ESCREVER É PROCESSO
Escrever é processo
A maioria dos estudantes sai da educação básica sem habilidade para elaborar um texto que contenha o mínimo de ordem, coesão e coerência. Não raro, isso ocorre até mesmo com estudantes universitários, que redigem textos repletos de erros crassos. O que falta? Falta dom? Talento? Não. Treino. Treino sistemático e frequente – que não se resume ao estudo massivo de normas da gramática normativa. Este é apenas um dos diversos pilares na construção da escrita. A proficiência se dá, sobretudo, pelo conhecimento de diversos gêneros textuais – leitura e produção.
É preciso aprender desde cedo que o texto é um grande tecido de significados. Conhecer os gêneros textuais, reconhecer qual é o propósito comunicativo do texto, o público-alvo, e ter subsídios (dados, argumentos, informações) são fatores fundamentais para a construção de sentido. Sem repertório cultural, fica difícil argumentar com propriedade, restando ao locutor a mera opinião ou achismo. Argumentos consistentes são respaldados por estratégias argumentativas que se somam ao conhecimento das causas e consequências de um dado tema. Sem esses pré-requisitos, o texto se torna sem efeito, superficial e até irrelevante.
Como escrever um texto sem conteúdo? Exige-se do aluno a elaboração de um artigo sobre publicidade infantil. É impossível construir um texto de excelência se o autor/estudante não tiver nenhuma informação acerca do assunto. “Ninguém é capaz de escrever bem, se não sabe bem o que vai escrever”, disse o professor linguista Mattoso Câmara Jr. Eis a importância da leitura. Não é apenas para se ter um extenso repertório vocabular ou saber ortografia.
Segundo os professores Celso Ferrarezi Jr e Robson Santos de Carvalho, em “Produzir textos na educação básica – o que saber, como fazer” (Parábola, 2015), uma das maiores providências para evoluirmos no ensino da escrita é tornar as produções de textos algo que extrapole a mera atribuição de nota. Os alunos precisam ser desafiados a escrever folhetos explicativos, jornais escolares, poesias e até livros.
Observa-se que, muitas vezes, o aluno está mais preocupado em agradar ao professor – porque, para ele, o único interlocutor será o docente, inclusive escrevendo recados no rodapé da folha de caderno. Como o texto desse estudante circulará socialmente se há apenas o professor como leitor? Vê-se, então, que há uma simulação abstrata, um destinatário imaginário, contribuindo para que o redator até se esqueça de apresentar informações essenciais para compreensão adequada do texto formulado.
Urge a necessidade de a prática da escrita ser vista como produção, criação e não mais como um processo mecanizado. Não se deve adiar um exercício permanente de convivência com as palavras, com as regras e com os fatos. Precisamos, como educadores, mostrar a riqueza e variedade das construções linguísticas. Escrever um texto não é visar a um produto pronto, acabado. É um processo. E este se dará aos poucos, com paciência e muita perseverança.