INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE FREUDIANA

UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO (UPE)

RAUL MAGALHÃES BRASIL

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE FREUDIANA

INTRODUÇÃO

Freud não foi o primeiro a investigar e apontar para o inconsciente, mas em nenhum outro sistema ou filosofia essa instância da mente encontrou um papel tão fundamental. Talvez sejam as investigações sobre a histeria e sobre o inconsciente a pedra angular do desenvolvimento e da popularidade da psicanálise, que ecoou imediatamente como prática clínica fazendo frente à psiquiatria somática, que enxergava os transtornos mentais e as neuroses como aspectos puramente biológicos e físicos, ignorando completamente a existência singular, humana e histórica que tinha o indivíduo, coisa que Freud não se negou a ignorar.

1 PRIMEIRO MOMENTO DA PSICANÁLISE FREUDIANA

A psicanálise nasce em 1895 com a publicação do livro “Estudos Sobre A Histeria” escrito em parceria com Josef Breuer, amigo e parceiro de estudos de Freud. Freud e Breuer eram médicos, preocupados com a neurologia e com a psiquiatria, perceberam a imensa lacuna que havia entre a ciência de sua época e os fenômenos histéricos que acometiam determinados pacientes. Como supracitado, a psiquiatria da época ignorava tais pacientes, justamente por não conseguir encontrar uma resposta para esses quadros; Choques térmicos ou elétricos, lobotomia, fármacos e psicofármacos, esses eram os métodos utilizados para tratar esses pacientes.

Freud vai para um outro lado, para um lado obscuro, subterrâneo e pouco científico. Crente de que os fenômenos somáticos da histeria têm raízes psíquicas, utiliza os métodos da introspecção e da hipnose para atingir a causa da histeria e fazer sumir os seus sintomas. Num primeiro momento ele tem êxito, no entanto, abandona a hipnose por ser um método demasiadamente subjetivo e sugestivo, passível de erros. Passa a utilizar o modelo da conversação e posteriormente o modelo da livre associação, com isso a psicanálise ganha contornos cada vez mais clínicos.

A neurose e a histeria são doenças psicossomáticas, fenômenos mentais que se expressam através de sintomas corporais, o analista diante disso, tem a função de, através da conversação e da livre associação, fazer o analisando atingir esses fenômenos. Ao entender e trabalhar esses fenômenos psíquicos, os sintomas corporais somem. Através de sua prática clínica Freud percebe a dantesca importância que a infância tem sobre a personalidade do indivíduo e sobre a causa das neuroses. Segundo Freud, os recalques e repressões tem uma natureza sexual, natureza essa que seria exaustivamente explorada na literatura clínica freudiana. Os traumas, recalques e repressões mentais têm suas origens na infância, dando indícios de uma sexualidade infantil. Quando essa sexualidade não é devidamente tratada, cuidada ou percebida, isso é, quando ela é reprimida, isso pode gerar traumas no indivíduo, esses traumas podem se expressar através de sintomas neuróticos que, segundo Freud, eram substituições simbólicas dos desejos que não foram atendidos na sexualidade infantil, e ficaram reprimidos no inconsciente do indivíduo.

2 O SISTEMA PSICANALÍTICO FREUDIANO

É possível identificar na psicanálise uma miríade de conceitos que buscam dar conta do inconsciente e dos fenômenos psíquicos, a psicanálise freudiana formula um verdadeiro sistema conceitual nesse aspecto, e dirige seus esforços para a histeria, para a neurose obsessiva, para os sonhos e para a sexualidade. É importante apontar para o fato de que a psicanálise não dispõe de um modelo científico e, embora Freud procurasse uma nova ciência, uma ciência das neuroses, ele nunca demonstrou uma verdadeira preocupação experimental e metodológica, diferentemente das abordagens anteriores, como o estruturalismo, o funcionalismo e posteriormente o behaviorismo, que tinham preocupações estritamente científicas em suas análises e pesquisas. No entanto, o caráter pouco científico que a psicanálise assume não diminui sua importância e contribuição para a psicologia clínica que encontra ecos importantes até os dias de hoje, sendo amplamente praticada e encontrando resultados.

