CAPITALISMO e EDUCAÇÃO (Percepções)

Qual é o futuro da educação dentro de um sistema que a deseja destruir?

O vasto e universal campo da Educação ainda não foi plenamente abarcado pelos famintos tentáculos do Capitalismo*. Basta imaginar o oceano da educação pública no mundo todo, em cujos espaços o ‘deus-capital’ ainda não conseguiu dominar, como perspectivas de exploração e de lucro. Em termos de futuro não há nenhum recurso natural conhecido que ofereça tantas cifras para os ‘donos do mundo’*.

O processo de incorporar a educação como um produto de consumo ao rol do mercado consumidor não é novo. Inicia-se, globalmente, com o surgimento da burguesia que tem, desde seu início, como objetivo a mercantilização da Natureza, com ela a vida e todos os processos, instituições e fenômenos que mantem a vida culturalmente viável. No Brasil têm raízes históricas, mas intensifica-se na década de 1990.

Como instrumento para enraizar a educação como produto de consumo e descaracterizá-la de um bem público, o Capitalismo começa pela precarização de todo seu mecanismo de funcionamento. Inicialmente esta tarefa inicia com a desqualificação e fragmentação dos conteúdos. O aluno não precisa saber muito de tudo ou de muitos temas. Basta informar-se: saber um pouco de muito. O objetivo é simples: quanto menos o aluno sabe de algo, menos condições ele tem de se posicionar, de argumentar. Isto pode ser percebido nos processos de didatização dos conteúdos em detrimento do estudo dos clássicos ao longo das últimas décadas.

Com o processo de apenas informar e não formar o aluno inicia-se o projeto de fragilizar a formação em toda sua extensão. Cria-se, assim, um círculo de cima para baixo. Com o ensino superior debilitado na dimensão formativa todo processo escolar sofre este impacto. Principalmente a Educação Escolar que recebe seus profissionais diretamente do ensino superior.

Com conteúdos fragmentados, a formação em crise, é hora de desmantelar a estrutura técnica e do funcionamento das instituições de Edcucação/Ensino. O último golpe para convencer a ausência de visão crítica que, de fato, a Educação Pública não deu certo. Isto fica evidente ao observar prédios, salas, condições dos laboratórios, valorização profissional e o pouco respaldo social e a desigualdade com que os professores são remunerados nas diferentes esferas laborais. Existem exceções em algumas instituições e situações. Isto faz parte do projeto: o sistema permite avanços pontuais e formais. Isso acalma as poucas vozes de resistência no campo da Educação e dá a falsa ideia de haver avanços.

O que pensar para o pós-pandemia?

Para não tornar o texto longo, tentarei traduzir percepções sobre três aspectos.

Inicialmente, penso que o processo de precarização dos processos educacionais deve acelerar-se. Isso deve acontecer em todo mundo. Mesmo que o Capitalismo esteja de olho na educação como processo de mercantilizar a vida, o momento de dar o golpe final ainda não é agora. Travar e desviar fomentos significativos destinados à Educação deve tornar-se mecanismo de fragilizar ainda mais o sistema escolar em todos os contextos.

A desculpa já está posta. A necessidade de uma total reestruturação nos espaços e suportes escolares de apoio ao aluno por conta das novas e necessárias demandas de cuidado exigirão cifras astronômicas que o Estado alegará não ter condições de assumir. É o que vão dizer. Aliás, já estão dizendo por meio da ausência de projetos para que a escola volte a rotinas de ensinar e aprender com a segurança necessária.

Um segundo aspecto refere-se à qualidade de uma aprendizagem como consequência de um processo de ensino-aprendizagem sem base epistemológica. Quem e que teoria vai fundamentar as novas práticas que deverão ser implantadas? No contexto brasileiro sabe-se da discutível qualidade da aprendizagem dos alunos. Vamos imaginar alguns pontos que já se sabe que terão outra dinâmica:

a) O distanciamento de 1,5 a 2,0 metros entre os alunos implica em ampliação dos espaços da maioria das escolas. Quem vai dizer o que fazer para que crianças e jovens respeitem uma norma dessas? Em muitas, o espaço para expandir simplesmente não existe. Isto fará com que uma mesma turma seja dividida em duas ou até três outras. Só de pensar o trabalho a mais dos professores dá arrepios.;

b) Não havendo vacina e tratamento seguro, certamente as aulas serão em sistema híbrido. Presencial e remoto. Se a qualidade já era discutível no sistema presencial, a fórmula para avaliar qualidade de ensino-aprendizagem remota ainda precisa ser inventada.

(c) Apontaria a interação entre pares como fator influenciador de uma aprendizagem positiva em relação à sociabilidade. Aprendemos conviver convivendo. Com o previsível e possível distanciamento, pergunto-me como pensar a afetividade que tem no contato físico um dos componentes constitutivos da própria afetividade. Creio que pouco se pensou sobre a interação como um fator que mobiliza muitas crianças para ir à escola.

Voltando aos aspectos em discussão, o terceiro aspecto que percebo como problemático, será a formação dos profissionais da educação escolar para demandas tão estranhas ao seu cotidiano laboral. Como os dois aspectos analisados, a formação docente também era alvo de muitas críticas antes da pandemia por não cumprir seu papel em relação às demandas da escola e da sociedade. Como ninguém sabe ao certo qual futuro espera os professores e nem como será o ensino superior depois da pandemia, certamente a formação docente também é, ainda, uma incerteza. Porém, será um desafio estabelecer um paradigma que dê conta do futuro para os docentes futuros.

Enfim, pondero que a escola terá de dar conta de realidades conhecidas que neste momento ninguém ainda se debruçou com a devida atenção. Além de ter de lidar com o incerto, desconhecido e perigoso. A educação, em toda sua desenvoltura terá de enfrentar realidades difíceis de articular em meio a crises de formatos variados.

E sem desejar ser pessimista, a educação precisará mais do que nunca de altos investimentos por conta do governo capitalista. Como pensar nesta possibilidade se o que se vê claramente é um projeto para destruir a escola pública e marginalizar os profissionais da Educação?

Além de tudo, não há futuro no horizonte. Se é que haverá futuro. E se houver, qual será?

__________________

A natureza nunca antecipa o que ela vai fazer (?).

Mas sempre está avisando o que nós não deveríamos fazer com ela.

Ao futuro!!!

_____________

* Maiúsculo, pois ele é um ‘deus’;

* Donos do mundo são os proprietários do capital;