Alfabetização e Letramento: um erro de cisão

Por: MATEUS DOS SANTOS BARROS

RESUMO:

O presente artigo trata de debater dois conceitos que se tem confundido com grande freqüência. Apresenta de forma sucinta a conceitualização de alfabetização e letramento, como também, explana como que os dois termos devem ser trabalhados. Ainda, traz o porquê de não trabalhar os conceitos separadamente.

PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização, letramento, aliança.

1 Introdução

É notória a importância de uma educação de qualidade na base inicial da aprendizagem dos cidadãos. E esta qualidade está alicerçada com o processo de alfabetização e letramento nas escolas. Entretanto, tem-se percebido a defasagem e a falta de um processo de alfabetização que forme desde as primeiras séries pessoas capazes de interagir com o mundo.

Nesse sentido, entende-se que a defasagem da alfabetização na educação primária é o âmago para a má formação dos alunos que, em porcentagem grande, saem inaptos a exercer determinada competência, como ler e interpretar discursos. Isso se dá, basicamente, devido à não descentralização do ato de alfabetizar e o conceito de letramento. Conceitos que devem estar descentralizados e trabalhados em conjunto.

Assim sendo, é preciso compreender que alfabetização e letramento são práticas distintas, porém, indissociáveis, interdependentes e simultâneas. No entanto, a falta de compreensão destes termos gera grande confusão em seu uso teórico e prático, levando a perda da especificidade destas (SOARES, 2003). Por isso, neste artigo explanaremos os conceitos de Alfabetização e Letramento, como também a importância de não haver cisão entre os termos.

2 Alfabetização

A alfabetização nada mais é do que a aquisição do indivíduo do sistema de escrita de sua língua, como saber ler e escrever esse sistema. E está relacionado basicamente com a escola (MARCUSCHI, 2001).

Nesse sentido, segundo Soares (2003, p. 16) a alfabetização deve ser “entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico”, ou seja, a especialidade da alfabetização é, segundo Diogo e Gorette, (2011, p. 2),” a aquisição do código alfabético e ortográfico, através do desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita”.

Posto assim, o cidadão alfabetizado está apto para codificar e decodificar o sistema da escrita, como também está apto para desenvolver os variados métodos da aprendizagem da língua.

Segundo Diferença, fazendo uma citação a Magda, diferencia letramento e alfabetização da seguinte forma,

de acordo com Magda Soares, a diferença está no domínio que o sujeito tem sobre a leitura e escrita. O sujeito alfabetizado sabe ler e escrever, porém pode estar pouco habituado a usar essas habilidades no seu cotidiano.

Em resumo, a alfabetização é um processo que possibilita ao cidadão apenas a margem de um conhecimento, tendo capacidades reduzidas do mundo, pois esse somente aprende a aquisição do sistema da escrita, não sendo letrado com uma visão ampla do mundo. Por isso tem-se que possibilitar a compreensão deste termo para que não tenha uma mescla entre os conceitos, entendidos na maioria como um só conceito.

3 Letramento

Enquanto a alfabetização desenvolve domínio da leitura e escrita, o letramento se responsabiliza em dar ao cidadão a capacidade social de ler e escrever, ou seja, é a possibilidade que o indivíduo possui, depois de haver se familiarizado com a escrita e a leitura, de exercer e desenvolver o uso nos diversos contextos, sendo que o individuo letrado se relaciona de forma coesa com o processo histórico e social da leitura em contextos formais e informais.

Neste mesmo sentido, argumenta Tfouni (1995, p.20) sobre o letramento que, “enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita por um individuo, ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”.

Assim sendo, o letramento é uma forma de aprendizagem para usos utilitários, ou seja, para estabelecer uma conexão com a sociedade, é dizer, se compreender. Como Diogo e Gorette (2011, p. 6) afirmam que “o letramento se torna uma forma de entender a si e aos outros, desenvolvendo a capacidade de questionar com fundamento e discernimento, intervindo no mundo e combatendo situações de opressão”.

4 Um erro de cisão

Magda Soares (2003, P. 11) afirma,

A alfabetização, como processo de aquisição do sistema convencional de uma escrita alfabética e ortográfica, foi, assim, de certa forma obscurecida pelo letramento, porque este acabou por freqüentemente prevalecer sobre aquela, que, como conseqüência, perde sua especificidade.

O que se pretende analisar com esta afirmação é o desconhecimento que se tem sobre o letramento e a alfabetização, o que tem sido trabalhado dicotomicamente (cisão) como processos independentes um do outro.

Desse modo, o erro de fazer uma cisão entre o letramento e a alfabetização se dar pelo fato que os dois estão estritamente interligados, mas é preciso não privilegiar um ou outro processo, pois como dito anteriormente, são termos “indissociáveis e simultâneos”.

Assim, Soares (2003, p.11) afirma que,

o que parece estar ocorrendo atualmente é que a percepção que se começa a ter, de que, se as crianças estão sendo, de certa forma, letradas na escola, não estão sendo alfabetizadas, parece estar conduzindo à solução de um retorno à alfabetização como processo autônomo, independente do letramento e anterior a ele.

