PATERNIDADE MODERNA

É domingo das mães, mas o dos pais também não está longe. Só a uma jarda no “Kronos”. A deferência vale da mesma forma, pois os papéis se identificam.

Seria bom, então, refletir um pouco sobre a paternidade na sociedade atual e virtual.

Diz um ditado popular que para se sentir realizado na vida um homem deve gerar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Os dois últimos objetivos são perfeitamente atingíveis. Eu mesmo já plantei dois ipês, um roxo e um amarelo, quando tinha doze anos. Hoje são árvores frondosas e fortes.

Escrever livro é fácil, partindo da premissa de que a história de cada pessoa é única, inigualável. Cada biografia é um livro em potencial. Agora mesmo, escrevendo este artigo parto para uma jornada que poderá virar um livro. É só questão de tempo. E bem pouco tempo.

Agora, criar um filho é coisa séria. Só gerar não é paternidade. Vive-se um filho pela vida inteira. A paternidade é divina porque é entrega permanente. Cuidado frequente. Amizade mesmo quando ausente.

Cada filho é uma viagem. Alguns fazem uma, outros duas ou três. Há grandes viajantes. Chegam a fazer sete viagens. É mais raro, mas alguns pais dobram esta conta. Cada viagem tem um matiz diferente, um colorido próprio. Os pais de sete guardam um arco-íris em seu lar. Aqueles que dobram esta conta escrevem a saga das grandes famílias. Lindo exemplo em nossa região: a Família Hess de Souza.

Não é bom ficar com proles monocromáticas. São muito dadas ao egoísmo. Eu mesmo vivo uma situação destas. É preciso pedir sabedoria para criá-las.

Pai moderno vive tanto de aventura quanto de fé. Tira tempo para ler Fernando Pessoa, Drummond de Andrade e Saint Exupéry, mas para os filhos só vai contar “causos” do Pedro Malasartes.

Pai moderno acha tempo a qualquer hora do dia para namorar a mãe de seus filhos. Só não sussurra poesia quando é separado pelas sinaleiras desumanas. A esposa passa no vermelho, ele espera pelo verde.

Pai moderno encara as fortalezas inexpugnáveis dos muros da escola, das linhas invisíveis do Facebook e do Messenger. Faz o exercício criativo da supervisão.

Pai moderno faz alianças com os profissionais da educação. Propõe sugestões na vida escolar. Dá moral para o professor e não a tira, pois é o carisma do Mestre que vai manter seu filho em sala de aula e não na porta da escola, esperando a adoção do traficante.

Pais modernos fazem o melhor para que os filhos cheguem o mais rápido possível à consciência de ter um propósito de vida nobre, substancial e não superficial. Vigiam seus próprios comportamentos e se reavaliam de tempos em tempos. Entendem que os filhos são sua “cara emocional e espiritual”. A semelhança física é somente a parte visível do iceberg.

Pais que esperam que os filhos façam diferença no mundo, se esmeram para ser bonitos por dentro, pois os filhos não serão nem mais nem menos do que eles.

E, finalmente, paternidade é ato de fé, confiança. Os filhos são somente um empréstimo, que pode durar muito ou pouco. Ninguém sabe!

E, fé, gente amiga, é algo não conceitual. É, como diz um poeta hindu: “Um pássaro que canta na escuridão”.

Texto publicado no FOLHA DE BLUMENAU em agosto de 2011.