A importância do Tutor no processo e aprendizagem a distancia-EAD

Resumo

O artigo apresenta reflexões sobre a importância do papel do Tutor na EAD e teve por

objetivo colaborar com a construção do conceito de tutoria, exigência acadêmica de um

curso de EAD sobre Tutoria. Tais reflexões, longe de serem conclusivas, ampliam, no

entanto, nossa compreensão a respeito do papel do Tutor numa categoria acadêmica,

formativa. Procura expressar um conjunto de idéias nascidas de nossa reflexão sobre o

processo educativo numa perspectiva de formação intelectual e humana. Trata-se de um

conjunto de indagações acerca do tema e sua possível implicação na qualidade da educação

a distancia tanto do ponto de vista da reflexão teórica quanto do ponto de vista da prática

educativa.

Abstract

The article presents reflections on the importance of the paper of the Tutor and had for

objective to collaborate with the collective construction of this conception. Such

reflections, far to be conclusive, extend, however, our understanding regarding the paper of

the Tutor in an academic, formative category. It looks for to express a set of ideas born of a

reflection on the educative process in a perspective of intellectual formation and human

being. A set of investigations concerning the paper of the Tutor and its possible

implications in the quality of the education the distance in such a way of the point of view

of the

Palavras-Chave; EAD. A importância do Tutor; categoria acadêmica do Tutor: o papel da

tutoria.

Introdução

Há um debate em pauta no modelo de Educação a distancia -EAD em suas propostas

mais atuais. A discussão posta nessa reflexão é contemporânea e se centra na necessidade

do desvencilhamento de paradigmas cristalizados, no que se refere ao papel do Tutor no

modelo de EAD com a inserção das novas tecnologias que vem exigindo mudanças

paradigmáticas em sua estrutura didático-pedagógica. Nessa questão emerge um debate

atual: o papel da tutoria na EAD e sua relevância no processo.

“O trabalho em programas de educação a distância permitiu-nos e

permite-nos identificar algumas questões em torno das quais

permanentemente colocam-se dúvidas e interrogações. O tutor - seu

papel, suas funções, as tarefas que tem de realizar, as responsabilidades

que assume é um desses pontos-chave nos quais costumam aparecer mais

perguntas que respostas. O que significa ser tutor? Quais são os alcances

da tarefa? Qual é a especificidade do seu papel? Há uma especificidade

do seu papel? Quem é reconhecido como bom tutor? Como se forma umtutor? Como se avalia seu trabalho? O tutor é imprescindível na

modalidade à distância? (MAGGIO, 2001) ·········”········.

Essas questões expressam as indagações presentes nos programas de educação a

distancia, numa tentativa de redefinir as funções dos protagonistas da ação educativa,

ressignificando os papeis dos atores principais, e em especial, o papel do tutor.

Quem seria então o Tutor? Um mestre? U m educador? Aquele que ultrapassaria a

visão restrita do especialista, do conteudista? Um educador que transcende o papel de

motivador, de facilitador. Um educador que sustenta uma reflexão sobre a complexidade da

ação educativa, mesmo a distancia, ultrapassando os modelos lineares? Um Tutor que para

organizar situações que promovam a aprendizagem dos alunos transgredi algumas normas

já padronizadas e tão confiáveis?

Eis um desafio.

Na nossa concepção, ainda preliminar porquanto não se ter uma experiência

consolidada em EAD, compreendemos o papel do Tutor enquanto categoria acadêmica,

baseada no compromisso com a formação de alunos que pensem e sejam capazes de

discutir e elaborar conhecimento. Um Tutor educador, que tenha percorrido um caminho

que o leve ao pensar livre, descarnado de preceitos tecnológicos que obtusam as mentes

criativas. Um Tutor que compreenda o papel da universidade, num contexto a distancia,

como lócus do debate, da criação, que se permita desconstruir e reconstruir significados na

sua ação formativa e na construção do saber cientifico. Um tutor/educador capaz de se

indignar com a vulgaridade de propostas alienantes; capaz de elaborar um contra -discurso

ideológico; que, sobretudo, seja aberto à mudanças, aos novos paradigmas tecnológicos.

Enfim, um profissional com condições de aprender a aprender com competência para fazer

da educação a distancia, um espaço de virtualidade criativo, poético, formativo e

comprometido com a formação de alunos críticos e sujeitos pensantes. Parece lugar

comum, mas não nos parece ser exaustivo repetir essa questão, por ser por demais presente.

