Amor - Uma Ausência e Uma Existência

De todas as questões que emergem em nossa vida o pensamento acerca do que seja o amor é um dos mais comuns e corriqueiros. Talvez pela insistente recorrência que o mesmo tem em nossos comportamentos acabamos elevando essa ideia a um patamar mais alto naquilo que tomamos como relevante, dessa forma, notoriamente, essa questão pode ser pensada de forma fragmentada e assim não podendo ser vista como realmente é.

É muito comum que vivamos sempre de maneira intensa, angariando valores precipitadamente e sem nexo algum com o que deve de certa forma ser adequadamente sabido, tornando-nos apenas seres que estão sempre em busca de algo que nos satisfaça, e com o amor não seria diferente, pois essa partícula é obviamente uma das energias vitais que completam e movem o ser humano, que aguça os prazeres, que julgam o que nos é proveitoso, que avalia as necessidades, que endeusa corpos e feições, que nos fazem iludir, que nos fazem chegar a angústia e que nos fazem existir.

Estamos tratando aqui de amor maior que meras paixões, amor que eleva o ser ás alturas, que está para completar a existência, tornando a vida um dado de seis lados que não possui um seis, e esse seis que falta é o amor, aquilo que completa a vida, que dá sentido a ela e que está acima de meros caprichos casuais e nunca é uma hipérbole na vida, deve ser medido e sentido fluentemente ao longo do tempo.

“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal. ”

F. Nietzsche

A frase de Nietzsche exemplifica bem o que se deve ser entendido sobre o amor, como o algo que nos leva a ação pensada, o intuito de nos levar a certo compromisso com aquilo que não nos é comum em nome de uma força maior, em nome de uma completude apaziguadora. É então o amor uma força que nos leva à ação, que está sempre acima de qualquer questão, o que não pode gerar a dúvida e que também se faz depois da dúvida. Seja então o amor o comprimido da vida, a pílula da inexorável verdade não corrompida, um abismo impensado que quando pensado tornar-se-á em um paraíso.

Mas, como pensar o amor em movimento de angústia? Seria então pensar um amor desmedido e que preconiza a reflexão, ou seja, aquilo que não foi pensado devidamente, ou, pensado pelas razões a que não lhe cabe. Portanto exige-se que se tenha o exercício da reflexão seguido da avaliação para se aventurar em um pensamento que corrobora com a saciedade. E, continuando essa linha, vemos o amor como produção de infelicidade, talvez, absurdamente falando, o amor seja um elemento jamais conhecido por força humana tendo em vista uma equiparação de forças de controle maior, sendo assim o amor a que nos propomos pode apenas ser uma partícula pequena de autonomia sobre o que realmente desejamos, tornando-nos mais suscetíveis ao cajado da angústia. E isso pode ser facilmente visto e aceitável tendo em vista a fragilidade do ser humano em entender-se como ser que ama, entrando em confusão sobre o que crê e aquilo que o domina, não sabendo se adequar a cada sentimento tornando o amor o sentimento de maior pungência quando desmedido e impensado.

“Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade. ”

Albert Camus

Talvez equalizamos o amor para que seja aquilo que queremos que ele seja, como o mesmo é a completude a qual precisamos é comum que cada um á de fazer dele o que quer para que se possa extrair dele tudo que pode para seu bem maior. Nessa avaliação elevamos o amor a uma ascendência de felicidade mutável, ou seja, aquilo que nos pode ser transformado em consonância com nossas vontades para subsistir em um sentimento maldoso de completude ego, assim, o amor para o existir total do ego, como energia para o ego.

Para que isso faça o devido sentido, o amor deveria ser avaliado como sentimento apenas individual, que apenas um ser possa ter o controle e que cada um tivesse sua própria intenção no amor, e isso, não é de nenhuma forma distante. Em coerente busca para a felicidade o amor é de suma importância pois ele é intitulado como aquela “completude” a qual citei, sendo assim, a felicidade não será possível sem o exercício do amor, sem a crença em alguma coisa, pois quer queira quer não o amor é uma espécie de crença, o amor é uma esperança que temos nas nossas angústias, é a vontade que nos faz mover para o lugar que queremos nos tranquilizar, e pensar nisso como apenas uma estética de caráter individual é de um poder enorme, mas ao mesmo tempo de uma insegurança tremenda, é pensar o amor como um todo exercício praticado apenas por uma pessoa, que cultiva e adorna à sua maneira.

.....................................................................................................

“O amor é gana; o amor é ganho; o amor é perda; o amor é façanha; o amor é tudo e nunca o nada; é necessário e desconhecido. ”

Leonardo Freitas

Para que se caracterize o amor como completude é necessário fazer um apontamento para o que nos falta, o amor seria aquilo que nos faria ser quem realmente somos, e, com isso em mente, apenas reflita sobre a pessoa que você acredita ser e o que falta para a mesma ser o que você realmente quer que seja, essa ausência presente pode ser considerada o amor, levando-nos a entender o amor como exercício de busca intensa pela saciedade primordial, não o reduzindo a mero adorno mas sim elevando-o a força maior que nos moverá para o caminho do bem maior que queremos para nossa existência.

............................................................................................................................................ Leonardo Freitas (30 de agosto de 2019) …