Recapitulando o que foi dito na introdução: em nenhum outro sistema o inconsciente ganha tanto protagonismo quanto na psicanálise. Esse protagonismo se acentua com a icônica publicação de “Interpretação dos Sonhos” em 1900, outra pedra angular da psicanálise, que teve repercussões importantíssimas na ciência psicológica. No sistema freudiano a vida psíquica tem 3 diferentes graus, sendo o mais tenro a vida consciente e o mais obscuro a vida inconsciente, entre estes há o subconsciente. Boa parte dos nossos traumas, neuroses e angústias, encontram-se adormecidos e recalcados no inconsciente, a parte da vida psíquica mais importante para o analista, e um dos objetos de estudo fundamentais da psicanálise.

Freud não se restringe ao método e à clínica interpretativa, logo passa a formular a sua teoria pulsional, aparentemente muito influenciada pelo biologismo e naturalismo darwinista. Essas investigações têm seu início com o livro “Três Ensaios Sobre A Teoria Sexualidade” que eleva a sexualidade a um conceito propriamente dito, suas reverberações mais importantes se encontram talvez em “Além Do Princípio Do Prazer” e “O Eu E O Id”, nestes livros Freud explora o conceito de “libido”, uma pulsão um impulso sexual, egoísta e agressivo. Essa pulsão tem sua origem no ID, uma instância psíquica de natureza inconsciente que funciona sobre o princípio do prazer, responsável pelos desejos e pulsões inconscientes e pelos impulsos orgânicos. Esse id é combatido por uma outra instância, o Superego, as normas, leis e regras de conduta que nos são ensinados quando crianças para reprimir o nosso id e nos tornar aptos a sociedade, no embate entre o id e o superego há o ego, a única instância psíquica consciente, o ego não consegue perceber a influência do id e do superego sobre ele.

A energia psíquica, a libido, aponta Freud, desenvolve-se no decorrer da vida, passando por determinados estágios ou fases, denominadas fases do desenvolvimento psicossexual. A primeira fase é a fase oral, que ocorre dos 1 mês aos 18 meses de vida do indivíduo, nessa fase a boca é a principal fonte de prazer do indivíduo, que encontra seu prazer no seio materno, e busca investigar o mundo através da boca, é curioso pensar que, nessa fase, o bebê que é anômico, egoísta e controlado pelo ID, crê que o seio materno é um objeto que ele cria a partir do seu desejo. A segunda fase é a fase anal, onde o indivíduo explora os prazeres do ânus, como o prazer que há na defecação, é comum que nessa fase as crianças brinquem com feses, ou as ponham na boca, visto que são vistas como “extensões” de seu corpo, é comum também vê-las se divertirem brincando com massinhas ou objetos pastosos, que lembram suas feses. A fase fálica é a fase posterior, que consiste na descoberta e manipulação dos órgãos sexuais, onde a criança passa a descobrir e explorar cada vez mais o seu corpo. Entre a fase fálica e a fase genital há o período de latência, que dura dos 5 anos de idade até a puberdade, onde a sexualidade e a libido são expressos de maneira assexuada, através da amizade, estudos e brincadeiras. A fase genital dura da puberdade até a vida adulta, onde a energia sexual se volta para o prazer dos órgãos genitais e para a procriação e cópula. Ao contrário do que pensa a sociedade, Freud afirma que a criança possui sexualidade e que toda sexualidade é infantil, afirma ainda que nos recusamos a enxergar a sexualidade das crianças, o que pode ser gerador de diversos traumas e interrupções nos desenvolvimentos das fases psicossexuais.

REFERÊNCIAS

CELES, Luiz Augusto M. Clínica Psicanalítica: Aproximações Histórico-Conceituais e Contemporâneas e Perspectivas Futuras. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2010 , Vol. 26 n. especial, pp. 65-80. Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a06v26ns.pdf>. Acesso em: 8 de abril de 2021.

FREIRE, I. R. Raízes da psicologia. Petrópolis: Ed. Vozes, 2014. Capítulo - A Psicanálise.