EUCALIPTOS E JEQUITIBÁS
 
Reporto-me a uma matéria publicada pelo Chico Ornelas no Diàrio de Mogi do dia 9 de junho de 2019, falando do meu velho amigo e mestre Percy Benedicto de Siqueira. Percy foi um grande e verdadeiro educador. Como Lauro de Oliveira Lima disse, a educação moderna é uma floresta onde derrubam-se velhas árvores seculares, que nasceram sozinhas, por milagre da natureza, e no seu lugar replanta-se a floresta com árvores de corte, como são os pinheiros e os eucaliptos. Desaparecem os jequitibás, as perobas, os mognos e outras espécies nobres. É uma pena. A morte abate nossas árvores mais nobres e são poucas as que nascem com a mesma virtude para substituí-las. Até porque estas não podem ser plantadas em série nem são passíveis de ser cultivadas artificialmente. Elas precisam de habitat peculiar para nascer e desenvolver suas vocações. Não é na floresta petrificada da produção em massa e do lucro a todo custo que elas vicejam e crescem. Educadores são como as árvores nobres da floresta, verdadeiras entidades especiais que possuem uma alma, uma tradição, uma história, que se liga ao ambiente em que vivem, e influem, de forma decisiva, nele. Por isso é que muitos povos que vivem mais próximos à natureza cultuam certas árvores, vendo nelas um “espírito protetor”, que agasalham atributos da divindade e nascem e crescem exatamente naquele lugar e para proteger aquele ambiente. 
Que me perdoe quem não entender a analogia, mas é assim que eu vejo o educador. Sua importância não está no conjunto de informações que ele reúne para passar aos seus alunos, mas na relação de simbiose que ele mantém com eles, que verdade seja dita, são discípulos mesmos e não simplesmente alunos. Esse profissional nada tem a ver com o professor das nossas modernas escolas e universidades, que não por culpa deles, é bom que se diga, mas por força de um sistema que transformou o conceito de educação em créditos que o aluno tem que obter numa certa disciplina, hoje só se preocupam em cumprir um programa sem alma, cujo conteúdo pode ser obtido, com maior prazer, na Internet ou numa revista de variedades. Foram transformados em árvores de corte, que quando são sustituidos nas salas de aula (e isso acontece liminarmente, todo ano), não consequem deixar sequer a lembrança de seus nomes.  Se entendermos bem essa analogia, não será difícil entender também porque hoje nossos alunos estão tão indisciplinados, desmotivados e rudes, e os nossos professores tão infelizes e desanimados com suas profissões. 
Da minha parte, tenho saudades da Geraldina Porto Witter,, da Clara Coelho, do Ari Silva, da Aracy Steiner, do Ephaphas Ennes, da Terezinha Langlada, do Dalmo Faria, Mara Brasil e outros verdadeiros educadores que cruzaram o meu caminho.  Em nome deles saúdo todos os verdadeiros educadores do mundo, profissionais ou não, pois educador não é profissão, é vocação, missão, apostolado. Da mesma forma que hoje terçamos armas para conservar as árvores nobres, seria de bom alvitre preservar os verdadeiros educadores. Esses são, como dizia Lauro de Oliveira Lima, os jequitibás que nunca poderão ser substituídos por eucaliptos.