O Conhecimento

As variantes de uma casualidade

Não o vejo como algo dado a nós logo ao deixarmos o ventre seguro de nossa genitora, ou nem tanto antes disso, quando ainda estamos aconchegados na placenta onde recebemos nossos nutrientes que garantem uma boa formação, seja física ou mental. Também não o vejo como uma experiência entregue ao longo dos dias, onde a labuta nos é atribuída constantemente sem alguma noção de ensino ou aprendizado, sendo então uma prática serviçal que nos instiga apenas a servir e a continuar sendo em primor, e isso portanto não é conhecimento exímio, e sim, privação da verdadeira implantação da verdadeira semente do conhecimento, o trabalho constante seria então um ato de vigor e instabilidade mental que proporciona um inculcar de tudo aquilo que nossa mente deseja e nos escraviza. Digo assim então para seu conhecimento que o exercício do corpo não nos trará o conhecimento, não o conhecimento primordial, aquele que irá transformar a vivência, social e individual.

De certa forma o conhecimento nos é entregue na diária em formato de questionamento, sobre como os homens estão desatentos e inflamados pelo ego infligido pela sociedade que os cerca. Devo então dizer que o maior empecilho para o desenvolver do conhecimento seria o convívio com uma sociedade desprovida de sabedoria, onde nela se encontram todo e qualquer tipo de prazer desmedido e descompromissado que se possa imaginar. Sendo assim, como buscaríamos o exílio intimo necessário para esse momento de busca profunda em nós mesmo que nos servirá de encaminhamento para o emergir de um conhecimento puro e qualificado? Para tal, vamos nos remeter à Nietzsche, onde, em seu texto Verdade e Mentira no Sentido Extramoral, cita:

‘’... no desvio de algum rincão do universo inundado pelo fogo de inumeráveis sistemas solares, houve uma vez um planeta no qual os animais inteligentes inventaram o conhecimento. Este foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘’história universal’’, mas foi apenas um minuto. Despois de alguns suspiros da natureza, o planeta congelou-se e os animais inteligentes tiveram de morrer. ’’

Nietzsche deseja ressaltar o aspecto ‘’lamentável, frágil e fugido, os aspectos vão e arbitrário’’ que consiste em o intelecto humano. Para Nietzsche, o intelecto humano pode ultrapassar os limites do conhecimento que remete a própria vida humana, e além disso, ainda é pretensioso ao pensar que é neste eixo que gira o mundo.

Indo mais além e citando outro filósofo, vemos em Platão um conceito de conhecimento bastante semelhante ao indicado no início deste texto, onde, para Platão, esse lugar (o conhecimento) seria a conformidade da alma, Platão pensa que é a inteligência que garante a estabilidade dos seres sensíveis... Ideia, segundo Platão, é um princípio inteligível, que não sofre geração nem corrupção, sendo, portanto, fundamento do conhecimento das coisas. Sendo assim, em Platão, vemos a idealização de uma vertente do conhecimento, seria essa a realidade das ideias, tanto explorada em suas obras.

Vimos dois autores, os quais de importância imensurável para o estudo filosófico, onde suas ideias sobre o conhecimento divergem, porém, em determinado momento se encontram. Nietzsche com sua visão de conhecimento que nos faz transportar para fora de nós mesmos, nos elevando à Ubermensch, ou seja, o além do homem, aquele que está à frente em questão de sabedoria e evolução espiritual e Platão com o empregar de seu “mundo das ideias”.

A base para uma inteligência do que é o conhecimento concerne com o ideal de busca, uma busca por tudo o que é vantajoso para nossa evolução, sendo assim, antes de sermos seres conhecedores, deveremos ser aqueles que buscam e compreendem o real valor do que lhe cabe e do que lhe satisfaz. O conhecimento então derivaria de uma série de avaliações, caprichos e contextos em que nos enquadramos diariamente, não figurados em caráter físico, mas sim em atividades estritas ao uso do pensamento e do questionamento, tornando a dúvida a principal semente para o nascer do conhecimento.

De uma vez estaria ligado a uma concessão individual a ordem de busca e de análise a qual estamos sujeitos, seria essa a primordial realidade causal do conhecimento, aquela que hora ou outra nos acomete sem pedir permissão, apenas vem e joga sua crise, a permissão para aprofundamento, nós empregamos e tomamos posse, somos os fiéis controladores de nossa dúvida, e por consequência, os únicos a nos completar com a resposta.

No conhecimento temos dois elementos básicos: o sujeito (cognoscente) e o objeto (cognoscível), o cognoscente é o indivíduo capaz de adquirir conhecimento ou o indivíduo que possui a capacidade de conhecer. O cognoscível é o que se pode conhecer.

