Como não "ajudar" os filhos nas tarefas de casa
“Educar é preparar para a vida”
Flávio Gikovate
Com certeza, muitos são os desafios enfrentados pelos pais na tarefa de educar os filhos e um deles é o de fazer com que os filhos façam as tarefas escolares e tenham sucesso nos estudos. E, embora saibamos que não é fácil orientar os filhos e fazê-los se interessar pelos estudos, vamos ver algumas atitudes erradas que os pais podem tomar. Para que o leitor deste texto entenda melhor, serão dados exemplos de casos reais que podem mostrar como certas atitudes dos pais mais prejudicam do que favorecem o aprendizado, levando os filhos a ver a hora de fazer a lição de casa como uma verdadeira sessão de tortura.
1 – Não ter paciência quando o filho apresenta dificuldades em alguma matéria ou em realizar as tarefas – muitas vezes, o filho não consegue responder com a rapidez que os pais desejam, especialmente se ele tiver dificuldade em alguma matéria como a matemática, por exemplo. Hoje, sabemos que existem distúrbios de aprendizagem – o que não se sabia antes – como dislexia, hiperatividade e déficit de atenção, e que o diagnóstico desses distúrbios ajuda os pais e educadores a agir melhor no sentido de orientar as crianças. Infelizmente, no passado, o desconhecimento desses distúrbios fazia com que a criança fosse logo rotulada de “lenta” ou “pouco inteligente” e um caso real é o de uma criança cujos pais ficavam muito em cima dela na hora do dever de casa, chegando a chama-la de tapada e reclamando que ela não era rápida como as outras crianças.
2- Mandar o filho fazer a tarefa de um jeito diferente do ordenado pelo professor – Alguns pais, a pretexto de “ajudar”, intrometem-se nas tarefas escolares, o que não é certo. Houve o caso de uma criança que, quando levava as tarefas para casa, com o caderno de exercícios dividido em tarefas de casa e de classe, a mãe mandava que ela fizesse inclusive o que a professora tinha dito que só era para fazer em sala de aula. A mãe dessa criança também chegava ao cúmulo de manda-la apagar as respostas que tinha dado e ficava ditando respostas. Se a criança respondia a uma pergunta dizendo: “As maçãs são gostosas”, a mãe dizia que ela apagasse e respondesse assim: “As maçãs são ricas em vitaminas.” A criança dizia que queria dar suas respostas, mas a mãe dizia que não estavam boas. Pais que agem assim precisam entender que estão impedindo a criança de desenvolver sua autonomia. Ajudar não é ficar o tempo todo em cima, desvalorizando o esforço da criança. Quem tem que corrigir a resposta é o professor, não os pais.
3- Chamar a criança de estúpida – Uma atitude que pode ser muito danosa para o aprendizado de uma criança é ser chamada de tapada quando não satisfaz às expectativas dos pais. Muitos pais, impacientes com o fato dos filhos não conseguirem fazer a tarefa como eles consideram satisfatório vão logo rotulando a criança de “burra” ou “limitada”. Há mesmo pais que chegam ao extremo de dizer que as crianças não fazem nada certo e nunca serão ninguém na vida. Ficar pressionando e chamar a criança de “lesma” ou “deficiente”, além de danoso para a autoestima, faz a criança se sentir pressionada. E poderá leva-la a se tornar um adulto ansioso.
4- Preocupar-se apenas com a matéria em que a criança não é boa – Por muito tempo, deu-se demasiado valor à matemática e crianças boas com cálculos eram consideradas as mais inteligentes. Isso com certeza levou muitos pais, cujos filhos não eram bons em matemática ou outras matérias de ciências exatas, a comparar desfavoravelmente seus filhos aos “gênios” da turma. Foi o caso de uma criança. Seus pais estavam sempre a dizer: “Olha a sua amiga. Ela faz as contas tão direitinho e você não consegue resolver nem uma conta tão fácil.” Engraçado que essa criança tinha bom desempenho nas demais matérias, mas os pais apenas se preocupavam com as matérias em que ela não era boa. Hoje, pelo menos, como sabemos que existem as inteligências múltiplas, reconhecemos que o fato de uma criança não ser boa em matemática não significa que ela é menos inteligente do que a que resolve contas de cabeça. Ela pode não ser boa em matemática, mas talvez seja muito boa em leitura e escrita. Claro que uma criança com dificuldades numa matéria precisa se esforçar nela, porém os pais não devem apenas focar sua atenção nos pontos fracos de seus filhos. Precisam também reconhecer seus pontos fortes.
Ajudar os filhos na tarefa de casa é realmente difícil, principalmente quando as crianças têm dificuldades ou não gostam de fazer as tarefas e entendemos que os pais, no geral, têm as melhores intenções. Entretanto, é preciso que os pais compreendam que ajudar não é sinônimo de pressionar.