A ESCOLA COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Antonio José da Silva Sales

Introdução:

Não raras vezes nos deparamos com questionamentos sobre a real importância da educação na formação cidadã, a importância da escola como instituição social bem como o papel dos educadores e educandos na construção do conhecimento. Refletir sobre o papel da educação, de forma geral, na vida das pessoas, nos ajuda a melhor compreendermos a própria história da humanidade e a busca incessante pelo conhecimento.

A educação, ou a busca pelo conhecimento, é um fenômeno inerente dos seres humanos que sempre estão em busca de compreender a própria existência e/ou a essência humana. Uma das principais características que nos difere dos demais seres é a constante busca pela descoberta do conhecimento de forma consciente.

O trabalho é uma das atividades vitais do ser humano e uma forma de se relacionar tanto com a natureza bem como com os demais seres humanos. O homem, através do trabalho, passa a produzir os meios para satisfazer as suas necessidades apropriando-se da natureza por meio do conhecimento das técnicas de produção/transformação.

Outra característica marcante em relação à humanidade é a capacidade comunicativa por meio de códigos e símbolos convencionados. Por meio da linguagem, os seres humanos interagem uns com os outros como nenhuma outra espécie é capaz.

O domínio da natureza por meio do trabalho e a capacidade de utilização da linguagem são duas das principais características da humanidade onde o conhecimento se faz presente. Conhecer a natureza para melhor explorá-la e conhecer os códigos de linguagens para melhor se comunicar faz parte da formação educativa dos seres humanos ao longo de sua história.

A história da humanidade e a educação:

O ser humano é capaz não só de construir conhecimento, mas também de adquiri-lo e compartilhá-lo uns com os outros. O processo de educação da humanidade foi fundamental para o desenvolvimento dos grupos sociais e para a evolução de experiencias variadas. Conhecer a natureza e seus ciclos, desenvolver as habilidades de comunicação e localização, contar e dividir os recursos disponíveis, a produção da colheita e/ou a caça, acompanhar e prever os acontecimentos astronômicos, desenvolver técnicas de sobrevivência, produção e armazenamento, utilizar armamentos de defesa, ferramentas de produção e utensílios variados.

Tudo o que o ser humano foi descobrindo, inventando e produzindo passou a ser uma forma de conhecimento e a necessidade de repassar o conhecimento de uns para os outros passou a fazer parte do processo de formação educativa. A produção do conhecimento e o compartilhamento por meio dos ensinamentos passou a fazer parte da humanidade.

Desde a Antiguidade a humanidade vem construindo e contribuindo para o crescimento da herança cultural que vem passando de geração em geração. Podemos citar que a educação ocorreu inicialmente nos grupos familiares com a necessidade dos mais idosos em repassar os conhecimentos adquiridos ao longo da vida aos indivíduos mais jovens como forma de preservar o conhecimento e garantir a sobrevivência dos grupos humanos seja em núcleo familiar e/ou tribal. Basicamente essa transferência de conhecimento ocorria de forma oral, informal e por meio das experiências práticas do dia a dia.

Com o surgimento das grandes civilizações e a necessidade de organização social passando por intensas transformações surgiu a necessidade de organizar e padronizar as formas de produção e transferência de conhecimento entre os membros de determinados grupos sociais.

A Grécia Antiga é vista como modelo da produção de conhecimento no mundo ocidental por meio do surgimento das cidades-estados e da necessidade de melhor organização política-militar-social.

Esparta e Atenas se destacaram como cidades-estados e pelo princípio de organização social e educacional, tornando-se modelos para diversas outras sociedades posteriores. Esparta se destacou pelo modelo militar, disciplina, artes militares, códigos de condutas e estímulo à competitividade. Atenas buscava o ideal de conhecimento por meio da retórica filosófica, oratória, política e democracia.

