MATRICIAMENTO EM SAÚDE MENTAL
Colocarei aqui o pensamento do professor Ellis D’Arrigo Busnello, Psiquiatra, Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Fundador do Centro de Saúde Murialdo (Marco histórico das residências em MFC e multiprofissional), pioneiro na capacitação de profissionais da saúde geral, que atuam no nível dos cuidados primários ou básicos de saúde, assim como os de saúde mental que com eles interagem, para a prática diuturna das suas atividades, quando trabalhando os problemas da área da saúde mental.
O professor Busnello participou das pioneiras experiências de implantação de um
modelo de Sistema de Saúde Comunitária, tanto de saúde em geral quanto de saúde mental que ficou conhecida como a Unidade Sanitária Murialdo. Nesse sistema se desenvolveram projetos, pesquisas e ações de saúde comunitária derivadas de estudos acadêmicos dos profissionais envolvidos, dos estudos de ações de saúde feitas com envolvimento do povo, que não sem esforço se tornaram factíveis e concretamente possíveis de serem realizadas.
Foi assim que se desenvolveram e se sistematizaram pela primeira vez em nosso país ações que levaram a um Sistema de Saúde Comunitária, protótipo do que é mais conhecido hoje em dia como Sistema de Cuidados Básicos de Saúde.
A história inicial e os desenvolvimentos ocorridos em nosso país, ações que levaram à criação do projeto de organização de um Sistema Nacional de Unidades Básicas de Saúde, bem como da reintrodução do Médico e da Medicina de Família e de Comunidade, fazem hoje parte fundamental das políticas de saúde de nosso país. Vale referir também que dentro de uma estrutura formal inovadora, não caberia a prática de uma medicina convencional, cujo protótipo era de baseá-la nas atividades de um médico atendendo a uma doença de um cliente e muito menos ao cliente e muito mais à doença que ele a portava.
Estavam mudando o foco da atenção à saúde, pretendendo dar a uma população definida cuidados básicos de saúde, já então denominados cuidados integrais, o que significava que deveriam ser cuidados preventivos, curativos e reabilitadores dos problemas de saúde física, mental e social que afetavam os clientes, e definitivamente mudando a direção da tarefa médica até então fortemente orientada para trabalhar com a doença, agora orientada para uma mais iluminada postura, que é a de trabalhar com a saúde.
A Integração da Saúde Mental num Sistema de Saúde Comunitária, é considerado como fundamental a serem adotadas por todos os profissionais da saúde da linha de frente, em Unidades Básicas de Saúde, que dispensam cuidados básicos dentro dos domicílios e das aglomerações humanas comunitárias. E, em consequência, de todos os que o fazem em locais de prestação de serviços de saúde, de cada vez maior complexidade: centros de saúde, hospitais base e os macro hospitais, dispensando cuidados complexos e sofisticados em termos de prevenção, cura e reabilitação de problemas de saúde, entre eles compreendidos os de saúde mental.
Sentiu o privilégio de adotar uma postura derivada do que de mais avançado existia em conhecimentos para dar início à grande luta que a Humanidade, após ter conseguido escapar do caminho que levava à destruição em massa de populações, isto é, havia vencido a assim chamada II Grande Guerra Mundial, e de uma certa forma celebrava a vitória que permitia sonhar uma Humanidade composta por seres criados com iguais direitos à liberdade, à igualdade e à fraternidade, o que quer dizer, a um maior grau possível de saúde física, mental e social.
Por serem estes ideais eternos e imutáveis, e coincidirem com a proposta da criação dentro da Organização das Nações Unidas (ONU), mais precisamente da proposta da criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de uma ação dirigida a alcançar o maior grau possível de saúde física, mental e social para toda a Humanidade, as ações preconizadas de saúde e todo o tipo de administração, de ensino e de pesquisa em que estas ações se baseiam, só poderiam ser considerados válidos se destinados à busca de maior grau possível de saúde física, mental e social para todos, e não apenas a um pobre
objetivo de atendimento de problemas causados por doenças já em desenvolvimento.
Objetiva atingir o enorme, o maravilhoso e – porque não dizer –, o colossal objetivo que traz no seu bojo: o de se inserir entre os instrumentos que participarão da construção de uma Humanidade possível, sem doenças, gozando do mais completo bem-estar físico, mental e social.
Ao publicar a nossa Tese e defendê-la para obter uma titulação acadêmica que nos desse uma tribuna maior para falarmos com mais autoridade sobre o que estamos certos, às populações do planeta Terra, estávamos já total e absolutamente alinhados aos que partilhavam do sonho impossível que é o da criação de uma união das nações cujas populações merecem e devem conquistar uma Terra composta de populações que gozam de um grau cada vez maior de saúde.
Esta forma de pensar ficou sendo o estandarte de um projeto visionários, o projeto de um Sistema Comunitário de Saúde para as populações, base da Organização do Sistema de Saúde Comunitária da Unidade de Saúde Comunitária Murialdo, origem dos cinco primeiros Postos Avançados de Saúde, hoje Unidades Básicas de Saúde, onde uma então denominada Equipe Primária de Saúde, hoje Equipe de Saúde da Família, encarregava-se da saúde física, mental e social de cerca de 1.000 a 1.500 famílias, atendendo entre 5.000 e 7.500 pessoas. Estávamos nos alinhando com outros visionários que plantavam as sementes das organizações necessárias para dar apoio ao Projeto da ONU/OMS, lançado na histórica Conferência de Alma-Ata, hoje adotadas pela maioria das nações do mundo como básicas e necessárias para a organização de suas instituições de saúde.
Por fim, mas não com menor importância, devemos referir que o amor que se utiliza na construção de um projeto de saúde para toda a Humanidade é o mesmo que se utiliza para a construção da assistência à saúde de que a população necessita, do ensino que os profissionais que vão atuar neste projeto devem construir com os professores e os administradores envolvidos no mesmo, e da pesquisa libertadora em duplo sentido, tanto dos profissionais que a realizam quanto dos sujeitos que livremente delas participam, todos unidos pela ideia de que a descoberta científica existe para adotar tudo o que constrói o humano, e para descartar tudo aquilo que o destrói.
Ações como estas, originadas por um ato de amor, pois que somente o amor enriquece as nossas vidas, ainda mais se é um amor que visa proporcionar mais saúde física, mental e social para a Humanidade, e estas ações de Matriciamento em Saúde Mental escapa de qualquer possibilidade de ser uma pequena obra e, muito menos, tempo perdido.
Estas colocações tiradas do livro “Guia Prático de Matriciamento em Saúde Mental”, foram adaptadas para serem apresentadas aqui neste espaço, para reflexão de meus leitores, onde faço boas aproximações com o projeto fundamental que desenvolvo, “A construção do Reino de Deus”.
Certamente, na leitura do referido livro, terei oportunidades de fazer novas aproximações com a construção desse Reino que o Cristo já nos advertiu de sua chegada.