Competências e habilidades pedagógicas

Competências e habilidades pedagógicas

Regina Lúcia Barros Leal da Silveira

Resumo

O texto sinaliza reflexões sobre competências e

habilidades adequadas à formação de professores e a

demanda da sociedade contemporânea, marcada pela

diversidade, a complexidade, a globalização, e as novas

tecnologias da informação, da comunicação e do novo

modelo produtivo. Abordando, de forma indagativa, o

processo de formação pretende-se mostrar a importância da

ressignificação dos cursos de formação, procurando expor

algumas questões pertinentes ao tema, pondo em evidência

os sentidos de uma formação que vá além de um

reducionismo técnico, propondo a articulação dos saberes

locais com os saberes globais, numa perspectiva otimista

de possibilidades.

1É tarefa do educador, todos os dias, de qualquer modo, de

todos os jeitos, formar o jovem para ser sujeito, protagonista da

sua história. Educar o jovem cidadão para ser melhor como

gente, desenvolver sua humanidade, sua espiritualidade

formando-o para participar ativamente do processo de

transformação social.

(A autora)

Iniciamos este fala* expressando algumas questões relacionadas ao desafio

cotidiano do professor em sala de aula. Assim, busca-se ressaltar que as mudanças atuais

ocorridas no cenário educacional vêm requerendo a reestruturação do processo de ensino

- aprendizagem na sua forma didático-pedagógica, uma vez que há uma dinâmica

contemporânea fundada em novos conceitos de educação, de competência, de

habilidades e consequentemente, de formação profissional.

Não há respostas prontas, já que se vive numa realidade complexa, globalizada,

informatizada, e predominantemente competitiva. São apenas ponderações que podem

sinalizar indagações sabre o papel da escola e, sobretudo, a dinâmica da sala de aula, a

prática do professor. Neste circunstante, recomenda-se

Respeito à diferença do aluno. A realidade e a diversidade dos sujeitos em

formação; compreender e saber fazer esta leitura poderá evitar equívocos graves

na condução dos trabalhos didáticos em sala de aula.

Trabalho com conteúdos adequados ao tempo cultural do aluno para que

este possa se apropriar de saberes fundamentais à sua inserção ativa na família,

na sociedade, no mundo do trabalho, como pessoa como cidadão e como

profissional;

Uma formação que possibilite ao aluno desenvolver suas competências e

habilidades instrumentais, humanas e políticas; uma formação que reconheça

nele sua identidade como sujeito de cultura,

Um trabalho educativo que discuta e habilite o jovem para entender os novos

códigos simbólicos que qualificam uma sociedade que se informatiza, se

tecnifica, se organiza dinamicamente em várias de suas atividades.

1 1

Texto apresentado para uma palestra sobre competências e habilidades do professor no Seminário de

Docentes no Colégio Ari de Sá em janeiro/2003.

2A relação teórico-prática, o aprender a pensar, o saber-fazer, o saber-conhecer e

o saber-conviver, vistos como mecanismos fundantes da competência humana e

de habilidades profissionais. Uma relação que articule teoria e pratica, como

momentos entrelaçados, construindo assim, uma práxis pedagógica.

Professores que promovam sonhos, projetos e metas de vida capazes de

fortalecer a alma juvenil.

Como fazer isso? Que homens entendem, que são eles os fazedores da história?

Como viabilizar projetos pedagógicos que dêem conta desse real. ? Quais

pesquisas poderiam colaborar com a reflexão sobre a pratica didáticopedagógica, presente no cotidiano da sala de aula? Como introjetar o

compromisso com a mudança?

Escolhemos, para este momento falar, então, de um itinerário marcado pelo

desejo, pela vontade de realizar ações e robustecer idéias. Por que não acreditar em

escolas cheias de esperança que ao mesmo tempo em que ensinamos nossos jovens

a contar, a dividir, a produzir textos, a conhecer a história, a desenvolver suas

habilidades básicas e gerais, ensinamos a vida, a paz, a luta, a resistência, a

cidadania?

Então, é porque cremos na mudança que estamos aqui.

Viemos para afirmar que temos fé, declarando com convicção, que o mais

importante é promover a liberdade para aprender, favorecer situações para que o

aluno se descubra com um sujeito capaz de ser protagonista de sua história

individual e coletiva. Estamos aqui, para falar de desafios. Deste modo,

precisamos rechear os nossos cursos de otimismo, de saberes que fazem sentido,

de informações atuais. Que se ensine o aluno a gostar de aprender, a ter prazer no

que faz, o que significa, a nosso juízo, não somente ser portador de uma variedade

de habilidades soltas, fragmentadas, dispersas, desconectadas com um contexto

mais amplo, mas sim, que este aprenda a viver corajosamente, lidando com os

sabores e dissabores tão próprios da vida humana, para inserir-se neste mundo de

incertezas. Que adquira a competência de saber viver com qualidade, sem

mergulhar no individualismo que embota a visão do mundo.

