Sobre a Motivação da Vida
Para quando a certeza de que a vida for de antemão encarcerada em um vício ingênuo e perpetuador, não se destine para um longe casulo encrustado em beleza individual e carente de presença factual de corpos ou de egoísmos, envolva-se em consonância com um espírito libertador e agradável, o amor é para isso o princípio de uma amizade que finda um destino de vivências, um destino de saberes instrumentais e belos de uma verdadeira paixão.
As principais motivações da vida se chamam as paixões, mas o que seriam as paixões evidentes? Aquelas que são estritamente entrelaçadas em vivências externas. Somos corpos que necessitam de contato e mentes que necessitam de pensamentos que percorrem o alto escalão da sanidade, ultrapassando limites. Por vezes acordamos com um novo pensamento acerca de algo ou de alguém que acaba mudando alguns parâmetros de vivência como algo inexplicável, algo que não sabemos de onde surgiu, são demasiadas sugestivas para nós e incorporam nosso dia a dia. Fazemos disso o nosso motor para acordar, viver o dia e dormir afim de acordar para repetir o processo, é a paixão para viver, uma razão externa que nos faz motivar para viver a vida.
As razões externas não são completamente um mistério, nós vivemos e lidamos com elas sem nem a percebemos, porém, estão lá como algo subjetivo, entendamos. Ao acordar uma força nos é impulsionada, quase um empurrão matinal para o que se deve fazer nesse dia, e questões como o porquê fazemos tais coisas são postas em jogo, passamos a fazer um autojulgamento todos dias sobre o que é relevante para que se viva a vida em plenitude e para que a mesma não desande. Com isso vemos a reflexão como fator chave para essa motivação, não seria exatamente o que se pensa, mas apenas o fator de pensar como motivação para algo, ou seja, a reflexão é a primeira das paixões, aquela que apenas nós mesmos devemos ter o controle, aquela que deve ser a primeira e a última ação do dia.
Tendo isso como princípio base, deveremos levar em conta o que precede a reflexão, a ação gerada a partir dele, o que se é conquistado com ele.
“Nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo” F. Nietzsche.
Perfazer um caminho sobre as coisas que motivam uma vida útil não pode ser uma tarefa breve e nem tanto fácil, é comum que a mesma seja árdua e consuma bastante tempo dedicado à reflexão. Como um dos principais pensadores a que me atenho em diversos dos meus trabalhos, Friedrich Nietzsche é o que mais me convence sobre as coisas que dão sentido a uma vida plena, a uma vida de desespero, a uma vida de qualquer caráter, nele encontro as partículas que me trazem a reflexão necessária para um raciocínio mais profundo.
Na frase citada a pouco, Nietzsche explora o lado mais introspectivo do pensamento, um pensamento voltado para si mesmo, em consonância com um possível bom desenvolvimento. Para isso ele explicita a questão, e nela gera uma interrogação, de que devemos conhecer bem a nos mesmos como princípio motor da boa conduta, quase como um “conhece-te a ti mesmo” – máxima de Delfos- que acabou por ganhar várias definições ao longo do tempo. A frase citada de Nietzsche incita a uma dor no processo de se alto conhecer, e isso é explicitado ao dizer que existe um preço a se pagar para isso, mas, em questões objetivas, o que seria esse preço?
O preço de ser feliz
Aos largarmos o conforto do ambiente interno do ventre materno somos largados à vida, aos perigos da vivência e aos cuidados do medo. Com isso abre-se uma questão indispensável para o ser humano, “por quê fazer isso ou aquilo? ”, e essa questão é absurda pois a resposta pode, na maioria das vezes, ser universal, “apenas por que me faz bem”, e com isso o pensamento acaba por se tornar relativo, individual, exclusivo de cada um. Algumas vidas são baseadas em preceitos religiosos, outras em visões céticas, mas todas se voltam para o bem-estar. A felicidade religiosa te priva de certos pontos da vida em que esses se voltam contra os padrões do que se segue, ou seja, isso em termos de vida pode ser considerada uma perca da felicidade?
É muito comum que no decorrer da vida, seja por questões morais ou éticas, que proporcionamos a nosso individualismo a imposição de valores que validam nossas condutas como certas ou erradas, esses, por sua vez, são os principais fatores que moldam nossa personalidade e em como a sociedade pode nos enxergar. Essa imposição de valores é caracterizada por uma vivência em complemento com a prática da atividade de contato social, ou seja, é no reflexo da sociedade que descobrimos e tomamos para si certos valores que serão fios condutores para nossa convivência. Isso não é nenhum absurdo tendo em vista que tal afirmação é de fácil comprovação, basta inserir-se em conversas comuns para identificar os valores de cada indivíduo e de que maneira eles foram incorporados.
Essa estética de criação de valores emerge para a questão de que através desses valores que nos qualificam podemos por um determinado preço a nossa vida, e, não obstante, por um preço em nossas ações e em quais momentos agimos com a razão ou emoção. Isso torna-se complexo a partir da ideia de que pôr um preço em uma vida torna-a integrante de um “mercado” de sentimentos, onde pode-se “comprar e vender alegrias e tristezas” com determinada dificuldade tendo em vista o poder de autocrítica que o indivíduo adquiri se pondo como cidadão ativo de uma sociedade. O cerne da nossa questão pode ser esse, essa autocrítica que devemos nos fazer em sociedade para situarmos em que local estamos inseridos e quais são os valores que nos representam.
