Movimentos Sociais, Práticas Educativas, Mulheres e Identidades

Estudar a invisibilidade das mulheres negras nas comunidades rurais e suas formas de trabalho na agricultura é uma oportunidade de gera dados sobre a realidade em que se encontram atualmente, dados não só sobre espaços de trabalho, mas também sobre os movimentos sociais que estão atuando que as mobilizam, para uma educação popular dialética, critica e emancipatória. De acordo Freire (1996) essa educação traz uma autonomia que permiti que o sujeito crescer através do dialogo e do respeita as diferenças, se reconhecendo seres inacabados e se tornando radicalmente éticos. Estudar a mulher na agricultura também nos faz questionar e desmistificar conceitos conservadores que se perpetuam em nossa sociedade, tal como o papel da mulher, que é vista como coadjuvante nesses espaços, o que geralmente firma essa posição da mulher é o protagonismo do homem, tido como chefe da família e o provedor. Porém deve-se ressaltar que esse papel provedor muitas vezes é da mulher, que sempre foi muito atuante no campo, conhecem as práticas da agricultura, ela consegue desenvolver vários tipos de trabalhos dos mais braçais aos mais singelos. Pensar a mulher negra e suas lutas contemporâneas na atualidade brasileira se faz necessário diante dos desafios de se combater em um país extremamente marcado pelo patriarcado, pelo sexismo e o racismo que a todo o momento mostra sua face, nos alertando para as nossas constantes lutas em busca de informações que possibilitem emancipação das mulheres.

Sobre o pensamento do patriarcado arcaico, sexista, racista e de dominação que insiste em permanece em nossa sociedade Hooks (2013, P.43) diz:

Nos ensinam a crer que a dominação é “natural” que os fortes e poderosos tem o poder de dominar os fracos e impotentes. O que me espanta é que, embora tanta gente afirme rejeitar esses valores, nossa rejeição coletiva esta longe de ser completa, visto que ela ainda prevalecem em nossa vida cotidiana.

Diante disso ressaltamos a atuação dos vários movimentos sociais de mulheres que trazem atualmente muitos matizes ideológicos, dentre eles temos movimentos de mulheres no campo, movimento feminista de mulheres negras, as associações de mulheres, todos esses disseminam ideais libertárias paras as mulheres trazendo em si, práticas de educação politizada. A união dessas mulheres nesses movimentos estimula o seu empoderando, conscientizando quanto aos seus direitos proporcionando que assumam a posição de protagonistas das realidades onde vivem.

O movimento feminista foi um grande exemplo de movimento social que proporcionou força para a mulher lutar por liberdade e igualdade de direitos. De acordo com Hall, (2005) esse movimento surgiu durante os anos sessenta, junto com alguns movimentos sociais, como as revoltas estudantis, movimentos pela paz dentre outros. O feminismo trouxe para a politica a contestação de dimensões novas para a vida social como: a família, a sexualidade, o trabalho domestico e a divisão das tarefas, politizou também as identidades de homens e mulheres e questionou a questão das diferenças sexuais.

Ao analisar a trajetória da mulher no campo identificamos que de acordo com Gonçalves et al. (2016) a mulher camponesa vem influenciando de varias maneiras a questão do gênero, a construção dessa mulher camponesa ao longo desse processo histórico tem trazido novos elementos que resignificaram as formas de atuação sociocultural da mulher no campo. As associações de mulheres no campo são responsáveis por uma grande força de transformação social e de conscientização para as mulheres que estão inseridas nesses movimentos, neles elas se organizam e lutam pelos seus direitos e de suas comunidades.

Diante da contemporaneidade e da globalização Hall, (2005) fala dos novos conceitos de identidades pós-moderna trazem um sujeito com identidades, mais descentrados e fragmentadas, surge até uma crise de identidade. Ao discutir sobre identidades negras na atualidade ressaltamos a construção e a reconstrução das identidades dessas mulheres e suas lutas contra o racismo, e a opressão nos espaços em que se encontram. Sobre identidade negra e movimentos sociais Moreira (2007) diz: “O movimento de mulheres negras demarcava a sua identidade mediante a negritude que estava inscrita nos corpos das ativistas”.

Para discutir a relação da mulher e da mulher negra na agricultura, e para investigarmos as suas identidades e culturas sobre a ótica atual analisando toda a descriminação, opressão de gênero e de raça apresento o pensamento de Hooks (2013, p.41) que diz:

Hoje, assistindo a ascensão da supremacia branca e ao crescente apartheid social e econômica que separa brancos e negro, ricos e pobres, homem e mulheres, juntei a luta pelo fim do racismo um compromisso com o fim do sexismo e da opressão sexista e com a erradicação do sistema de exploração. Cintes de que vivemos em uma cultura de dominação me pergunto agora como me perguntava a mais de vinte anos, quais valores e hábitos, se refletem o meu/seu compromisso com a liberdade.

