MARIA MONTESSORI: UM NOVO OLHAR À CRIANÇA

MARIA MONTESSORI: UM NOVO OLHAR À CRIANÇA¹

Alecssandra Dolenkei Matos²; Antonio Carlos Valentini²; Cristiane Delmoro Godois²; Paulo Junior Duarte Staats²; Silvana Pereira².

¹ Texto elaborado para as disciplinas de Metodologia da Pesquisa, Profa. Dra. Marlize Rubin Oliveira, e História da Educação, Profa. Dra. Franciele Clara Peloso.

² Acadêmicos(as) do 1º período do curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês da UTFPR/Campus Pato Branco - 1/2019.

Resumo: Maria Montessori é uma mulher à frente de seu tempo. O Método Montessoriano, apesar de ser de grande importância para a pedagogia e a educação, ainda não é tão reconhecido. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é explorar aspectos do método na educação infantil. À vista disso, é possível perceber que este possui grande importância para a sociedade, pois valoriza a criança de forma a ajudar em seus aspectos físicos, mentais e espirituais de forma a gerar um adulto crítico e culto, que possa alterar a conjuntura política e melhorar o padrão cultural e social vigente.

Palavras-chave: Educação infantil. Maria Montessori. Pedagogia.

1. Introdução

Maria Montessori é uma das mulheres mais conhecidas da história da Itália. Embora tenha sido a primeira mulher a se formar em medicina em Roma, ela é mais conhecida como “educadora”. Seu método de ensino – o Método Montessori – ainda é utilizado em todo o mundo.

Este trabalho tem por objetivo explorar o método, o qual possui relevante importância para a pedagogia contemporânea. O contexto histórico no qual a médica-educadora vive é o de uma Itália em processo de implantação no capitalismo industrial; por esse motivo, ela vê como único caminho a inserção das crianças das camadas mais pobres nessa realidade, de modo a formar um ser com consciência de sua condição histórica e apto a viver uma vida adulta de qualidade: para isso, era necessário começar desde cedo, na primeira infância.

Partindo desse ponto de vista, apresentamos sua história, seu método, suas observações a respeito do educador e suas descobertas científicas.

2. História de Maria Montessori

De acordo com Cascella (2015), Maria Montessori, nascida em 31 de agosto de 1870 na cidade de Chiaravalle – uma aldeia italiana na província de Ancona –, passa grande parte de sua juventude em Roma. Frequenta a escola primária sem bons resultados, devido à problemas de saúde. Ao passar do tempo, ela mostra um interesse especial para assuntos científicos. Apesar de encontrar muitos obstáculos, ela ingressa no curso de medicina da Universidade Sapienza de Roma. Em função de sua determinação pessoal, torna-se a primeira mulher italiana a formar-se em medicina, no ano de 1896. Montessori centra seus estudos em pesquisas pediátricas, psiquiátricas e de higiene.

Após concluir seu curso, torna-se assistente na clínica psiquiátrica da Universidade de Roma, dedicando-se ao cuidado de crianças com problemas mentais. Nesse período, participa de conferências médicas e reuniões na Europa. Ela tem a oportunidade de aprofundar seus estudos sobre métodos e teorias da recuperação dessas crianças (CASCELLA, 2015).

Segundo Faria (2012), Maria presencia uma sociedade cuja a educação ocorria de forma extremamente rígida e violenta; são aplicados castigos físicos, pois, nessa época, acreditam que “quanto mais sangue saía, mais o conhecimento entrava” (Ibidem, p. 4). É nesse ínterim que Montessori apresenta uma nova e original visão da criança: o Método Montessoriano.

3. Método Montessoriano

O Método Montessoriano concretiza-se por intermédio das Casas dei Bambini que, rapidamente, se espalharam pelo mundo. As primeiras casas são formadas na Europa e também levavam esse nome. Essas escolas, diferentemente das do ensino tradicional, dividem as crianças em classes formadas por grupos, os quais não obedeciam aos critérios de séries; geralmente, crianças de 3 meses a 3 anos, de 3 a 6 anos, de 6 a 9 anos e assim sucessivamente. Essa prática fica conhecida como “Mundo dos pequenos”, pois é observado intensamente o desenvolvimento das crianças, sendo criados utensílios como: cadeirinhas, os trincos de portas baixos e as tomadas de luz com a altura que as crianças pudessem alcançar; assim, dando-lhes mais independência e inserindo-os, cada vez mais, na sociedade adulta (ALMEIDA, 1984).