Distinguir e associar e não disjuntar e reduzir.

Os geralmente têm medo da confusão do todo que há em tudo e vice!

Versa! Mas absolutamente não trata de misturar as coisas. Trata-se

de distingui-las e associa-las. Há um princípio de complexidade...,

Que na minha opinião é um principio primário (Citado por Isabel

Petraglia em Edgar Morin: A Educação e a Complexidade do Ser e

do Saber, 84).

3Reafirmamos importância da relação teoria e prática num cenário em que se

aprenda a pensar e a fazer, estabelecendo vínculos e produzindo o conhecimento.

Esperamos que a escola respeite as diferenças, os saberes dos alunos e suas

peculiaridades idiossincráticas, que os professores interliguem com os outros saberes

culturais e sociais, como mecanismo de inserção social. Ou seja, gerem uma reflexão

sobre a complexidade e a unidade, estabelecendo os relacionamentos teóricopráticos.

Acreditamos no homem, sim, confiamos na capacidade de se superar e engajarse em movimentos sociais, exercitar a cidadania organizada, com o compromisso de

preparar profissionais envolvidos com a realização de uma formação crítica, capazes de

engajar-se no cenário do trabalho.

E como enfrentar o mercado de trabalho com as sua novas exigências? Como

preparar jovens que atendam demandas específicas sem se afastar dos princípios

éticos da solidariedade. Competir, mas, sobretudo colaborar com o outro?

E quais são as competências que exigem atualmente do jovem?

Conhecimento científico? Capacidade de adequar-se ao novo modelo de produção?

Empatia? Inteligência Emocional? Competência interpessoal? Agilidade, audácia,

criatividade e criticidade? Capacidade de construir, de realizar alguma coisa? Tomar

iniciativa? Assumir riscos? O sujeito que aprende a viver, em cada momento, as suas

limitações na tentativa de superação? Ser paciente e dar tempo, inclusive, para o

desenvolvimento das idéias? Estamos preparando o jovem para enfrentar as

dificuldades e as incertezas da vida? Compreender a unidade complexa da natureza

humana? Perceber a necessidade de ler implícito. Ter a consciência do infinito?

(Barros Leal: 2001)

Estudos e pesquisas têm indicado o valor da formação docente.2 Qual

formação poderia preparar o sujeito que exerce o ofício de professor em possível

profissional que atenda à sua realidade enquanto cidadão e à demanda dos alunos, da

sociedade e do mundo do trabalho? Quais as mudanças? Quais as garantias? Assim

arriscamos afirmar, que precisamos de aulas que ultrapassem a aprendizagem

reducionista dos conteúdos específicos, técnicos e não passem de raspão pelos

saberes essenciais ao homem, como se estes fossem apenas conteúdos obrigatórios. Ë

imprescindível que os jovens aprendam com os outros. Mas, para isso é necessário

estabelecer a ruptura com o aulismo restrito, com um ensino alienante e alienado,

utilizando-se de um discurso e uma pratica atualizada: transversalizada, complexa,

interdisciplinarizada, integrada aos conteúdos críticos. O aluno é um grande

mobilizador de energia e o encontro geracional do educador e educando, ambos em

consonância de objetivos, metas e compromisso, podem reverter um cenário do

2 COUSINET, Roger. A formação do educador e a pedagogia da aprendizagem. Editora Nacional. São

Paulo, 1974. Nóvoa, Antonio. Os professores e sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1996,_________

Profissão Professor. Porto Alegre: Porto editora, 1995, ALARCÃO, Isabel. Estratégias de supervisão.

Porto Alegre: Editora Porto, 1996.

4ensino aprendizagem, onde o aluno e um sujeito passivo. Pensar em experiências de

aprendizagem como um dos caminhos essenciais a formação do aluno.

Indicamos outras indagações.

Arriscamos então, muito embora, reconheçamos que estamos em contínuo

processo de mudança, que a noção de didática3 deva ser ressignificada, que o ensino

deve ultrapassar o reducionismo da ótica estrita do saber, que o professor recupere

sua auto-estima e se reconheça como um profissional importante na escola e para a

escola, que a formação do professor vá além de sua natureza técnica e ultrapasse as

fronteiras ligando-se aos saberes globais44. Que o processo de formação, hoje, deve

ser um permanente devir, investigativo, pesquisador, confrontando os saberes formais

do conhecimento com os saberes informais das experiências dos professores no seu

cotidiano. Donald Schon deu uma grande colaboração quando reconheceu que o

professor tem uma sabedoria advinda da pratica, muitas vezes negada, esquecida. A

sabedoria da prática, por isso, ele (Schon) dá ênfase a uma epistemologia da prática.

