"Quanto de literatura há em mim?" - Revista Letrilha (2018)
Um amigo sempre presente à cabeceira da cama...
Lembro-me de quando tinha cinco anos de idade, e ainda não sabia ler, mas já sentia uma atração pelos livros, os sinais gráficos que eu não entendia pareciam conter histórias que eu gostava de inventar, depois que curiosa, abria as portas da estante de livros, que ficava na sala da casa dos meus tio e tia.
Cada livro da coleção de histórias infantis tinha uma cor de capa diferente. Eu sentava em uma poltrona de veludo vermelho, perto da janela e ficava um bom tempo manuseando os livros, respirando cada detalhe da capa, das páginas, como se decifrasse enigmas, e as poucas imagens em preto e branco inspiravam-me leituras das narrativas, mesmo que eu não soubesse ler.
À medida que fui crescendo, esse envolvimento com os livros, com a arte de ler e escrever também cresceu, aprendi que Literatura é uma palavra com origem no termo em latim “littera”, que significa letra.
E, respondendo a pergunta: “Quanto de literatura que há em mim?”, permanece em meu e coração e olhar as lembranças de alguns livros que li e algumas palavras têm fortes significados, entre elas, "Parêntesis”, referindo-se a um dos contos de Machado de Assis “Uns Braços” (1895). Sempre que leio a palavra parêntesis, ou escrevo os sinais, lembro-me desse belíssimo conto: “(...) Os braços de D. Severina fechavam-lhe um parêntesis no meio do longo e fastidioso período da vida que levava...”. Quantas pessoas representam “parêntesis” em nossas vidas? Esses amigos especiais representam um porto seguro que nos amparam e nos fazem companhia, deixando os dias mais bonitos e repletos de boas energias.
A literatura tem esse encanto, de nos transportar a lugares diferentes, conhecer personagens, sentir aromas, cores e, mesmo quando fechamos um livro, as portas da imaginação continuam abertas... No conto “Uns Braços” a palavra “parêntesis” foi um exemplo dessa interação que a literatura nos proporciona, pode ser também uma frase, um poema, uma citação que mexe com o nosso interior, que nos faz refletir.
Sobre reflexão, encontro sempre que releio um dos poemas da poetisa Helena Kolody (1912 a 2004):
“Luz interior
O brilho da lâmpada
no interior da morada,
empalidece as estrelas.”
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A beleza desse poema emocionou-me desde a primeira vez que li. Não conheci Helena Kolody, pessoalmente, mas a delicadeza e sabedoria de seus poemas estão presentes em meu dia a dia. Reler um livro é como rever antigos amigos... Hoje, aos 55 anos de idade, posso dizer o quanto de literatura que há em mim: sinto que diversos livros vivem nas gavetas da minha escrivaninha imaginária, mas há espaço para muitas leituras, descobertas e aprendizados.
E assim, a literatura segue sua jornada, desenhando mosaicos e sonhos que cintilam no olhar e nas pontas dos dedos...
"Para viajar basta existir.” Fernando Pessoa.
Vanice Zimerman, IWA
Página: 18
https://issuu.com/revistaletrilha/docs/letrilha_nr_10_abr-maio-jun_2018-il
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Agradecemos às leituras.