Hilsdorf (1998) alude que a criança montessoriana é vista como um todo orgânico – um organismo em desenvolvimento – que tem leis espontâneas e inatas de transformação; se auto educa de forma original e organicamente. É motor da sua própria transformação, tem personalidade única, mas incompleta; dessa forma, luta para ser completa, ordenada e sistemática, isto é, adulta. Assim sendo, não é um adulto em miniatura, é um adulto em potencial; o mais importante é o desenvolvimento de sua mente, ampliando sua visão crítica e dando ênfase aos seus conceitos e valores. Nessa perspectiva, Faria (2012) relata que a infância é o período mais rico e deve ser explorado; os primeiros anos de vida são a fase de aprendizagem mais importante; se não observadas essas capacidades na infância, a criança pode ser prejudicada no futuro.

Faria (2012) também aponta que, nas primeiras escolas montadas, as crianças pertenciam a famílias carentes, das quais a maioria dos pais eram analfabetos. Inclusive, Montessori percebe que as crianças, a partir dos 5 anos, já se direcionam à leitura e à escrita com certa facilidade, sem mesmo ter alguém que os ensinasse diretamente. Além disso, nota que as crianças têm a capacidade de “absorver” vários tipos de conhecimentos – além da língua e a escrita, também a botânica, a matemática e a geografia – através das experiências vividas.

Outrossim, Faria (2012) menciona que, partindo das observações vividas nas escolas, Montessori resolve preparar o ambiente de forma adequada a proporcionar condições para que as crianças se manifestassem naturalmente. Esse ambiente devendo ser adequado e agradável – artificialmente pensado – de forma a propiciar a interação e a agilidade. Nas escolas anteriores, elas ficam enfileiradas, ou seja, não havia uma preocupação com o ambiente. Entretanto, Maria demonstra o quão importante o ambiente é; dependendo do contexto da aula, deve ser ao ar livre, em círculo ou no chão: oportunizando liberdade de movimento. Desse jeito, implica no exercício da responsabilidade e propicia liberdade para coordenarem suas ações, baseando-se na necessidade de a criança aprender fazendo e desenvolvendo a consciência e o respeito: tudo com a ajuda de elementos lúdicos e materiais adequados para cada assunto.

4. Ação do educador no olhar da escola montessoriana

Faria (2012) reitera que a presença de um professor – montessoriano treinado – em cada turma é indispensável; este deve conhecer todo o material. Tudo que é ensinado precisa ter uma ligação com a vida; os professores devem orientar as crianças para que aproveitem desse ambiente criado, pensando na harmonia, no desenvolvimento e observando seus limites. Hilsdorf (1998) acrescenta que a função do educador consiste em fornecer à criança um ambiente sem obstáculos, ou seja, não interferir diretamente, apenas acompanhar; pois entende-se que, o passar do estágio imaturo para o estágio adulto, é auto realizado pela criança. Nesse sentido, para Montessori, a pedagogia científica tem como princípio fundamental a liberdade do aluno.

Hilsdorf (1998) ainda ressalta que o educador deve introduzir a ordem e o significado nas experiências dos alunos, porque precisam destas para tornarem-se adultos. À vista disso, a escola montessoriana deve possuir um programa composto de tarefas evolutivas; um professor guiador, orientador e diretor que apresenta atividades e meios de instigar a auto formação do aluno: um método de descoberta e um método de cooperação, para formar neles a consciência social. Assim sendo, “sua pedagogia é funcional, ativa e libertária, renovada; sua didática, porém, é mais formal” (Ibidem, p. 129). Todavia,

De nada vale preparar apenas o educador; é preciso preparar também a escola. É necessário que a escola permita o livre desenvolvimento da atividade da criança para que a pedagogia científica nela possa surgir: essa é a reforma essencial. A concepção de liberdade que deve inspirar a pedagogia é universal: é a libertação da vida reprimida por infinitos obstáculos que se opõem ao seu desenvolvimento harmônico, orgânico e espiritual. Realidade de suprema importância, despercebida até o presente pela maioria dos observadores (RÖHRS, 2010, p. 86).

