Explodam as Universidades!
Lucas Medeiros Santos - Professor
Começo esse texto com essa frase, que ouvi na abertura de um Encontro Regional de Estudantes de Letras, no qual participei como ouvinte e também apresentando trabalho no ano de 2014, na URCA, em Crato-CE. Na ocasião, eu estudante de primeiro período, me causou certa estranheza. Perdoem-me, mas não me lembro do nome da palestrante, que muito bem articulou a sua fala. Peço até que os aqui estão lendo, e participaram desse evento e caso lembrarem-se, por favor, me agraciem me recordando do nome da professora.
Pois bem, “Explodam as universidades”, isso saiu uníssimo no momento. Aos poucos ela teve a oportunidade de expor suas teses, que aqui me veem um pouco vagas a mente. Quero apenas pegar um gancho nessa fala, e ter a oportunidade de trazê-la a esse ano de 2019. Sim, 2019, um ano de crise econômica e politica que avassalam a cada esquina desse país. E querendo ou não, as universidades têm entrado nesse âmbito de discussão, e até mesmo de questionamento de sua importância.
Vale salientar que bebi da fonte acadêmica da Universidade Estadual do Maranhão, que foi uma das melhores experiências da minha vida, enquanto estudante, professor e ser humano. Mas desde o começo, como muitos de meus colegas, questionamentos surgiram ao longo da caminhada. Um dos primeiros questionamentos foi: o porquê que os professores só tem acesso a sala de aula das escolas apenas no penúltimo período do curso? Exatamente, quando você não consegue um trabalho durante os quatro anos de curso (agora atualizado para 4 anos e meio), você fica exatos quatro anos e meio trancafiado em uma sala da universidade, sem nenhum tipo de prática nas escolas, para aquilo que em tese, você fará por sua vida inteira (até mesmo levando em consideração a nova previdência social).
Mas destaco, que mesmo trancafiado, não posso ser aliado a uma meia verdade, pois hoje após a minha saída como estudante da universidade, ela tem incentivado projetos, como o já conhecido Residência Pedagógica, que tem colocado os alunos em prática no âmbito escolar, a partir da metade do curso (que segundo alguns comentários de colegas participantes do projeto, tem lá seus entraves e por vezes, tem sido visto como um engodo). Deixando essas crítica de lado, e continuando meu raciocínio, as universidades, principalmente quando se pensa em mercado de trabalho, ao invés de fomentar e verdadeiramente inserir seus alunos no mercado de trabalho, tem criado a certo modo, apenas milhares de profissionais com certificado na mão.
O ambiente de busca por uma oportunidade de emprego, bem sabemos, é hostil. Nos jornais da vida observamos cada vez mais pessoas capacitadas, no entanto, essas mesmas estão desempregadas. O mercado procura por profissionais com experiência, e a universidade tem formado profissionais, sem experiência nenhuma. Claro que questionamentos podem surgir, como por exemplo: até que ponto a universidade pode ser cobrada em relação a essa experiência e por qual motivo os currículos continuam centrados apenas em concepções ultrapassadas e que acabam fomentando cada vez mais o desemprego? Sem falar na relação específica de oferta e procura de cada profissão dentro do espaço mercadológico.
A discussão pode ir mais longe e até mesmo mais profunda, o que não é o objetivo desse texto. Um exemplo claro é que as universidades, ao meu ver, devem mudar sua estratégia de ensino, principalmente enquanto formador de grandes massas trabalhadoras; enquanto espaço de valorização de ideias e valores. Enquadrar um aluno, apenas dentro de um espaço profissional limitado, pode maximizar cada vez mais os desempregados desse país. A visão desses profissionais deve ser aberta.
A realidade do mercado de trabalho é outra totalmente diferente da ensinada e praticada nos muros das salas das universidades. As pessoas saem sem direção nenhuma, e entre os que conseguiram alguma vaga, ainda foi por indicação de pessoas conhecidas dentro de alguma empresa. No mais, os outros continuam a procurar, como se fosse uma agulha do palheiro grande oportunidade, de quem sabe, ter a tão procurada e solicitada experiência profissional do curso que escolheu para a sua vida.
É fato, a universidade tem e sempre terá grande importância no âmbito democrático de direito por ser um espaço de pesquisa, aprendizagem e divulgação de pensamento. Todavia, a realidade dos tempos de crise, tem solicitado das universidades um outro olhar. Tem exigido sua ação, enquanto espaço que gozam de autonomia didática-cientifica, administrativa e de gestão profissional como corrobora o Art. 207 da Constituição Federativa.
O espaço social é outro. Sabe-se que nem todos serão grandes pesquisadores em suas áreas. Nem todos conseguirão ingressar em um curso de mestrado. Nem todos, quem sabe um dia, serão doutores em suas áreas. O que eles querem, em sua maioria, como direito de todo cidadão, é ter a oportunidade de verdadeiramente estar preparado para o mercado de trabalho, aliado a uma experiência, que sonha um dia, já ter conquistado dentro da própria universidade. E que por fim, possa ele ou ela, conquistar seu sonhado salário, para que a feira do mês seja uma realidade que mate a fome de tantos profissionais desempregados porém diplomados, espalhados por este país.