Nessa perspectiva de construção de saberes que se articulam no espaço virtual, o

Tutor poderia ser aquele que instiga a participação do aluno evitando a desistência, o

desalento, o desencanto pelo saber. Talvez aquele que possibilita a construção coletiva e

percorre uma trajetória metodológica desobediente, transgressora de receitas prontas e

acabadas e construa, de forma participativa com seus alunos nova saberes, novos olhares

sobre o real.

No texto Educação de Adultos-Uma abordagem Andragógica, o autor (GOECKS,

2004)1 enfatiza que o facilitador preparado está consciente dos complexos processos sociais

envolvidos na interação grupal e no processo criativo. Essa afirmação nos instiga a elaborar

uma reflexão que percebo como sendo crucial, capital, para a EAD. Propiciar um diálogo

entre alunos e Tutores, no contexto da EAD, uma conversação didática criativa e capaz de

1

GOECKS, Rodrigo. Educação de Adultos – Uma Abordagem Andragógica. In:

http://www.andragogia.com.br/ . Acesso em 22/07/2004fomentar o pensamento, a liberdade do pensamento, a fluência das idéias, o confronto de

posições epistemológicas. Precisamos ainda aprender a articular conhecimento, integrar

saberes, porque ainda não superamos a forma disciplinar, fragmentada trabalhar o

conhecimento. E onde fica a complexidade? A interdisciplinaridade? A

transdisciplinariedade? Não seria então, o momento de criar uma categoria acadêmica do

Tutor, articulado com o papel de educador que está em contato com o aluno na perspectiva

da sua formação e no compromisso de interdisciplinar o conhecimento?

O cabe realmente ao Tutor e qual sua importância?

Cremos numa relação fundamentada numa concepção de participação, em que seu

elemento fundante seja uma prática transformadora. Uma prática articulada com o diálogo

e com orientações acadêmicas que gerem reflexões sobre a unidade do saber, a totalidade

do conhecimento e a capacidade do sujeito aprendente criar e gerar conhecimento. Cremos

no reencantamento da educação, na reconstrução de saberes, na articulação com o outro,

daí entender que o espaço virtual, bem como as novas tecnologias da comunicação e

informação podem ser interessantes no fazer educativo. Eu pergunto então/? Como

desenvolver a educação hoje desconhecendo essa realidade? Como negar o inegável?

Como se inserir na sociedade globalizada, na sociedade do conhecimento sem confundir o

conhecimento com informação. Como ter a sensibilidade aguçada para sermos mais

inteligentes na utilização da tecnologia sem perder de vista a nossa essencialidade humana.

Como sermos sujeitos que constroem, que reconhecem a beleza do natural, do sol, da

ternura de uma noite de luar e navegar no espaço virtual, usar as tecnologias sem nos

aprisionar aos meios? Será então o nosso maior desafio não permitir que a tecnologia

retire do aluno, em sua aprendizagem o contato com a estética do natural, com a beleza

infinita das estrelas, com o efeito mágico do luar, com o encontro com o outro na relação

EU e TU. Como desenvolver uma dimensão axiológica, ética na EAD? Recorremos a

Illich a “À medida que eu domino a ferramenta, eu preencho o mundo com sentido; à

medida que a ferramenta me domina, ela me molda sua estrutura, e me impõe uma idéia de

mim” mesmo “2 A reflexão sobre essa questão é fundamental para nossa liberdade de criar

e pensar sobre o mundo.

Trabalhar a complexidade do saber fazer educativo na visão do aprender a aprender,

na ótica reflexiva da construção do saber é um dos grandes desafios do Tutor. Ainda,

propiciar momentos em que o aluno aprenda a ler e a reler o mundo, a apropriar-se do

conhecimento, a redimensionar valores, a rever atitudes.

