Escola Rural
Durante a nossa infância e até metade da adolescência, estudamos na escola rural, cujo objetivo básico é aprender a ler e escrever e as quatro operações da matemática. Dizia-se que com isso estávamos preparados para a vida. Os professores não tinham o devido preparo didático, como hoje é exigido.
Um pouco mais distante de nós, cerca de duas léguas, num lugarejo conhecido por Várzea Comprida, havia um professor, de nome José Mariano, que se destacava pela maneira de ser chamado de "Professor", aquele que impunha um certo respeito pelo domínio do português e da matemática. Tal qual "Patativa do Assaré", lia Os Lusíadas, de Camões.
Certa vez, recebendo a sua visita, sentimo-nos muito honrados com a presença do tão famoso professor. E ele nos mostrou algo que só se descobre através da regra de três, coisa que o Presidente costuma criticar no ensino, dizendo que muitos universários não aprenderam.
Próximo a nossa casa havia uma caraibeira, onde a gente subia para ver a chegada do trem, na vizinha cidade de Petrolandia, do outro lado do rio. E quando a gente disse que a árvore tinha mais ou menos 10 metros de altura, o professor disse: "é fácil vocês saberem a altura exata, com a projeção de sua sombra". E a gente, espantado: "como?"
E ele, com a sua didática, foi nos dizendo o passo a passo. "Com um pau de um metro você mede o tamanho da sombra. Depois mede a sombra da caraibeira e faz a comparação".
Ora, se você sabe o preço de um boi, não vai saber quanto custa dez, cem ou mil?
E assim, sem saber a regra de três, mas sabendo as quatro operações da matemática, como se exigia lá no interior, o problema está resolvido. Assim o professor José Mariano foi sempre lembrado, quando mais tarde, mesmo na universidade, precisamos encontrar o "X" da questão.