O preço de ser feliz está interligado ao valor que damos a nossa existência.
Portanto não se atenha ao fato de que sua vida tem em si um valor estipulado por você mesmo, mas, também, ao fato de que a própria sociedade te imputa um valor, pois, ela exige algo de você a partir do momento que você se torna parte integrante da massa.
Com isso você revaloriza seu “preço” para uma esfera que implique em algo sempre maior, em questões morais que te façam interligado no ambiente sociável como um ser de qualidade “x” que pode chegar a qualidade “y”, isso para exemplificar a ideia de que a sociedade sempre exige o melhor de você, ou, o que você tem de mais valioso seja bom ou ruim. Já que estamos falando de valores de um ser humano, e, ainda, para reorganizar o pensamento anterior, cabe dizer que dentre os preços que nos qualificam em vida o imposto pela sociedade nos é de grande valor, pois esse nos impõe uma pressão moral que nos é mostrada nos momentos de maior apropriação da nossa imagem, clareando, nos momentos que somos testados em ambiente público, como agimos tem mais incidência pela maneira que nos vemos pelo olhar da sociedade que diretamente pelo nosso próprio olhar, tornando-nos escravos do que diz a sociedade, e isso é um preço a se pagar em busca da felicidade.
A liberdade para ser feliz
“A espécie de felicidade de que preciso não é tanto fazer o que quero, mas não fazer o que não quero. ” Jean. J. Rousseau.
A frase de Rousseau explicita bem uma questão essencial para entendermos a busca pela felicidade em consonância com os valores de uma vida. Talvez, absurdamente falando, mais importa o que não fazemos por intuito próprio que o que fazemos com intenção imprópria, ou seja, menos se é de valor o que fazemos em juízo autônomo e por vontade própria mesmo estando relativamente errado do que o que fazemos por vontade autônoma e própria.
Essa questão nos abre espaço para transitar no âmbito moral com sutileza pois nos adequa a pensar a vida por nossos próprios olhos, em como nós mesmos nos vemos em determinado ambiente, mesmo embora a liberdade dependa estritamente dos padrões da sociedade. Para isso devemos nos voltar para uma questão mais autônoma da liberdade, daquilo que apenas nos depende para sermos felizes.
Partindo disso, pensemos a ideia maior que projeta nossa felicidade, seja ela particularmente autônoma, alavancamos essa ideia para um patamar de destaque naquilo que entendemos como primordial à existência. Feito isso o resultado é sempre o mesmo, reféns da nossa própria ideia, mas, o que se quer dizer com isso? Apenas que aquilo que projetamos como importante em nossas vidas apenas nos tornam escravos da mesma, e por decorrência traz à tona a angústia, e, para que isso não aconteça, o real motivo da nossa felicidade deve ser projetado de si para si, como uma ideia mutável, que independa da inconstância alheia, ou seja, a razão para a felicidade deve ser maleável e aleatória, nunca fixa e de fácil perda. Isso implica para uma volatilidade daquilo que nos faz feliz, isso e um fato, mas para que esse fato não seja prejudicial e questionável carece de uma alternativa, alternativa essa que é o autocontrole, se temos autocontrole sabemos o momento exato em que cada sentimento evolui e se transforma em outro, tendo isso como base é necessário se apropriar dessa instabilidade como algo construtivo sabendo que provem dela a nossa felicidade e é a partir dela que surge um novo pensamento, uma nova ideia a qual vamos nos apropriar novamente e gerar um novo motivo para buscar felicidade.
No fim das contas é tudo uma questão de busca, apenas. Sabendo-se que a felicidade ideal não se encontra é o processo que fazemos para chegar lá que conta como estimulo da alegria que produz uma partícula de felicidade. E para essa busca devemos nos sentir livres para experimentar os diversos ares de alegrias e angústias que temos a nos proporcionar, criando dessa forma uma qualidade quantitativa de sentimentos, a qual devemos recorrer a cada vivência. É aí que encaixamos a liberdade como fator de felicidade, integramos a mesma em coesão com a dualidade de aquisições comportamentais, que são elas, o que nos é externo e o que nos é interno.
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Para que se tenha a dimensão de uma motivação para a vida são necessárias visões diferentes de vivências, experimentações diversas e paixões cumulativas, que nos adequem para o mundo assim como devemos e queremos ser formados para viver.
A motivação da vida poderá ser o fim da mesma ou simplesmente o que fazemos para que ela tenha um legado em vida, fazendo assim uma ligação com o que é concreto e com o que não é sabido. A motivação da vida pode ser mesmo uma ausência de esperança ou uma exorbitante influência da mesma, mas o fator chave é para que se tenha controle do que se sabido como motivação, o que é dado para si como intuito de ação, seria então um pensar e agir sequenciado em ações meramente integradas em sistema de acontecimentos ocasionais.
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........................................... Leonardo Freitas (29 de agosto de 2019)