Durante a Idade Média a educação foi desenvolvida em consonância com os rígidos dogmas da Igreja Católica. Cabe ressaltar que até o século XVII os valores morais e até mesmo os ofícios responsáveis pela garantia da subsistência eram transmitidos em grande parte dentro dos próprios círculos familiares, sendo que esses valores e códigos de conduta eram profundamente influenciados pelo pensamento religioso.

Já no período conhecido como Renascimento a busca pela razão, as reformas protestantes e o fim dos estados absolutistas fizeram com que a construção do conhecimento passasse a ser organizado para ser transmitido pela escola, através da autoridade do professor enquanto sujeito detentor do saber e mantenedor da ordem e da disciplina.

O modelo de educação escolar centrado na figura do professor como transmissor do conhecimento se expandiu ao longo dos séculos XVIII e XIX impulsionado pela Revolução Industrial e o crescimento da urbanização como forma de organização social. Além disso, o fortalecimento e expansão de regimes democráticos influenciou a reivindicação pelo acesso à escola enquanto direito do cidadão e à educação passa a ser atribuída a tarefa de formar cidadãos, cientes de direitos e deveres e capazes de exercê-los perante a sociedade.

Com o advento da Revolução Industrial e as constantes transformações do mundo moderno, tornou-se necessário cada vez mais a qualificação da mão de obra que pudesse resultar em maior e melhor produção nas fábricas. Assim, houve a expansão da educação para as camadas mais pobres da sociedade, porém, nem sempre de qualidade satisfatória tendo em vista o objetivo apenas em capacitar pessoas para determinada área de atuação no mercado de trabalho.

Vimos que ao longo da história da humanidade os processos educativos passaram por profundas transformações em decorrência das transformações sociais. Mas também podemos asseverar que a educação proporcionou que algumas transformações ocorressem tendo em vista a educação e a escola como instrumento de transformação social.

Conclusão:

Muito se fala em educação de qualidade de forma integral, que capacite os aprendizes não somente para o mercado de trabalho, mas como formação cidadã dotada da capacidade crítico-reflexiva. Sabemos que muito ainda precisa ser feito para que alcancemos tais objetivos e que a tão sonhada educação de qualidade não está acessível a todos de forma igualitária e justa.

Sociedade e governos precisam entender que a escola é um local de redescobrimento do ser como sujeito proativo dentro da própria sociedade e também na construção do próprio conhecimento. É preciso fazer, e saber como fazer, para que o jovem estude não somente pensando no mercado de trabalho, no futuro emprego, mas também pensando na importância da educação como chave para a compreensão do mundo e sociedade na qual o indivíduo se insere. É necessário buscar, não somente a formação trabalhista, mas também, as ferramentas que o capacite para interagir na sociedade de forma crítica e consciente.

A educação desempenha importante papel como instrumento de transformação social ao fornecer as bases para a autoconstrução do conhecimento tanto de forma individual bem como coletiva. Individualmente por meio da autopercepção do mundo e da sociedade que o rodeia e coletivamente por meio do compartilhamento do conhecimento válido dentro de sua sociedade como indivíduo cidadão.

Não devemos buscar uma educação que vise somente o trabalho assalariado, vendermos a força de trabalho como mercadoria, embora o mundo capitalista nos direcione a tal propósito, mas também buscarmos a condição de formação integral, cidadã e que nos proporcione meios de reflexão sobre nossa própria existência e nosso papel como cidadãos conscientes do nosso papel social.

Referências:

MOREIRA, Adriano. Educação escolar e transformação social. Disponível em: https://www3.faac.unesp.br/revistafaac/index.php/revista/article/download/32/6. Acesso em: 18 jan. 2021.

PEREIRA, Lucila Conceição. História da educação. Disponível em: https://www.infoescola.com/pedagogia/historia-da-educacao/. Acesso em: 18 jan. 2021.

SALES, Antonio José da Silva. A Revolução Industrial e a educação. Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/artigos/2129184. Acesso em: 18 jan. 2021.