AS ESTRELAS QUE MAIS BRILHAM JÁ NÃO EXISTEM MAIS
AS ESTRELAS QUE MAIS BRILHAM
SÃO AQUELAS QUE NÃO MAIS EXISTEM
Nivaldo Mossato
Quantas vezes contemplamos o céu e nos encantamos com a beleza e a luz das estrelas. Incontáveis estrelas que, aos nossos olhos existem, mas que, na realidade, muitas já deixaram de existir há séculos. As mais brilhantes, vistas a olho nu, são as que estão mais próximas de nós. Porém, há estrelas que já morreram há milhares de anos, e sua luz ainda viaja no tempo. E você pode estar perguntando: ‘’como assim, se as estamos vendo?”
As estrelas estão a milhares de anos luz da Terra e, quando explodem, sua luz é projetada no universo e por ele viajam até se apagarem totalmente aos nossos olhos. Segundo o site da Revista Super Interessante(*), “Os astros mais brilhantes ficam a míseros 500 anos-luz da Terra. Ou seja, sua luz passa 500 anos viajando antes de ser vista. Se o Cruzeiro do Sul, por exemplo, tivesse surgido no dia em que Cabral aportou no Brasil, seu brilho só apareceria no céu agora. Para um ser humano, que vive em média 80 anos, é um bocado de tempo. Mas para uma estrela, que chega a viver 10 bilhões de anos – como é o caso do Sol, não é nada.”
Quando uma pessoa torna-se luz para nós, com certeza, ela já morreu inúmeras vezes e, o que vemos, é somente sua luz.
Sim! Podemos morrer inúmeras vezes, e, quanto mais aprendemos a fazê-lo, mais luz seremos. No entanto, não estou me referindo a uma morte física, corporal. Refiro-me à morte egóica das nossas vontades, desejos e conceitos. Morte esta que exige de nós bem mais que um corpo: exige escolha!
Algumas pessoas aprendem a fazer esta escolha desde muito cedo. Outras, passam a vida tentando. Morrer por escolha não se conquista com um simples ‘treino’, exige presença, imediatez, responsabilidade, reciprocidade e ato! Sem presença e imediatez todo ato é nulo perante a morte por escolha. É fazendo-se presença perante o Outro, no aqui-e-agora da sua necessidade que podemos nos tornar luz para ele. Porém, sem a responsabilidade em gerar reciprocidade a luz centelha, mas não se mantem: apaga-se ao primeiro sopro.
Rubem Alves, um dos maiores educadores do Brasil, expressando alma em seus escritos reforçava:
‘Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades
são tolas e sem sentido.”
O brilho da luz própria não se sustenta sem a sensibilidade para com o Outro. Não há sentido na luz quando esta não encontra a escuridão fora ou dentro de si. Ao acendermos uma lâmpada de 500 whats e a colocarmos no meio do quintal, sob a luz do sol, pouco percebemos da sua existência. Porém, se acendermos um simples fósforo em meio a uma escuridão muito poderemos enxergar.
Para sermos luz faz-se mister atuarmos onde ela se faz necessária, ou seja, na escuridão da nossa própria alma para que, esta, estando iluminada, possa servir de luz para outras almas necessitadas. Tal qual as estrelas que, ao morrerem, explodem sua luz no universo, podemos nós escolhermos morrer em nosso ego para sermos luz para o mundo.
Muitas vezes, ao tentarmos morrer em nosso ego por escolha, pensamos ser luz, ser amor. No entanto, lá no fundo nossa alma ainda exige que algo retorne a nós para que possamos saciar uma necessidade não curada, não integrada, mesmo que inconscientemente. Isso não gera uma luz que se perpetua, que alcança a alma do Outro. É luz que cai no vazio e se perde na escuridão. Não é amor, é ego!
A sensibilidade antecede a habilidade.
Sensibilidade procede da educação das nossas funções de contato, do olhar, do ouvir, do tatear, do cheirar e degustar, do comunicar. A educação dessas funções leva-nos a desenvolver habilidades. A sensação, a percepção e a intuição antecedem a consciência, portanto, o coração antecede a razão.
Não me refiro a um afeto cego e inconsequente. Muito pelo contrário. A morte escolhida do ego requer, por primeiro, a consciência de si mesmo. Aquele que não-é está inapto a deixar-de-ser. Para deixar-de-ser temos que, antes de tudo, gerar consciência de quem somos. É através da sensibilidade da consciência de quem-somos que podemos alcançar a habilidade de deixar-de-ser-para-que-o-outro-seja.
Esta é a ação do verdadeiro amor que, ao explodir em sua própria luz faz-se luz para todo o universo ao qual pertence.
(*) https://super.abril.com.br/tecnologia/imagem-com-anos-luz-de-atraso