5. Perspectiva vitalista e mente absorvente

Aos olhos de Hilsdorf (1998), a perspectiva vitalista – a qual considera a vida da criança e seu engrandecimento como bens supremos –, retrata a criança como um todo orgânico que sabe, inconscientemente, o que lhe faz falta e, dessa forma, luta para poder alcançar seus objetivos e suas necessidades; não visando somente a posse de alimento, por exemplo, mas sim satisfazer um “impulso de desenvolvimento” (Ibidem, p. 126).

Assim, segundo Hilsdorf (1998), essas manifestações não devem ser caladas, mas sim acompanhadas, visando o crescimento saudável da criança, o qual é um processo contínuo. Como afirma Montessori:

A criança, como qualquer outro ser, luta pelo direito de viver, rebela-se contra tudo o que limite esse impulso oculto, que representa nela a voz da natureza e ao qual deve obedecer; e manifesta de maneira violenta, por meio de gritos e lágrimas, que se sente desviada de sua missão na vida (LAWRENCE, 1950, p. 388).

Para provar que a experiência infantil é totalmente diferente da adulta, Maria Montessori cria a ideia de mente absorvente. Nessa perspectiva, a criança forma sua “carne metal”, utilizando o que estiver ao seu alcance: as impressões cotidianas são absorvidas e formam-na (HILSDORF, 1998).

Ademais, Hilsdorf (1998) revela que tudo o que a criança sente, toca, escuta e vê serve como fonte de estímulo ao cérebro e é fixado, formando movimentos, novas palavras e hábitos (capacidades motoras, cognitivas e emocionais), juntamente com seu caráter e identidade. Desse modo, a criança percebe o mundo ao seu redor e passa a fazer parte íntegra dele. Por isso,

Considerando a educação como auto-educação, sua proposta pedagógica será, então, a de apenas ajudar esse desenvolvimento espontâneo dos aspectos mental, espiritual e físico da personalidade” (HILSDORF, 1998, p. 127).

6. Conclusão

Maria Montessori é uma grande mulher, notadamente à frente de seu tempo. Seu método educacional continua sendo seguido e adaptado em todo o mundo. Embora ao longo dos anos várias mudanças no método tenham sido feitas, suas origens são responsáveis por grande parte das conquistas pedagógicas que temos hoje. Seus estudos contribuem para o melhor conhecimento da criança; fornecem informações preciosas sobre capacidade motora e desenvolvimento da linguagem e do comportamento social.

Para evitar desajustamentos sociais, a escola deve proporcionar aos alunos oportunidades de desenvolvimento de padrões de comportamento socializado, integrando-os em um sistema de conhecimentos em que o professor, nessa perspectiva do método montessoriano, portanto, apresente um ambiente totalmente preparado, com objetos e materiais alcançáveis e que tenham um objetivo específico na construção da vida e dos saberes da criança; utilizando-se de técnicas lúdicas e de uma didática de acompanhamento: interferindo indiretamente na formação de crianças independentes e seguras, estimuladas pelas experiências.

Referências

ALMEIDA, Talita de. Montessori: O tempo o faz cada vez mais atual. Revista Perspectiva. Florianópolis: CED. Vol. 1, no. 2, p. 9-19, jan/jun 1984. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/download/8857/8198>. Acesso em: 30 de maio de 2019.

CASCELLA, Marco. Maria Montessori (1870-1952). Women's emancipation, pedagogy and extra verbal communication. Revista médica de Chile. Santiago. Vol. 143, no. 5, p. 658-662, maio 2015. Disponível em: <https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-98872015000500014&lng=en&nrm=iso&tlng=en>. Acesso em: 25 de maio de 2019.

FARIA, Ana Carolina Evangelista; LIMA, Ana Cristina Ferreira. Método montessoriano: a importância do ambiente e do lúdico na educação infantil. Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery. Juiz de Fora. Vol. 1, no. 12, jan/jun 2012. Disponível em: <http://re.granbery.edu.br/artigos/NDY2.pdf>. Acesso em: 28 de maio de 2019.

HILSDORF, M. Pensando a Educação nos Tempos Modernos. São Paulo: EdUSP, 1998.

LAWRENCE, E. As Origens e a Evolução da Educação Moderna. Lisboa: Ulisseia, 1950.

RÖHRS, H. Maria Montessori. Recife: Editora Massangana, 2010.