Apesar de muitas mulheres hoje, estarem à frente de muitos trabalhos no campo, inclusive sendo a provedora do lar, de estares nas associações de moradores, nas associações rurais nos movimentos sociais de mulheres lutando por seus direitos, a invisibilidade da mulher, sobretudo, da mulher negra na agricultura familiar é notório. O cenário onde se encontra a mulher na agricultura familiar atualmente ainda é muito marcado por desigualdade de gênero, violência e opressão do patriarcado. Precisamos fazer muito ainda para incentiva as mulheres nas comunidades rurais, para que elas possam perceber que sua participação é fundamental nesse cenário de trabalho e de luta, encorajando-as na busca por emancipação fazendo-as conhecer sua força de liderança.

Os movimentos sociais em prol da educação abrangem uma diversidade de temas não somente de escola como: gênero, etnia, nacionalidade, religião, meio ambiente ente outros temas socioculturais ligados aos direitos humanos (GOHN, 2011)

Movimentos sociais e educação estão relacionados de duas formas no intercambio dos movimentos sociais e as instituições educativas e dentro dos movimentos social devido o caráter de suas ações (GOHN, 2011). A ação dos movimentos sociais no campo gera uma educação coletiva capaz de estimular a critica aos modelos de dominação. As associações visam à organização dos agricultores e agriculturas em buscar de informação de recursos financeiros para investimentos em insumos agrícolas, assistência técnicas, os ligando há instituições do governo em busca de seus direitos. Segundo Almeida et al. (2012) as associações são a base dos conceitos que trazem perspectivas renovadoras da democracia, por interagirem com o governo ou por gerarem espaços de discursão política.

Sobre os movimentos sociais com seus elementos geradores de conhecimentos Gohn (2011, p. 333) destaca:

De pronto, esclareço: para nós, a educação não se resume à educação escolar, realizada na escola propriamente dita. Há aprendizagens e produção de saberes em outros espaços, aqui denominados de educação não formal. Portanto, trabalha-se com uma concepção ampla de educação. Um dos exemplos de outros espaços educativos é a participação social em movimentos e ações coletivas, o que gera aprendizagens e saberes.

Os movimentos sociais podem gera saberes que contribuem para educação popular. Santos (2008) sobre as formas de conhecimento que nos são apresentadas na atualidade afirma que a ciência pós-moderna: “Tenta, pois, dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar por elas”. Ainda segundo Santos (2008) o conhecimento do senso comum tem qualidades que podem enriquecer nossas relações com o mundo.

A cultura popular traz consigo uma bagagem de conhecimentos advindos da interação dos sujeitos com os meios em que vivem dos diálogos e experiências vivenciados ao longo do tempo, portanto esses conhecimentos possuem em si uma força humanizante que valoriza as relações do homem com o homem e seu entorno essa relação o torna politizado e gera transformações sociais.

Referencia

ALMEIDA, C.; LUCHMANN, L.; RIBEIRO, E. Associativismo e representação política feminina no Brasil. Revista Brasileira de Ciência Política, n° 8. Brasília, maio - agosto de 2012, p. 237-263.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais na contemporaneidade. In: Revista Brasileira de Educação v. 16 n. 47 maio-ago, 2011.

GONÇALVES, M. S. N.; MOLINA, M. C.; CORDEIRO, G. N. K. Gênero e constituição da mulher camponesa: um estudo das produções acadêmicas sobre gênero na formação proposta pela educação superior do campo no Brasil de 2011 a 2015. Anais do XXIV Seminário Nacional UNIVERSITAS/BR ISSN 2446-6123. Universidade Estadual de Maringá – 18 a 20 de Maio de 2016

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. P.64.

HOOKS, Bell. Uma revolução de valores. In: HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2013, p.37-50.

RAMOS. C. P. Mulheres rurais atuando no fortalecimento da agricultura familiar local. Gênero. Niterói, v.15 , n.1 ,p.29-48, 2014

SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.25.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p.54.

MOREIRA, N. R. O feminismo negro brasileiro: um estudo do movimento de mulheres negras no Rio de Janeiro e São Paulo. Dissertação de mestrado. Universidade estadual de campinas. 2007.p.120. Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas, 2007.

Taiana Carvalho Paiva
Enviado por Taiana Carvalho Paiva em 05/12/2020
Reeditado em 23/01/2021
Código do texto: T7128558
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