Explicitada a especificidade de cada termo, é possível chegar a um método adequado de ensino, assim, conciliando os conceitos e fazendo uma prática de ensino reflexiva e de aliança. O método utilizado pelo educador é de essencial importância, pois reconhecendo a capacidade prévia da criança de perguntas, pode usá-la como uma forma de alfabetizá-la e ao mesmo tempo letrá-la, é dizer, ensinar o sistema de escrita aos seus alunos e ao mesmo tempo fazê-los compreender para que serve tal sistema.

Nesse sentido, em suas considerações finais Diogo e Gorette (2011, p. 7) afirmam que “as atividades devem promover tanto a alfabetização como o letramento, de maneira, que o ensino do código alfabético seja conciliado com o seu uso social em diferentes ocasiões”.

Ainda, pode-se perceber a complexidade de trabalhar letramento e alfabetização juntamente, pois, tem-se trabalhado apenas a alfabetização, como é visto nas escolas brasileiras, apenas o ensino do “eu sei escrever meu nome”, fazendo com que as pessoas não tenham a capacidade de compreender melhor o meio social, meio social este ligado diretamente ao letramento.

Embora uma pessoa entenda o que está escrito (ler) em um anúncio, essa não irá compreender a que se refere com precisão (interpretar), o que o letramento possibilita com maior amplitude de significação, pois já houve um aprendizado do meio social. A alfabetização proporciona ao cidadão um conhecimento estrito e reduzido, enquanto o letramento promove ao individuo a participação significativa de eventos de letramento, como Marcuschi (2001, p.25) diz, “letrado é aquele [...] que identifica o valor de um dinheiro, [..] [consegue fazer cálculos complexos, [...], porém não escreve cartas e nem ler jornal regularmente”.

5 Uma aliança imprescindível

É importante uma reflexão sobre como “alfabeletrar”, para que se possa tornar a aprendizagem mais significativa. Freire (1996, Aput DIOGO e GORETTE, 2011, P.6) explana em sua obra Pedagogia da Autonomia (1996) que,

o sujeito quanto mais amplia sua visão de mundo, mais se liberta da opressão, ou seja, o sujeito letrado que já possui seus conhecimentos prévios, com um determinado ponto de vista, quando alfabetizado, pode modificar seus pensamentos, ampliando-os de forma que passa a refletir criticamente sobre a prática social.

Assim sendo, o letramento e a alfabetização não devem ser divididos como ensinos independentes, devido que esses que irão desenvolver o pensamento crítico dos alunos. Nessa concepção, o educador tem papel importante quanto ao papel de “criar” essa possibilidade ao estudante.

Para Freire (1996, p.14, Aput DIOGO e GORETTE, 2011, P.6) “[...] percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo”.

Portanto, a aliança entre alfabetização e letramento torna-se notório, como afirmam Diogo e Gorette, (2011, p. 11)

Alfabetizar letrando é uma prática necessária nos dias atuais, para que se possa atingir a educação de qualidade e produzir um ensino, em que os educandos não sejam apenas uma caixa de depósito de conhecimentos, mas que venham a ser seres pensantes e transformadores da sociedade.

6 Considerações finais

É notório a complexidade de definir, ou concluir, como abordar de forma clara o método de trabalho do letramento e a alfabetização, tendo como separá-los de forma concisa quanto suas especificidades. Sendo que as pesquisas até o momento são insuficientes para acalcanhar profundamente os termos em discussão.

Separar a alfabetização e o letramento entendemos como um erro, pois a entrada da criança no universo da escrita acontece ao mesmo tempo nesses dois processos: aprendizagem da escrita e desenvolvimento da leitura e escrita. Os dois processos são simultâneos, já que a alfabetização não antecede o letramento, porém, entendemos que possuem naturezas distintas.

A então mencionada Magda Soares é de valor indiscutível para os estudos até então sobre o letramento e a alfabetização, trazendo conceitos e formas metodológicas para o melhor letramento dos indivíduos. Pensadora que até então tem influenciado gerações, juntamente com o citado Freire, considerado um exemplo na acepção da alfabetização.

Em resumo, crê-se, no entanto, que é possível chegar a uma alfabetização, em conjunto com o letramento, de qualidade em nossa sociedade, com práticas metodológicas eficientes que possam abranger os dois conceitos e, assim, o sujeito estará apto para ser autor de suas transformações.

7. Referências

DIFERENÇA. Alfabetização e letramento. Disponível em <https://www.diferenca.com/alfabetizacao-e-letramento/>. Acesso em: 27 maio 2018.

DIOGO, Emilli Moreira; GORETTE, Milena da Silva. Letramento e Alfabetização: uma prática pedagógica de qualidade. In: X CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO–EDUCERE, Paraná: Pontifícia Universidade Católica. 2011.

ALMEIDA, Vanessa Fulaneti de. A importância do letramento nas séries iniciais. 2014.Disponível em<http://www.unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/cadernodeeducacao/sumario/31/04042014074426.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018.

MARTINS e SPECHELA. A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NA ALFABETIZAÇÃO. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia das Faculdades OPET – ISSN 2175-1773 Julho de 2012. Disponível em: <http://www.opet.com.br/faculdade/revistapedagogia/pdf/n3/6%20ARTIGO%20LUANA. pdf>. Acesso em: 27 maio 2018.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de educação. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbedu/n25/n25a01.pdf> Acesso em: 25 maio 2018.

MATEUS BARROS
Enviado por MATEUS BARROS em 13/04/2020
Reeditado em 13/04/2020
Código do texto: T6915677
Classificação de conteúdo: seguro