Esperando Godot (Waitting for Godot)
João Bosco da Silva – Mestre em Educação
prof.bosco.uefs@gmail.com (BRFPMME1878772)
O autor, Samuel Barclay Beckett (1906-1989), dramaturgo e escritor irlandês, em 1927 graduou-se em literatura no Trinity College de Dublin. Foi um dos fundadores do teatro do absurdo. Em 1928, foi lecionar em Paris, onde conheceu James Joyce, de quem se tornou amigo. Em 1931 lecionou na Irlanda e fixou residência em Paris, escrevendo a sua primeira novela, "Dream of Fair to Middling Women", publicada somente depois de sua morte.
No início da Segunda Guerra Mundial, vinculou-se à Resistência Francesa, juntamente com sua esposa, Suzanne Deschevaux-Dusmenoil.
Em 1942 fugiu para Vichy (França) e escreveu parte da novela "Watt". Entre 1951 e 1953 escreveu "Molloy", "Malone Morre" e "L'Innommable", sobre a solidão do homem.
Em 1952 lançou "Esperando Godot", no Teatro do absurdo. Escreveu ainda peças teatrais, como "Fim de Festa", "Ato sem Palavras" e "Os Dias Felizes".
Em 1969, Beckett ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
Faleceu em 1989, cinco meses depois de sua esposa. Foi enterrado no cemitério de Montparnasse, Paris, França.
Introdução
A obra Esperando Godot, de 1952, é uma dramaturgia do absurdo, que vamos dissertar, a fim de procurar entender o que se passava na mente do autor numa época fértil de criações de personagens indefinidos, desconstruindo a fé, promovendo o caos nas soluções religiosas.
O livro é um drama do absurdo, numa trama sem intrigas fulminantes e nem personagens claramente definidos, em cenas sem maiores mimetismo psicológico ou gestual, concebidas a partir de efeitos de ilusão, fazendo com que o leitor seja obrigado a aceitar as convenções físicas da ficção, construídas num universo totalmente novo. Fogem, portanto, a certos conceitos do realismo, desdobrando-se em diferentes estratégias. O absurdo é tratado como princípio estrutural para refletir o caos universal, a desintegração da linguagem e a ausência de imagem harmoniosa da humanidade.
Trata-se de uma análise profunda da condição humana, inserção da ousadia linguística e semântica em diálogos curtos e simples, até com frases que pode não significar o fim. Beckett prova que até o silêncio diz muita coisa. Entendemos que a expressão “esperar Godot”, significa ficar aguardando algo desconhecido que nunca virá.
O drama se desenvolve num mundo marcado pela angústia da incomunicabilidade dos seus personagens, trabalhando múltiplas faces simultaneamente, com toques de humor e certo tom religioso, em que o leitor fica na dúvida se deve ou não levar a sério o desenrolar da trama. Há um pouco do “teatro metafísico”, que trata o homem perdido à espera da morte. Também do “teatro decadente”, que recusa todos os valores positivos, ou, ainda, do “teatro cristão”, que mostra o homem à procura de Deus. Alguns historiadores fazem uma relação dos personagens que esperam Godot com a relação de amor e ódio entre a França e a Inglaterra da época, que tinham divergências mas precisavam uma da outra.
Personagens
Vladimir é o idealista intelectual, que fala de forma mais estruturada, em assuntos filosóficos e religiosos com seu interlocutor, Estragon, menos experiente, sendo controlado nas suas maluquices. É o mais alto, magro, elegante e limpo, e é o único que ainda lembra de fatos antigos na consciência da passagem do tempo que passaram juntos. Ambos se amparam e se dependem um do outro. Ás vezes eles brigam e prometem se separar, mas a solidão não deixa, mantendo diálogos tortos, absurdos e até sem qualquer sentido, para se sentirem vivos.
Pozzo pode ser considerado como prepotente antagonista da trama, trajando-se como um aristocrata e dono das terras onde estão Vladimir e Estragon, explorando criminosamente o seu escravo Lucky, tentando também impor a sua autoridade sobre Vladimir e Estragon. Faz Lucky cumprir tarefas até mesmo inúteis, como dançar e pensar, somente com o intuito de divertir os outros. Pozzo quer se livrar de Lucky, porém fica cego e fica mais dependente do amigo/escravo, controlando com uma corda amarrada no pescoço. Lucky diz que o seu nome significa "sorte de quem não tem qualquer expectativa”. O auge da sua personagem é um famoso monólogo.
O Menino traduz a ligação entre Godot, Vladimir e Estragon. Nas suas duas aparições ele vem para avisar que Godot não virá, com suas frases sempre terminando com a expressão"senhor". O menino, portanto, seria a esperança desse encontro, que por duas vezes é adiado e quem sabe, por toda a vida.
Conclusão
A trama se passa num universo insólito, vazio e angustiante, numa única estrada sem fim ou início, com uma única árvore sem folhas, ao lado de uma pedra, que serve de local para se sentar, como se fosse um eterno entardecer, enquanto se espera por Godot. Junto da árvore é que se passa toda a história, inclusive oferece a possibilidade de suicídio para Estragon ou Vladimir, numa mítica ou de eterno sonho irreal. Quando ela aparece com algumas poucas folhas, lembra a árvore da vida eterna - como o símbolo do renascimento, ou como o local adequado para o enforcamento de Judas. A estrada não leva a nenhum local, por isso o seu valor simbólico é uma incógnita (paraíso ou inferno), naquele local deserto e impróprio para viver, num vazio constante da alma.
Uma obra como essa foi mais do que uma inovação no teatro. O teatro nunca mais foi o mesmo depois da fase becketiana. O autor mexe no íntimo do leitor, quando questiona uma coisa subjetiva, que aparentemente não é nada, para dar sentido como se fosse um tudo. Quem tiver suas esperanças guardadas no coração e espera por Deus para solucioná-las, o livro Waiting for Godot – Esperando Godot é uma lição de dramaturgia e uma cartilha de sabedoria por essa espera.