O objeto que buscamos em nossa reflexão é o cognoscível citado anteriormente, portanto, aquilo que seria o fim de nossa busca, aquilo que ao nos darmos o prazer de adquirir conhecimento estamos a fim de encontrar, em questões menos simplistas por exemplo, o sentido da vida é uma busca que deriva do corpo do conhecimento, que depende assiduamente dele. Portanto levamo-nos a um patamar de sobriedade para partilhar de um sentimento de busca que é comum aos seres humanos, o conhecer é, assim, o intuito, a vontade predisposta e inevitável que nos persegue em vida. Com essa reflexão temos como profundeza maior a necessidade de se obter algum conhecimento, mas como esse “obter conhecimento” é inevitável de que maneira devemos proceder para conhecer o que deve ser conhecido e o que de fato conhecer para se tornar um conhecedor evidentemente?

Conhecer e conhecedor entrelaçados

Como se tem visto no decorrer da evolução humana, nós temos em nosso carácter genético a gana de conhecer, conhecer as coisas da vida, o que nos move, o que nos faz pensar de determinado modo, as questões são incontáveis. Entretanto, pode-se ter um dito conhecimento de algo que nos seja indispensável para o conviver? Sim, de fato há um conhecimento indispensável para a vida em sociedade, divido-os em três partes fundamentais, são eles:

 Conhecimento formal – Aquele que aprendemos nas instituições de ensino e nos preparam para as avaliações e processos que nos formam educacionalmente.

 Conhecimento social – Que condiz com o que aprendemos enquanto cidadão social, envolvido em determinado parâmetro social, consciência de classe e consciência de indivíduo social ativo.

 Conhecimento religioso – Esse emprega uma parte importante para o processo do conhecer, pois, relaciona os contextos históricos que envolvem os diversos parâmetros religiosos para que possamos fazer uma análise objetiva do que vem sendo apresentado a todos desde os primórdios como religião.

A partir desses destaques fundamentais começamos uma jornada de busca pelo conhecimento, que, de certa forma, será bastante árdua, porém, com resultados satisfatórios.

Conhecimento formal

A Educação como Direito Social na Constituição Federal reza no seu Art. 6º, que são direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. No Art. 205: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A Educação é direito público subjetivo, e isso quer dizer que o acesso ao ensino fundamental é obrigatório e gratuito; o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público (federal, estadual, municipal), ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.

Esse conhecimento deve ser adquirido constantemente, em um processo de ensino e aprendizagem, para que se tenha total domínio do conhecimento e a partir de aí possibilitar um repasse desse aprendizado, isso, caracteriza-se como o ensino.

Conhecimento social

É concebido como o estudo das condições sociais de produção de conhecimento. Seu enfoque abarca as relações sociais envolvidas na produção do conhecimento. O objeto desse tipo de sociologia não se confunde com os da teoria do conhecimento ou epistemologia. É a gênese do conhecimento intelectual e dos usos no ambiente social. Assim, consideram-se outros fatores determinantes da produção de conhecimento que não são os da consciência puramente teórica, mas também de elementos de natureza não teórica, provenientes da vida social e das influências e vontades a que o indivíduo está sujeito.

Jean Piaget é um dos que produziram um conteúdo interessante acerca dessa determinada forma de conhecimento. Sobre o “homem normal” Jean Piaget cita “não é social da mesma maneira aos seis meses, ou aos vinte anos de idade, e, por conseguinte, sua individualidade pode não ser da mesma qualidade, nesses dois diferentes níveis" (Piaget, 1973, p. 424). Nessa afirmação de Piaget, está explícita a presença inevitável das relações sociais interferindo no desenvolvimento humano; o termo homem social expressa a condição humana de ser que vive em sociedade e que, portanto, influencia e é influenciado pelas relações sociais.

Dessa forma é caracterizado o conhecimento social, como aquilo que adquirimos como aprendizado em sociedade, e assim somos influenciados e influenciadores desse conhecimento. Por se tratar de um conhecimento adquirido em sociedade, este pode se caracterizar também pela diversidade de saberes, pois, culturas diferentes geram cidadãos diferente e sociedades diferentes, por conseguinte, saberes diferentes.

Conhecimento religioso

Este pode ser o conhecimento mais problemático que vamos interpelar, pois se trata de mitologias, crenças e diversas dúvidas. Mas como, apesar disso, pode-se ter um conhecimento religioso objetivo?

Deve-se atentar para o fator claro da diversidade, este que nos é apresentado comumente em nosso ambiente familiar e consequentemente com o contato com a sociedade. Em casa adquirimos um conhecimento religioso advindo dos nossos responsáveis, em grande parcela um conhecimento não objetivo e aprofundado sobre determinada religião, e com o contato social nos é apresentada a diversidade de religiões, e também o ateísmo, ambos conhecimentos necessários para a formação do ser e do entendimento do mesmo.

Concluo aqui, então, este breve contato dialógico, atentando para que haja um aprofundamento maior em todas as questões aqui citadas. Nas obras filosóficas de Nietzsche e Platão encontramos um elixir para a vida em consonância com o espírito, um verdadeiro encontro com o “eu” profundo que é o principal promissor do alavancar do conhecimento, já na obra de Piaget pede-se cuidado e atenção, o que é sempre indispensável, a importância de seus estudos é imprescindível e deve ser objeto de profundo estudo.

O conhecimento é a base para o conviver, é a fórmula para a vida em sociedade e também individualmente, exige-se muito de quem o busca e precisa ser minuciosamente estudado.