. Não adiantará fazer birra, gritar, espernear. A felicidade não se conquistará com o choro. O chefe não será um pai que concederá bens mesmo quando não houver mérito. Os pais precisam entender que há duas premissas básicas na educação: ensinar que há frustração, e que o esforço são exercícios do amor. Hoje limitamos nossos filhos para depois não fiquem estacionados.
Genialidade não é um dom. Ninguém se orgulhe de um filho que passou noites nas baladas e mesmo assim passou na particular de medicina. Suar é digno – não é coisa para a classe C. Deixemos o culto à mediocridade de quem acha que ser bem-sucedido é “cruzar os braços e aproveitar a vida enquanto é jovem”. Felicidade não é um direito, é um dever que devemos cumprir diariamente. É uma conquista que se consolida através da labuta.
Ser bem-sucedido não é estar sempre sorridente, nunca falar sobre os medos, nunca pedir perdão. Mais vale aguentar alguns minutos de choro a uma vida inteira de lamentações. Só será “rei” quem aprender a ter autonomia. E isso não se adquire em lojas de brinquedos. A vida não vem com selo de garantia.