Vítimas de bullying: o que os pais e professores não devem fazer

Sofrer bullying é uma experiência que quem passou certamente não deseja para seu pior inimigo. Apenas a pessoa sabe a medida da sua própria dor. Quem consegue calcular o preço de sofrer desprezo, indiferença e agressões por parte dos colegas em um ambiente no qual esperava fazer amizades e se sentir aceito? Pessoa alguma merece passar por algo assim. E há algo pior do que sofrer bullying? É uma pergunta difícil de responder, porém ver pessoas – estudantes e funcionários da escola – que nada fazem, apenas ficam olhando e até rindo enquanto a gente sofre bullying é algo inominável. Também não podemos dizer o que sentimos quando os professores e diretores nada fazem. É frequente que eles minimizem essa prática odiosa ou finjam que nada estão vendo, porque seria vergonhoso para eles admitir que isso acontece bem debaixo dos seus narizes.

Outro problema é que muitas vezes os pais não ajudam. Nem os das vítimas nem os das crianças que praticam bullying. Ainda que se diga que a vítima deva pedir ajuda, pode acontecer dos pais não darem o apoio necessário e digam à criança maltratada: “Aprenda a se defender, se baterem em você, bata com mais força.” Não é assim que tem que ser. Quem tem que fazer alguma coisa é a escola e, agindo assim, os pais da vítima estão cometendo um erro porque falam de um jeito que exime tanto os agressores quanto a escola de qualquer responsabilidade, como se a pessoa que sofre agressão fosse a única que tivesse de fazer algo a respeito. Isso está totalmente errado.

E por que é errado dizer que a vítima é que tem que se defender? É errado porque o bullying não é um problema pessoal, uma briga entre vítima e agressores. É uma questão social que envolve a escola e todos os pais e alunos. Se um aluno – ou um grupo deles – persegue e maltrata um estudante sem motivo aparente, algo precisa ser analisado. Primeiro, a escola é um microcosmo, que reflete os valores da sociedade em que vivemos e sabemos que o ser humano é preconceituoso. As pessoas têm preconceito com quem é diferente, não se encaixa nos padrões e, se não houver um freio legal ou moral, elas se sentirão livres para agir como quiserem. Vivemos em um mundo que classifica as pessoas por padrões e exclui os que não são aceitáveis.

A educação deve ser iniciada em casa. Cabe aos pais ensinarem aos filhos que devem respeitar a todos. Entretanto, muitos são os pais que, ou por falta de tempo ou outros fatores, não educam os filhos como deveriam. Há os pais permissivos, os superprotetores, os opressores e tóxicos e tantos outros que não vamos citar para não encompridar o texto. Pode acontecer inclusive das crianças viverem em um ambiente de violência doméstica. E muito do comportamento que ela apresenta na escola será fruto da educação recebida em casa.

Frequentemente, os pais das crianças que praticam bullying ignoram que seus filhos façam tal coisa. Aliás, alguns mimam demais os filhos e não os punem quando erram, o que dá à criança agressora um sentimento de onipotência, fazendo-a se sentir livre para agredir quem for mais fraco. Houve mesmo o caso de uma mãe que, ao saber que seu filho batia em uma menina e colocava toda a turma contra ela, apenas zombou da mãe da vítima. A partir daí, podemos deduzir os motivos dele se sentir tão poderoso para tamanha covardia, não?

Crianças podem praticar bullying por mil motivos. Por preconceito, para se sentirem poderosas ou até porque sofreram bullying em outras escolas onde estudaram ou no ambiente doméstico. Parece incrível alguém praticar a mesma coisa que sofreu ou sofre, não ? Mas isso acontece com demasiada frequência. Várias crianças que praticam bullying contra seus colegas apanham dos pais em casa ou apanharam de outras crianças em escolas onde estudaram antes. E isso dá início a um círculo vicioso e injusto.

Os pais e educadores precisam estar conscientes desses fatores para agir com eficiência. Bullying não é problema da vítima e do agressor, briguinha pessoal. É um problema que exige atenção urgente de todos. Pessoa alguma merece ser agredida e ficar com sequelas emocionais. Que no futuro ninguém saiba o que é se sentir odiado, tratado como algo sem valor e como se seus problemas e o fato de o perseguirem sem motivo fosse uma coisa insignificante.