Religião não é matéria escolar

"A religião é uma questão privada e só deveria ser celebrada dentro de casa ou nas igrejas."

Madelyn Murray O’Hair

Embora muitos defendam o ensino religioso nas escolas, há sérias dúvidas sobre se seria realmente viável aplicá-lo. Sabemos bem que fé é uma questão personalíssima e é muito difícil alguém ser imparcial ao falar de religião. Além disso, embora sejamos legalmente um Estado laico, a maioria da população é cristã e muitos cristãos têm opiniões desfavoráveis quanto a outras religiões. A escola é um lugar onde se deve transmitir conhecimento produzido a partir de pesquisas e estudos e religião é uma questão de fé. Cada um deve viver pessoalmente a sua. Educação religiosa pode muito bem ser ministrada em casa e em templos religiosos, como escolas dominicais ou aulas de catecismo. Na escola, deve-se ensinar matemática, português e ciências, que são essenciais para o exercício da cidadania.

Poderia se ensinar religião a partir de um ponto de vista antropológico, porém isso exigiria um professor que, além de ter bastante conhecimento, fosse imparcial e ensinasse sobre as religiões sem ser preconceituoso. E muitos professores, por ser cristãos, são preconceituosos. Já houve casos de professores que falaram de forma desfavorável sobre religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, dizendo que seriam “do diabo”. Também não podemos ignorar que, em diversas escolas, têm ocorrido episódios de bullying contra alunos adeptos de cultos africanos, especialmente por parte de alunos evangélicos.

Uma criança católica, evangélica, espírita ou umbandista pode viver sua fé, ensinada por sua família, mas a escola não deve se encarregar de ensinar a ninguém sobre como surgiu o mundo ou sobre assuntos de ordem extraterrena. Aliás, já houve muitos episódios de confusão em escolas no passado por causa dos inevitáveis choques entre ciência e religião. Nos Estados Unidos, muitos são os que defendem o ensino do Criacionismo nas escolas e isso gera mal-estar nos ambientes escolares e revolta por parte dos cientistas, que reclamam que grupos religiosos ficam se intrometendo no trabalho dos cientistas. Um episódio ocorrido no passado numa escola norte-americana mostra bem como misturar religião com educação pode causar confusão. Nele, em sala de aula, defendia-se que havia dinossauros na arca de Noé.

Cada um tem direito a viver sua religião, mas fora da escola. No ambiente escolar, a preocupação principal deve ser em ensinar matérias que serão úteis para o futuro do aluno, noções de ética e cidadania e sobre o conhecimento adquirido como fruto de pesquisa e trabalho árduo por parte de cientistas. Nós temos visto muito bem que é inconveniente misturar religião com esportes e política. Na educação, não seria diferente. Ninguém ignora que a religião, muitas vezes, acaba sendo um fator desagregador, pois diversas pessoas, defendendo a sua fé, atacam a do outro. Isso geraria preconceito contra crianças que seguissem determinados credos.

Escola é lugar de transmissão de conhecimento e de ensinar a se ter respeito por todas as pessoas, independentemente de religião, gênero, cor da pele ou orientação sexual. Na escola, pessoas diferentes convivem entre si e a preocupação maior dos profissionais da educação deve, além de ensinar as matérias escolares, o respeito ao ser humano.

Se há preocupação em ensinar valores de ordem moral e ética aos estudantes, os que ocupam o Ministério e Secretarias da Educação devem investir em coisas mais úteis, como políticas antibullying, visto que o bullying é um problema gravíssimo nas escolas, consciência ambiental, noções de direitos e deveres do cidadão, economia, educação no trânsito e outras coisas que serão bastante proveitosas para levar o estudante a entender que faz parte de uma coletividade e deve, junto com os outros, trabalhar pelo bem de todos.