Lembremos uma frase de Jean Piaget: "Os fenômenos humanos

são biológicos em suas raízes, sociais em seus fins e mentais em seus

meios". A experiência humana é um todo bio-psico-social, que não pode

ser dividido em partes nem reduzido a nenhuma delas. Primeiro,

2

ILLICH, Ivan. A Convivencialidade. Lisboa: Europa-América, 1976.percebemos o mundo. Em seguida, as percepções geram sentimentos e

emoções. Na seqüência, estes são elaborados em forma de pensamentos,

que vão determinar o nosso comportamento no cotidiano3

Os múltiplos fatores nos acercam e se não formos curiosos e ousados para descobrir

suas vantagens e possibilidades, certamente que ficaremos obsoletos e ultrapassados. Não

seremos homens do tempo de hoje. E como nos adaptar a realidade que muda a cada

instante e aprendermos a lidar com as nossas resistências, face ao nosso tempo cultural,

social? Arriscando, arrojando-se, com a mente aberta para o novo, porque é por ai que

aprendemos a ressignificar conceitos, a transversalizar o conhecimento, sem perder de vista

a humanização. E é possível na EAD?

O papel do tutor então, na nossa perspectiva, ultrapassa a visão puramente técnica,

transcende a exacerbação da especialidade, adquirindo competência para instrumentalizar à

tecnologia. O papel do Tutor, sobremodo, supera assim o conceito reducionista de

propostas estritamente técnicas. O Tutor é um educador a distancia. Aquele que coordena a

seleção de conteúdos, que discute as estratégias de aprendizagem, que suscita a criação de

percursos acadêmicos, que problematiza o conhecimento, que estabelece o diálogo com o

aluno, que media problemas de aprendizagem, sugere, instiga, acolhe. Enfim, um

professor no espaço virtual, exercendo a sua função de formar o aluno.

Como desenvolver na EAD um papel reflexivo? Não há respostas prontas, acabadas,

mas a convicção de que educar, mesmo a distancia, é um movimento para formação do

aluno, onde a dimensão de possibilidades permeia a ação educativa. Se não entendermos

esse paradigma do contra discurso técnico, se não transgredirmos os modelos cristalizados

em fórmulas tecnológicas, que colocam os sujeitos como respondentes passivos do

processo, estaremos reproduzindo uma educação tecnicista, alienada.Assim ratifico a

importância vital de um Tutor com formação acadêmica que organize situações didáticas,

juntamente com os alunos, escapando das armadilhas técnicas. Uma ação tutorial que

procure desvelar as subjetividades presentes na construção de saberes dos sujeitos

envolvidos.

Pergunta-se: Será possível ultrapassar as limitações e alcançar tais possibilidades na

EAD? Lembramos que a seriação tolda a diversidade. Como evitar, sobretudo, a

padronização perseverando na busca de respostas criativas? Defendemos uma concepção

de que o Tutor seria aquele que, problematizando o conhecimento crie estratégias em que o

do aluno veja o mundo e a si mesmo e vislumbre os riscos, as incertezas, a temporalidade

humana, as vantagens da tecnologia, do conhecimento e o encantamento do aprender. Além

disso, aprenda a usar a tecnologia, a adquirir competência e habilidades no trato de questões

de natureza técnica e operacional. Um Tutor que procure garantir a relação teoria e prática;

a investigação do real no desenvolvimento de situações de aprendizagem.

Qual seria a sua formação do Tutor?

3

Resumo elaborado por JulioTôrres, do texto de Complexidade e Pensamento Sistêmico de Humberto

Mariotti em 2004. Grupo de estudo sobre Complexidade da UNIFORA nosso juízo, o Tutor teria uma formação acadêmica definida por sua experiência

em educação, sua titulação acadêmica, seu conhecimento didático-pedagógico. Talvez seja

imprescindível que tenha experiência no ensino presencial. Quem sabe, assim poderia

compreender a diversidade dos sujeitos e a complexidade e singularidade do processo de

aprendizagem e as diferentes teorias. Além desse perfil, um Tutor teria que entender o

encantamento do processo de aprendizagem para se apaixonar por sua atividade docente,

principalmente pela distancia real de contatos presenciais. EAD não se limita a um

processo informativo.

Toda e qualquer experiência pedagógica não prescinde de um processo

metodológico que a coloca em movimento, ao qual subjaz uma

concepção que se objetiva em um plano, um método, porém, não se reduz

a ele (ao processo metodológico). O que garante a qualidade de um

processo de trabalho de caráter pedagógico é a congruência entre seus

elementos: concepção, conhecimento específico e organização didáticometodológica.4

Entretanto, pensamos que é importante refletir e discutir mais profundamente

sobre o método, as estratégias que conduzem ao debate criativo. Essa questão também nos

remete ao conceito de Poiesis5 como ato criativo (mesma raiz de “poesia”); a vida é

autopoiética, ela cria, ela inventa e reinventa a si própria – a partir de si própria. Alguém

poderia perguntar: Mas o que tem isso a ver com EAD? Eu diria, sem me arvorar de

nenhuma certeza, talvez esse seja uma reflexão necessária para que não perdermos de vista

os caminhos para reinvenção.

