OS RESULTADOS DA EDUCAÇÃO SÃO PROFUNDAMENTE ANGUSTIANTES

Acompanhei atentamente a divulgação do diagnóstico dos nossos alunos das séries iniciais do E. Fundamental de Laranjal do Jari das redes estadual e municipal e confesso que fiquei profundamente angustiado.

Antes de tudo, ressalto a disposição e a determinação dos técnicos da Secretaria Municipal de Educação de Laranjal do Jari em conjunto com a SEED/AP para mudar essa realidade, mas sei que teremos um grande desafio e um longo caminho a percorrer. Os resultados deverão vir, mas não com a velocidade da luz!

Durante meus 25 anos de magistério já trabalhei com alunos ditos "especiais" e nenhum deles causaram-me tanto angústia o quanto causam aqueles que são aparentemente perfeitos, mas que não apresentam nenhuma vontade de aprender! Acho que esses são os verdadeiros "especiais".

Para podermos chegar perto de uma resposta mais concreta das razões porque temos tantos resultados ruins, se faz necessário uma pesquisa qualitativa e quantitativa que inclua o aluno e a sua família.

Eu tenho vários alunos que não tem nenhum sonho, ou seja, nenhum objetivo e, portanto, NENHUMA META NA VIDA! Muitos estudam apenas por causa da merenda ou do Bolsa Família, NÃO TENDO QUALQUER EXEMPLO OU MOTIVAÇÃO NA VIDA PARA ESTUDAR! E olha que faço de tudo para motivá-los, desde contar inúmeros exemplos, oferecer ajuda particular, prêmio por meritocracia, etc.

É desonesto cobrar resultados do professor quando o aluno simplesmente não quer aprender e deixa isso muito claro. Não quero aqui culpar o aluno, mas é preciso que se descubram as causas e coloquem isso às claras para que não fique a impressão de que o único culpado é o professor e a escola.

Aliás, alguém saberia me responder porque geralmente os filhos dos professores aprendem a ler mais rápido e acabam tendo melhor rendimento do que a média? O mesmo acontece com os pais que motivam e cobram resultados dos seus filhos. Geralmente, os pais que faltam nos encontros pedagógicos são justamente aqueles que mais preciso de apoio!

E para deixar mais difícil a situação, alguns pais entregam um celular nas mãos dessas crianças. Elas, especialmente os meninos, se viciam nos jogos (na maioria violentos) e passam noites inteiras acordadas, daí chegam na escola sonolentos e apáticos. Os lunáticos apresentarão uma solução eficaz: transformar as aulas em jogos tipo free fire!!!

Meninos com 10 anos ficam na rua até meia-noite sem qualquer controle dos pais. Meninas na mesma faixa etária já começam a namorar e não se incomodam em repetir a mesma história da família, inclusive do completo descontrole de natalidade. São esses exemplares que chegam às nossas escolas e acabam prejudicando os poucos que tem algum sonho!

Num rápido diagnóstico, eu descubro que 80% dos meus alunos não conversam com seus pais. Eles não sabem a religião dos seus genitores, nem a escolaridade e às vezes nem o nome completo deles! Há alunos de 11 e 12 anos que não sabem a própria data do aniversário, ou seja, é como se eles não existissem.

70% de uma turma de alunos do 5º ano e com faixa etária de 10 a 12 anos não conseguiu identificar um triângulo. Apresentei as mesmas formas geométricas planas para a minha filha de 3,5 anos e ela acertou todas: triângulo, quadrado, retângulo e círculo. E não foi culpa dos professores anteriores, pois conheço a capacidade e a dedicação de todos eles!

Paulo Freire dava show na alfabetização de jovem e adultos porque aqueles seus alunos tinham vontade de aprender, e não estudaram na faixa etária certa porque não tiveram oportunidades. É totalmente diferente da nossa realidade atual.

O QUE FAZER COM CRIANÇAS E JOVENS QUE NÃO TÊM SONHOS? Essa é a grande pergunta que deixo para os "especialistas" da educação. Eu preciso de ajuda ou pelo menos que sejam honestos conosco, porque eu estou morrendo de angústia. Muitas vezes não durmo pensando no que fazer para mudar essa realidade tão difícil.

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Ivan Lopes