Os Dez Mandamentos do Homem Moderno
O Século da Massa Acrítica
Por meio desta coloco em evidência não só o caráter objetivo no qual discorro as minhas palavras, mas também a escassez de ética que falta aos mais diversos tópicos dessa sociedade que transpira a incapacidade de pensamento fértil para pôr em discussão os direitos e deveres de todos os envolvidos nessa jovem prole.
Aqui, de antemão, identifico a ironia análoga ao relato conhecido por muitos como os Dez Mandamentos, nome esse dado a sequência de leis que foram escritas por Javé e entregues a Moisés, legislador e responsável pelo emergir da revolução de seu tempo em Israel no contexto da Antiga Aliança.
Explico a necessidade dessa analogia que acaba sendo irônica em seu discurso primeiro por sua diferenciação de épocas, mas tão adequada e cabível quanto, segundo pela necessidade de pontuar com delicadeza a problemática existente nos últimos anos sobre o que é ou não importante para a vida humana em seu tempo e em que medida o homem idealiza novas tendências em nome da modernização de sua vivência, terceiro, e não menos importante, sobre como o ser humano em seu meio social acaba se matando cada vez mais e nem sabe, ou sabe e não se importa por que gosta, ou não sabe por que tem medo de saber o que é realmente bom pra si ou não. Fato é que a individualidade parte do princípio do “se faz bem para mim, pouco importa o que seja” e a coletividade parte da expressão “se faz bem para mim eu exijo que faça bem para todos também”, e isso é o início de uma jornada que é cada vez mais característica deste século, a incapacidade de se tomar um discurso crítico e evidente que não somente abra os olhos, mas que também faça enxergar.
“A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa” George Orwell.
A frase excepcional de Orwell, que aqui abrindo um espaço para indicação de sua obra “1984”, exprime bem a realidade que vive a sociedade nos dias de hoje, e pensar que essa mesma frase foi escrita há anos. Vivemos numa corrente circular de dominação e auto subserviência, pois, não se quer fugir disso, as pessoas estão habituadas a essa convivência e mostrar a elas uma alternativa ou uma realidade factual seria uma catástrofe social. Essa mencionada corrente circular permanece intacta graças aos seus integrantes, esses por sua vez fazem dela a sua moradia, moldando e sendo moldados, exigindo e sendo exigido, matando e sendo morto a cada dia.
Não seria um exagero ou até mesmo ato de desesperança dizer a limitação dessa população mundial, dizer que a mesma não tem solução ou que o fim é eminente e próximo, mas, isso seria de uma imoralidade tremenda, é imoral fugir da gana de querer viver, da paixão de querer o acaso, portanto, é comum examinar a sociedade como uma causa sem solução, porém, não se deve tomar isso como única opção.
Estou me alongando em minhas palavras apenas para contextualizar o porvir, para que isso não se torne uma leitura sem pé nem cabeça como diz o vocabulário popular. Mas, vamos ao que o título promete. Não são normas nem ao menos indicações do que se deve fazer ou não, são apenas constatações.
O primeiro mandamento seria a renúncia de valores antes tidos como concretos e de grande valor para a boa convivência. Isso se deve a grande mudança que se tem as sociedades com o tempo, é comum para cada uma dessas viver a sua própria história. Então, entende-se que para a sociedade se adequar a um padrão exigido pela sua ordem é preciso renúncias, e essas serão feitas sem medidas ou dores.
O segundo mandamento seria a personificação de Deus. A elevação de seu nome a uma figura mais próxima que o habitual, isso se observa na maneira que lidamos com seu nome e sua proposta, cada vez mais livre e descompromissada, como se fosse assim um Deus de natureza branda e sem intenção de pôr restrições em suas palavras, ou seja, somos hoje servos de um Deus que a tudo permite e, no que restringe é brando e permissivo.
O terceiro mandamento seria uma ordem de movimentos reacionários que se fazem parecer patéticos, mas não o são, estão lá para agregar valores descompromissados e politizar uma juventude de maneira equívoca e desonesta para com valores morais e éticos.
O quarto mandamento é por si só uma característica evidente do homem, essa, é o fato do homem se apequenar na sociedade, mais como um movimento pessoal e interno que uma coisa de evidência explícita. É comum ao homem ser pequeno ou tornar-se pequeno, muito por conta de sua necessidade desmedida de se tomar por controle alheio e dominador intransponível, é, portanto, ser pequeno por necessidade de ter, de poder, de domínio sobre algo, sendo que assim ele é o dominado e, portanto, um homem pequeno em todos os seus ângulos de vista.
O quinto mandamento seria grosseiro se não fosse notável, diz esse que o homem se autodestrói e aniquila a sua espécie das maneiras mais diversas possíveis, quando não está matando está morrendo. É fator chave da modernidade a autodestruição de seus integrantes, isso se deve a uma “cultura”, por assim dizer, de renovação da comunidade.
O sexto mandamento seria a superação do conceito de família tradicional que perdurou por bastante tempo. Hoje sabemos que as questões de lações familiares estão em destaque nos debates mundo afora, e em muitos deles as questões de sexualidade são as mais requisitadas por conterem muito desse contexto de renovação da cultura da família. Seria então correto dizer que na modernidade tudo se renova, inclusive a família.
O sétimo mandamento envolve a religião no contexto de mudanças de paradigmas. Uma nova visão de Deus se cria, uma visão mais libertária e branda, isso torna a questão de Deus descontextualizada de sua essência original. O maior exemplo desse fator é a modernização da igreja católica, onde até as questões mais supremas, essas proclamadas pela autoridade máxima, o Papa, estão tomando novos rumos e que por vezes vão de encontro a uma revolução dentro do próprio ambiente religioso.
O oitavo mandamento consiste em questões políticas. Novas vertentes da política ao de surgir na rebarba dos movimentos do século passado, sempre caracterizadas pela mesma violência travestida de revolução. Vale destacar que a violência aqui dita não restringe somente à violência física, mas sim uma violência contra a integridade moral, contra a cultura mais tradicional, etc.
O nono mandamento explora a camada sexual do comportamento humano. Cada vez mais somos tomados por um senso de liberdade de espírito em relação aos limites da sexualidade que nos parece ser proveitoso no primeiro momento, mas apenas prepara terreno para uma dominação de comportamentos e uma repetição de sugestões atípicas para nosso corpo nos levando a um novo universo de possibilidades. Esse novo padrão da sexualidade tem como característica principal essa questão da possibilidade, de se ter em mãos uma diversidade de opções unido a uma diversidade de desejos. Salvo raras exceções.
O décimo e último mandamento concerne à ideia de legitimar uma causa para a ação. Hoje, tudo deve ser justificado, seja um desastre natural ou um desastre humano, um milagre ou uma simples palavra dita, tudo tem de ser explicado e justificado. Isso é péssimo para essa geração, pois a mesma tem em seu “sangue” a incapacidade de um raciocínio providencial para uma explicação não só apurada, mas também correta.
Fato é que esses “ mandamentos” aqui dispostos, como já explicado, são apenas uma analogia irônica, mas em si tem seu tom de seriedade por serem uma constatação da vivência humana nos dias atuais, sobre o que fazem, sobre por que fazem e sobre o que deixaram de fazer.
É preciso que se tenha autonomia para um pensamento liberto das amarras da dominação da modernidade, pois essas são tão evidentes quanto a necessidade de uma mudança nos hábitos e nos meios sociais. Portanto, não faça parte da massa, seja por si só um pensador que busca as explicações e os por quês.