O velho argumento de querer o melhor para os filhos
Sempre se diz que os pais querem o melhor para os filhos, principalmente quando os nossos pais fazem coisas como nos proibir de fazer algo, tentar ditar nossos caminhos ou impor gostos. Entretanto, esse velho argumento não deve mais ser usado como uma desculpa para se intrometer na vida dos filhos, superprotegê-los e impedi-los de saber, por eles mesmos, o que é o melhor para eles. E como eles irão amadurecer quando os pais sempre lhes dizem o que fazer? Se eles querem fazer algo e ouvem que não devem porque são muito inexperientes?
Os pais precisam entender o seguinte: a vida traz dificuldades. Tentar poupar nossos filhos o tempo todo de sofrer, impedindo-os de conhecer a vida, só produzirá um sofrimento muito maior no futuro. Tanto os filhos quanto os pais sofrerão. E que filhos os pais querem gerar para o futuro? Seres fortes e capazes de cuidar de si mesmos? Ou eternas crianças que nunca poderão sair de uma redoma? O que será do mundo com pessoas que nunca passarão de crianças perdidas e inseguras em corpo de adulto? Não adianta querer poupá-los de sofrer dificuldades ou decepções, tratando-os como se eles não pudessem sofrer como qualquer outra pessoa. O mundo não os poupará. Vocês também não podem ficar a impedi-los de tentar conseguir as coisas por seus méritos, pois isso irá prejudicar o caráter deles. Eles não aprenderão a dar valor ao esforço e talvez fiquem com uma falsa ideia de superioridade, que pode ser tão prejudicial quanto a de inferioridade.
Vejamos o seguinte: precisamos conhecer a nós mesmos para sermos capazes de aprimorar nosso caráter e desenvolver nossas aptidões. E temos de tomar nossas decisões para saber qual o nosso caminho. Conhecer a nós mesmos exige que conheçamos o mundo. Então, temos de viver a vida, interagir com as pessoas, passar pelas dificuldades que envolvem viver. A superproteção e o querer determinar o caminho dos filhos só os impedirá de saber quem são, de amadurecer e aprender a se defender dos perigos. Falar que o mundo é perigoso e as pessoas não são confiáveis não pode ser mais usado como desculpa. Vejamos as crianças índias, africanas ou aborígines da Austrália. O que elas se tornariam se os pais as mantivessem presas em vez de estimulá-las a explorar a floresta? A decisão, a iniciativa, se não são qualidades inatas, devem ser estimuladas nas crianças para que aprendam a se defender e se tornem confiantes. A selva é perigosa, mas as crianças selvagens não podiam ser superprotegidas por causa disso. O melhor a fazer é ensinar nossos filhos a se defender, a ser independentes.
Um bom exemplo de como a superproteção, o não querer que o filho sofra, pode causar um sofrimento maior, está na novela Por amor. Nela, a Helena de Regina Duarte troca seu filho recém-nascido pelo filho morto de sua filha Eduarda para que ela não sofra, pois perdeu o útero e não poderá mais ter filhos. O que ela fez? Mostrou que via a filha como um ser feito de cristal, incapaz de enfrentar as dores e decepções da vida - algo pelo qual todos nós passaremos - e manipulou os destinos de todo mundo, causando sofrimento a Atílio, seu companheiro e levando a filha a viver uma mentira. Quando descobriram a farsa, o sofrimento foi muito maior. Ela não tinha o direito de querer agir como Deus, como se pudesse decidir a vida dos outros.
Superproteger os filhos é desrespeitar sua individualidade. Quantas vezes, os pais não fazem coisas como forçar os filhos a exercer profissões que eles não querem ou fazer cursos para os quais não têm a menor vocação, dizendo que querem o melhor para os filhos? Isso só os tornará infelizes. Sentirão que os pais acham que eles não são capazes de tomar decisões, que precisam que lhe digam o que fazer.
Os pais precisam entender algo: amadurecer envolve deixar os filhos andar com as pernas, sujeitando-se a cair e se machucar. Não viemos a esse mundo preparados para tudo, desconhecemos muita coisa. Então, temos de descobrir. E os pais não podem impor decisões. Seria bom que fizessem como o pai da parábola do filho pródigo, que, embora sabendo que o melhor para o filho era ficar, deixou-o ir. O filho partiu, cometeu erros, sofreu e voltou para casa mais amadurecido, pois tinha descoberto, por ele mesmo, o que era bom para ele. Se você sempre diz ao seu filho o que ele deve fazer, você devia pensar o seguinte: eu não estou adestrado um animal, estou criando um ser humano para que, um dia, ele ache seus caminhos.