Mas vejamos,

Qual é, em essência, na visão acadêmica, o papel do Tutor? Seria um Tutor/

professor/andragogo com competência para organizar pesquisas criativas, situações

provocativas do ato criador nesse universo de possibilidades que é a EAD. Muitas são as

denominações. Mas, a todo custo devemos evitar a formação de um Tutor que reproduza a

fragmentação do saber, a cultura de lotes de conhecimento. É fundamentar garantirmos uma

formação que sustente a compreensão da prática educativa em que seus elementos

fundantes se inspirem numa concepção do belo, da unicidade, da estética, das

possibilidades circunscritas na relação educador-educando baseada no diálogo, no encontro

com o outro. Por ser diferente ensino a distancia exige habilidades diferenciadas,

principalmente com a introdução de novas tecnologias. É um sistema peculiar de educação.

Daí a necessidade de uma sólida formação acadêmica.

4 CATAPAN, Araci Hack FIALHO, Francisco Antonio Pereira.Autonomia e Sensibilidade na rede: uma

proposta metodológica. 2004R

5

.Poiesis é o ato criativo (mesma raiz de “poesia”)E sobre a relação tutor-aluno? Ambos são protagonistas. Uma proposta de ensino

que estabeleçam, em seu cerne, uma separação entre educador educando já indica um

caminho autoritário, linear. Daí, o desafio permanente da EAD.

Chamamos atenção para uma reflexão que nos parece interessante. Não seria cabível

discutirmos outro paradigma? Pensarmos em um modelo de EAD que contemplasse o papel

do Tutor como um professor, que mesmo a distancia não estivesse distante dos seus

alunos. Um Tutor presente no processo, relatando experiências, conferenciando,

orientando leituras, pesquisas, compartilhando com os alunos estratégias de ensino,

escolhendo com alunos material de pesquisa, temas para debates no forun, construindo

conhecimento. Entretanto os tutores teriam monitores. Alunos que podem assumir

algumas atividades a distancia, que colaborassem com o Tutor e, nesse contexto, as

escolhas, a os diálogos entre alunos e monitores e Tutor fortaleceria, quem sabe, a atividade

acadêmica. Juntos, tutores, monitores e alunos, poderiam apresentar sugestões temáticas,

metodológicas e operacionais no sentido de fortalecer o processo participativo.

Nesse modelo poderíamos criar uma forte motivação para os alunos que

expressassem interesse na EAD e estaríamos preparando, ao longo do processo, futuros

tutores. Seria um modelo similar ao sistema de monitoria da universidade no ensino

presencial.

Enfim, as questões expressas no texto refletem a nossa preocupação com relação à

formação do Tutor. Foi nossa intenção instigar reflexões mesmo que também estejam

presentes no ensino presencial. Nossa crença é que a EAD é diferenciada em seus meios,

mas não se desvencilha, em sua essência, das dimensões presentes no processo educativo.

Dessa forma, reafirmamos que “a pedagogia de possibilidades cria um espaço fecundo, porque é

trabalhando com as possibilidades que revelamos nossa crença nas pessoas, no potencial criativo

(LEAL, 1997)”.

Bibliografia

CATAPAN, Araci Hack FIALHO, Francisco Antonio Pereira.Autonomia e Sensibilidade

na Rede: uma proposta metodológica. .2004·.

GOECKS, Rodrigo. Educação de Adultos – Uma Abordagem Andragógica. In:

http://www.andragogia.com.br/ . Acesso em 22/07/2004

ILLICH, Ivan. A Convivencialidade. Lisboa: Europa-América, 1976.

LEAL, Regina Barros. Proposta Pedagógica para Adolescente Privado de liberdade. Ceará, UNICEF, 1998

MAGGIO, Mariana, O Tutor na Educação a Distância, In: Educação a Distância: Temas

para o debate de uma nova agenda Educativa, Edith Litwin, Organizadora, Porto Alegre,

Artmed Editora, 2001.

Regina Barros Leal
Enviado por Regina Barros Leal em 29/11/2020
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