Faz sentido então, o professor organizar condições para o aluno realizar experiências

de aprendizagem em suas mais diversas linguagens e natureza: cognitiva, afetiva,

humana, técnica, comunicacional, entre outras, Formar também para atuar de modo

autônomo, criativo e solidário no exercício do trabalho.

Para o professor, arriscamos expressar:

¾ Ter a capacidade de se reconhecer como uma pessoa com possibilidades de

renovação e capacidade de relacionar-se com o outro (competência interpessoal)

¾ Ser capaz de refletir sobre o seu saber – fazer, na perspectiva de propiciar aulas

alegres, sérias, exigentes, utilizando diferentes métodos e técnicas, jogos e dinâmicas,

saberes e linguagens, e códigos;

¾ Ter condições de fazer a leitura contextualizada e propiciar ao aluno a

interdisciplinariedade do conhecimento;

¾ Partilhar de uma visão ampla das questões sociais e suas relações com as situações

cotidianas; leituras, debates, dúvidas (pois a dúvida ensina, tanto ao aluno quanto ao

professor);

3 HAYDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática geral. São Paulo: Editora Ática, 1995,

LIBÂNEO,J.C. – “Didática”. São Paulo: Cortez, 1991. OLIVEIRA, M. R. N. S. (Orgs). –

“Confluências Divergências entre didática e currículo”. Campinas: Papirus, 1998, 176p PIMENTA, S.

G. – “A didática como mediação na construção da identidade do professor: uma experiência de ensino

e pesquisa na licenciatura”. In: Pimenta, S. G. O estágio na formação de professores: unidade teoria e

prática. São Paulo: Cortez, 1995, p.37-69, VEIGA, I. P. (Org.) – “Didática: o ensino e suas relações”.

Campinas: Papirus, 1996. 183p.

5¾ Buscar a resolução dos problemas, colocar o aluno diante de desafios cognitivos,

problematizações, representações do imaginário coletivo; desfazer e descontruir

conhecimento para reconstrui-lo através de questões partilhadas em sala; ligar os

problemas menores às grandes questões universais, planetárias;

¾ Adquirir resistência aos embates diários nos cenários de sala de aula, trabalhando

com as diferenças, administrando os diversos níveis, avaliando continuamente sua

prática;

¾ Aprender a lidar com as incertezas do cotidiano, para não mergulhar na decepção

dos crédulos ingênuos (competência humana: habilidade para desenvolver atitudes de

otimismo); discutir a temporalidade, a incerteza, a oportunidade, o otimismo,

transversalizando esses saberes com os conteúdos formais;

¾ Acreditar na esperança, no sendo, no devir, no mudar, na transformação,

partilhando com os alunos, os companheiros de profissão, das decisões em sala,

construindo normas e limites no processo da co-gestão;

¾ Dizer a sua palavra com adequação o que significa aprender a ouvir, a escutar e a

falar, principalmente dizer de si e dos outros, aprender a dar razão ao aluno, a

deslumbrar-se com as revelações. Schon alerta para que aprendamos a sermos

sensíveis ao inusitado, ao imprevisível.

¾ Compreender os sujeitos, o aluno com sua subjetividade. Ter sensibilidade sobre a

realidade de vida de cada sujeito, dos problemas cotidianos, com a atitude corajosa

de enfrentamento dos desafios postos em sala de aula. Ter a coragem de romper

com os paradigmas rígidos que aprisionam a essencialidade do professor. Ensinar

a enfrentar o vestibular, sem perder de vista, o mais essencial para o aluno é ele

também aprender a lidar com os sucessos e fracassos, tão presentes na vida

humana;

¾ Construir conhecimentos numa perspectiva do novo, do desafiador; Falar das

diferenças de oportunidades, das demandas do mundo do trabalho, da

competitividade, do empreendedorismo. Mas, falar também e muito mais, da ética,

das lutas e da desigualdade.

Concluímos, ressaltando o valor que deve ser dado a formação dos professores,

para que os mesmos desafiem a si mesmos, com o compromisso de formar jovens

capazes de protagonizarem sua história e redimensionarem sua capacidade de lidar com

a vida. Isto é essencial!

Muito obrigada.

.

BIBLIOGRAFIA

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Regina Barros Leal
Enviado por Regina Barros Leal em 29/11/2020
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