Horizontalidade e Diferença na Educação

Universidade de Pernambuco(UPE)

Curso de Psicologia.

Cadeira de Psicologia, Educação & Sociedade.

Profª: Jacqueline Travassos de Queiroz

Discente: Raul Magalhães Brasil

O texto em questão surgiu da seguinte indagação: "se eu precisasse avaliar alguém de uma forma diferente, sabe o que eu faria?" proposta como atividade da cadeira.

I.

Curiosamente, essa é uma pergunta que me é recorrente. Quando eu penso em um ideal de escola, ou em um ideal de ensino, logo me ponho no papel de um docente hipotético e pergunto a mim mesmo: “No contexto de uma escola que abarca as diferenças individuais dos alunos, qual seria a melhor maneira de avaliar alguém?”. Acho que essas minhas divagações dialogam muito bem com a pergunta proposta na atividade em questão.

Pois bem, creio que pensar num sistema de ensino que não mutile as potencialidades criativas de seus alunos é pensar num sistema que abarque suas diferenças individuais, sejam quais forem. Penso que essa abordagem ande lado a lado com uma forma de avaliação alternativa, que envolva um método de ensino horizontalizado, onde dialogam o professor e seus alunos. Numa situação hipotética, me colocando no lugar de um professor, digamos que eu deva fazer a avaliação da unidade da minha turma. Num diálogo horizontal com a mesma, procurando abarcar as suas diferentes formas de aprender e de criar, eu proporia que os alunos pudessem escolher serem avaliados ou fazendo uma prova tradicional, ou apresentando um trabalho em grupo, ou individual, ou fazendo uma pesquisa e me entregando, ou ainda, se esses métodos avaliativos não contemplassem a todos, construiria com eles uma nova forma de avaliação. É importante uma multiplicidade de métodos pois, nem todos aprendem por provas, nem todos aprendem pela apresentação de trabalhos e nem todos aprendem por pesquisas, pasmem, mas nem todos aprendem na escola. Afunilar as diferentes formas de aprender, e reduzir a um único método de avaliar, como a escola tradicional faz, é algo logaritimizante. É necessário abordar as diferentes formas de inteligência e de cognição e para tanto, deve-se dispor de uma quantidade considerável de métodos avaliativos contemplativos. Nesse exemplo ilustrativo citei somente os mais tradicionais.

II.

No entanto, a avaliação, imagino eu, não se resume somente ao modelo avaliativo. É preciso pensar também o sujeito-avaliador e o objeto-avaliado. Insistindo ainda no que chamo de ensino ideal, penso que o sujeito-avaliador deva horizontalizar-se com seu objeto-avaliado, para que ambos habitem o mesmo plano. Assim, um diálogo e entendimento entre as partes seria algo mais palpável, o que dificilmente ocorre quando olhamos para o método tradicional de ensino. Este, vertical e hierarquizado, onde o professor está sempre certo e os alunos devem homogeneizar-se e massificar-se para que, independente de suas diferenças, todos devam ser avaliados sobre o mesmo método.

Como antes dito, é necessário validar a heterogeneidade de formas de ser e de aprender dos alunos, multiplicando os métodos avaliativos.

Habitando o mesmo plano de aprendizagem que seus alunos, o professor terá mais contato com essas diferenças, podendo assim, em diálogo com os discentes, construir uma avaliação que seja contemplativa, e não mutiladora. E os alunos por sua vez, poderiam reconhecer os limites de entendimento de seu professor sobre eles, e ajudá-lo nesse diálogo educacional. Perceba que aqui o diálogo se faz peça-chave desse método avaliativo do qual tanto falo.

Em poucas palavras, se eu precisasse avaliar alguém de forma diferente, a forma com a qual eu avaliaria seria uma forma que, de fato, fosse diferente. No sentido filosófico da palavra, falando da própria Filosofia da Diferença. Eu buscaria abolir rotulações e métodos reducionistas e homogeneizantes, tentaria me afastar ao máximo da mutilação das potencialidades de existência e de produção dos meus avaliados, sem massificá-los ou sem codificar as suas subjetividades. Como professor hipotético, tudo o que eu menos quero é que meus alunos se tornem máquinas homeostáticas que perdem sua potência de expressão. Por um caminho diametralmente oposto a esse, buscaria formas que abrangessem as suas singularidades e as potencialidades de seus devires, validando a heterogeneidade de suas formas de existir, criar, aprender, comunicar e entender, ajudando-os a decodificar a sua potência de vida e encaminhando-os a uma autopoiese legítima.

Já que falamos em máquinas, como professor gostaria que eles fossem máquinas desejantes independentes e não engrenagens neuróticas e sobrecarregadas de uma máquina social mutiladora de subjetividades.

A fórmula para trazer esse ideal à tona? Não tenho certeza, métodos de ensino como estes, em nosso mundo globalizado, capitalista e hiper-produtivo, são raríssimos. Não posso dizer como reproduzi-los, mas beiro a certeza de como criá-los; e esse caminho se dá, como eu disse: Pelo diálogo, pela compreensão das partes e, portanto, pela horizontalidade da instituição de ensino.